01/12/2024 - 22:00
A semana foi agitada para o deputado federal José Guimarães (PT-CE), líder do governo Lula (PT) na Câmara Durante o período, Guimarães recebeu uma constante movimentação de assessores, políticos e aliados em seu gabinete, localizado em uma área discreta no Anexo II do Salão Verde.
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E não era para menos. Além de um arqui-inimigo – o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – ter sido indiciado no inquérito da trama do golpe, o líder precisou negociar a PEC dos Gastos, anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na última quarta-feira, 27.
Ao receber nossa equipe, não foi diferente. A correria faz parte da rotina de José Guimarães, seja para escapar de perguntas indiscretas da imprensa ou para lidar com o dia a dia agitado, marcado por telefonemas incessantes.
Sentado à sua mesa, ele atende o celular. Sai da sala para concluir a ligação. Quando retorna, avisa que precisamos ser rápidos, pois outras reuniões estão na agenda. A rotina apertada reflete o momento de grandes anúncios do governo.
Guimarães enfrentou – e ainda enfrenta – críticas de colegas em relação à articulação política. No início do terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o cearense foi alvo de desconfianças, intensificadas pelos problemas na articulação política conduzida por Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais.
Essa desconfiança, no entanto, parece ter sido superada – pelo menos na visão de Guimarães.
“Nem tudo foi céu de brigadeiro, evidentemente. Nós tivemos um momento de muita tensão aqui dentro, de muita divergência, de muito acirramento. Mas nessas horas sempre tem que prevalecer a humildade e o diálogo. Foi isso que eu fiz nesses dois anos”, afirma.
“Cada um que assume o comando de uma casa como a Câmara tem o seu estilo. Eu tenho o meu, o ministro Padilha tem o dele, o Rui Costa tem o dele, o Haddad tem o dele. A nossa expectativa é que cada vez mais a governabilidade se estabeleça com maior força, com maior solidez, com maior parceria”, completa.
Além de consolidar sua liderança junto ao Planalto, Guimarães se aproximou estrategicamente de Arthur Lira (Progressistas-AL) para avançar nas pautas de interesse do PT. Com o fim do mandato de Lira, o petista terá que construir uma nova relação com Hugo Motta (Republicanos-PB), favorito para assumir o comando da Casa em fevereiro do próximo ano.
Guimarães acredita que há boas perspectivas de governabilidade para Lula com Motta à frente da Câmara, mesmo sendo de outro partido. Quando questionado sobre uma possível candidatura do PT à presidência da Casa, o cearense relembrou 2015, quando Arlindo Chinaglia (PT-SP) foi derrotado por Eduardo Cunha, então no MDB-RJ. Ele considera que essa decisão custou caro ao partido e culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
“O PT pagou caro na época da Dilma porque se inventou uma candidatura para derrotar Eduardo Cunha. Aquilo teve consequências grandiosas para o processo de afastamento que houve entre o governo e o Congresso, especialmente a Câmara dos Deputados”, disse.
“Jamais iremos lançar uma candidatura própria para ser derrotada. Você tem que partir de uma realidade fática, que é o resultado das eleições. A Câmara, a maioria dela, é conservadora. O eleitor escolheu os parlamentares, uns 513. O PT elegeu 79 deputados e deputadas. O PL elegeu 99, hoje está com 90. Portanto, nós não tínhamos força para inventar uma candidatura como fizemos no passado”, completa.
Apesar do prestígio dentro do partido, Guimarães não é o preferido de Lula para a sucessão do comando do PT nas eleições internas previstas para o próximo ano. Enquanto a atual presidente do partido, Gleisi Hoffmann (PR), apoia o nome de Guimarães, o presidente e seus aliados mais próximos, como José Dirceu, preferem o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, para liderar a legenda.
Guimarães acredita que o partido precisa retomar o diálogo com suas bases e modernizar sua comunicação, que ele considera obsoleta.
“O PT tem que se reconectar com a sua base e com o país real. O jeito de fazer isso é melhorando, enfrentando o advento da comunicação, que hoje é muito grave. Nós estamos ainda no sistema analógico. Todo mundo sabe disso e nós temos que melhorar bastante isso”, afirma.