Profissionais responsáveis por discursos, estratégias de debate e propagandas nas eleições, os marqueteiros políticos se reuniram em São Paulo para o seminário do Camp (Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político), onde compartilharam da avaliação de analistas políticos de que a sociedade caminhou para a direita — o que deve influenciar suas estratégias para os próximos pleitos.

Os profissionais ainda avaliaram que as disputas políticas precisam de mais tempo e devem se mobilizar pela redução da violência política. O site IstoÉ acompanhou os painéis do evento e entrevistou marqueteiros vitoriosos nas urnas para entender os diagnósticos de quem está por trás das campanhas.

+O abraço dos marqueteiros de Nunes e Boulos

As tendências do eleitorado

Marqueteiro do prefeito Sebastião Melo (MDB), reeleito em Porto Alegre, Cleber Benvegnú afirmou que a predominância da centro-direita nas eleições municipais se deveu “mais a votos de conteúdo do que de militância” e alertou as campanhas a “não estigmatizarem o eleitor de direita como um louco bolsonarista”.

“O eleitor é muito mais racional do que nós [responsáveis pela campanha] em muitos casos, porque faz uma análise prática de governança para votar”, disse Benvegnú.

Derrotado com Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo, Lula Guimarães acrescentou a essa leitura o que chamou de falta de compreensão dos eleitores do “papel e relevância do Estado” e citou como contrapeso a Enel, empresa responsável pela distribuição de energia da capital paulista, que acumula falhas na prestação do serviço.

Renato Dorgan, cientista político e presidente do instituto Travessia, especializado em pesquisas qualitativas, disse que as campanhas de esquerda têm enfrentado dificuldades para reconquistar as classes C e D — historicamente associadas à preferência pelo PT — porque promoveram uma elitização do discurso.

“É um campo que discute professores, enquanto o eleitor está preocupado com que as escolas tenham boa instalação, merendas e uniforme em dia. Exalta o sistema SUS e o transporte público, enquanto o eleitor passa semanas na fila para um exame e trabalha para ter um veículo próprio”, afirmou.

Na capital paulista, por exemplo, Pablo Marçal (PRTB) foi derrotado ainda no primeiro turno, mas liderou a votação em regiões mais pobres com um discurso favorável ao empreendedorismo. Usada como exemplo para outros candidatos, a estratégia do ex-coach foi discutida pelos marqueteiros e Guimarães apostou que ele não participará de disputas nos próximos anos. “Provável que fique inelegível”, disse.

Paulo de Tarso e Cacá Colonnese, marqueteiros políticos experientes | Divulgação/Camp
Paulo de Tarso e Cacá Colonnese, marqueteiros políticos experientes | Divulgação/Camp

As práticas de quem faz as campanhas

Responsáveis pela estratégia de comunicação dos políticos, os marqueteiros lamentaram episódios agressivos registrados em discursos e debates e associaram essa incidência ao aumento da violência política — de acordo com o Giel (Grupo de Investigação Eleitoral) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), 76 homicídios com motivação política foram registrados em 2024.

Abel Lumer, que já venceu eleições na baixada fluminense, disse que as próprias campanhas devem assumir um papel para pacificar o ambiente eleitoral. “O marketing ainda é seletivo para condenar a desinformação, usa discursos agressivos e precisa se opor mais claramente boatos, mesmo quando eles favorecem o candidato para quem fazemos campanha”, disse.

Criador da expressão “Lula Lá”, Paulo de Tarso falou como representante da classe ao defender o aumento das campanhas eleitorais para 60 dias e do horário eleitoral gratuito, dos 30 atuais para 60 minutos.

As reduções de ambas as coisas aconteceram na reforma eleitoral de 2015, a mesma em que o fundo eleitoral foi criado para financiar as campanhas com dinheiro público, substituindo as doações empresarias. “Não deu certo”, disse o experiente marqueteiro.

Em consenso, os profissionais que participaram do painel consideram que o objetivo declarado das restrições — baratear as campanhas — não foi cumprido. Neste ano, a verba pública distribuída para os partidos pedirem votos foi de R$ 4,9 bilhões.