28/11/2024 - 11:44
Presente na vida pública desde a década de 1990, quando começou a trabalhar como modelo, Ana Hickmann garante ser um livro aberto. Em entrevista ao IstoÉ Gente Como a Gente — projeto do site IstoÉ que aborda um lado espontâneo de personalidades brasileiras —, a modelo, empresária e apresentadora enfatiza: “Tudo aquilo que eu acho que é possível de ser publicado eu já coloquei ou nas redes sociais, ou no YouTube ou já falei em alguma entrevista, porque eu nunca tive vergonha das coisas que eu tive que passar, enfrentar, ou o que eu vivi”.
Durante bate-papo bem humorado, Ana explicou que nunca teve o sonho de ser modelo, mas sim de conquistar a independência financeira. Anos depois, no entanto, a gaúcha de Santa Cruz do Sul já morava nos Estados Unidos, modelava para a emblemática Victoria’s Secret e emplacava posições em listas de mulheres mais sexy e mais bonitas do mundo.
A decisão de abandonar a carreira nos Estados Unidos aconteceu em meados de 2005, quando Ana já trabalhava na Record TV. Após um ano, se tornou quase impossível dividir o tempo entre ser apresentadora no Brasil e modelo em Nova York, e ela optou pela profissão que a permitiria ter uma carreira mais longeva. E assim foi: em 2024, Ana completa 20 anos de televisão.
A vida amorosa da apresentadora também foi tema de conversa, e Ana não poupou elogios ao amado Edu Guedes. “Eu não pude nunca imaginar que o que está acontecendo hoje comigo seria possível. Hoje posso dizer que realmente eu sei o que significa a palavra amor. Amor de verdade!”
Acompanhe a entrevista:
IstoÉ Gente: Como foi sair de casa ainda na adolescência para se tornar modelo?
Ana Hickmann: Quando vim para São Paulo e comecei a modelar, eu tinha 15 anos de idade. Mas, por incrível que pareça, eu não tinha o sonho de ser modelo, foi uma oportunidade que aconteceu na minha vida. Mas tinha uma coisa que eu tinha certeza dentro de mim, que era uma necessidade e um desejo de futuro, de ser independente financeiramente. Eu queria ajudar em casa, pagar as contas, trabalhar.
Como filha mais velha, me sentia na responsabilidade de ter que ajudar em casa, só que minha mãe era muito cuidadosa com a gente. Ela falava que, em casa, a criança poderia ajudar com as tarefas domésticas, mas a responsabilidade principal eram os estudos. Mas eu sempre tive uma inquietude dentro de mim, sempre fui buscando as coisas. Aos 15 anos, comecei a participar de alguns concursos de beleza, porque as minhas amigas e colegas do colégio falavam que eu era bonita e seria miss. E dali rolou a chance de vir para São Paulo para conhecer uma agência.
Nessa viagem, eu tive o convite para assinar um contrato com o valor mensal. Liguei para casa e falei: ‘Mãe, pronto, resolvi os nossos problemas, vou trabalhar e vou pagar as contas’. E foi assim que tudo começou. Então, quem me incentivou primeiro foi o desejo de fazer algo para poder ajudar em casa, e depois quem me apoiou com a minha decisão maluca foi a minha mãe.
Nos anos 2000, estando em várias listas das mulheres mais sensuais e mais bonitas do mundo, você sofria com assédio?
AH: Não, assédio não. Eu, graças a Deus, tive sorte. Sorte pelas pessoas que me cercavam, pela agência, pelo meu booker, pelos colegas de trabalho. Não rolava esse tipo de assédio como eu já ouvi de tantos relatos. A questão de fazer parte dessas listas, no meu ponto de vista, era muito importante enquanto profissional.
Na época das passarelas, você já sofreu com rivalidade entre modelos?
AH: Eu acho que a rivalidade acontece mais nos dias de hoje do que antigamente. Todo mundo compete, isso é fato, porque todo mundo quer aquele trabalho e muitas vezes o número de vagas é extremamente limitado. Você tem uma capa de revista para fazer, você tem um rosto para ser daquele cosmético ou perfume. No desfile, 20, às vezes 30 nomes são escolhidos e muitas vezes todo mundo já sabe quais serão, só dois ou três novos personagens vão fazer parte daquele casting, daquele elenco.
Então a competição era pelo trabalho, mas nunca pessoal. E quando nós, brasileiras, nos encontrávamos em castings e em filas que eram intermináveis, a gente se ajudava muito, muito mesmo. Uma protegia a outra, porque aí sim a competição era grande, principalmente com meninas de outras nacionalidades. Nos dias de hoje, eu percebo que essa rivalidade ainda é um pouco maior.
Para se manter sempre magra, você já teve uma relação problemática com a comida?
AH: Nunca tive uma relação problemática com a comida, mas a cobrança de estar magra, sim. E faz parte do pacote. A partir do momento que eu decidi ser modelo, eu sabia que existiam regras para poder fazer parte daquilo. Porque mesmo eu tendo mais de 1m80cm, eu precisava ter o quadril de uma menina de 1m75cm.
Eu ia para a academia todos os dias. Ao invés de pegar ônibus ou metrô, eu andava para todos os lados. Primeiro por questões financeiras, que eu tinha que economizar. E depois, porque já que eu tenho que estar magra, qual é o melhor jeito? Andando, gastando calorias.
A gente buscava formas de se manter magra, sim. Fiz algumas loucuras? Com certeza. Quem nunca? Quem nunca tentou? Ainda mais você, menina, sem experiência alguma, e muitas vezes sem acompanhamento. Mas eu, graças a Deus, nunca tive problema com relação à comida. Pelo contrário: eu sempre gostei de comer. Até hoje eu ainda adoro, uma das coisas mais gostosas da vida é poder comer bem.
Mas ali eu sabia que era parte do pacote. Era legal? Não, não era. Ser cobrada, e principalmente chegar num cast e a pessoa olhar você, já muito magra, e falar: ‘Dois centímetros a mais no quadril. Tá gorda, não vai trabalhar’. Era muito difícil se manter bem equilibrada, tanto na parte emocional, quanto no trabalho e com tudo.
Fazer a transição de modelo para apresentadora foi um desafio para você?
AH: A minha vida sempre foi feita de desafios. Eu já pensei em desistir de ser modelo, porque é uma profissão que você não sabe se no final do mês você vai ter dinheiro para pagar a sua conta do aluguel. Tem meses muito bons e meses que são péssimos. E aí aconteciam momentos em que você passava entre 3, 4, 5 meses sem trabalhar e a grana ia ficando curta.
Mas enquanto comunicadora e apresentadora, não, pelo contrário. Foi muito difícil quando eu comecei, pelas cobranças, mas eu já sabia que seria assim. Quando eu entrei na televisão, foi uma decisão minha, porque eu me preocupava já com o tempo de vida do meu trabalho como modelo. Eu sabia que ia acabar muito cedo, e eu queria algo que fosse mais longevo, que eu pudesse pensar em um futuro. Então eu enxergava a televisão como uma possibilidade de carreira longeva, ainda não sabia se seria como comunicadora ou como atriz.
Quando eu ia começar aulas de teatro foi quando eu vim para o Brasil, para uma São Paulo Fashion Week. Era o primeiro ano que eu estava assinando uma coleção junto com o Amir Slama e fomos capas de seis, sete jornais no dia seguinte ao desfile. Por conta disso, recebi uma ligação do Paulo Henrique Amorim me chamando para uma conversa e me contando sobre o projeto do programa Tudo a Ver. Ele tinha espaço para uma colunista de moda falar a respeito e trazer moda popular. E foi onde deu aquele estalo. Falei: ‘Aqui eu posso experimentar. Se der certo, eu fico. Se não, eu volto de onde eu saí’.
Não fechei as portas em Nova York. Isso foi no ano de 2004. E aí eu fiquei nessa ponte aérea São Paulo-Nova York durante um ano todinho, quase fiquei doida. Tinha momentos que eu trabalhava durante o dia lá, pegava um voo à noite, chegava aqui, gravava, entrava no ao vivo e à noite voltava.
O Paulo um dia olhou para mim e falou assim: ‘Menina, você vai ter que escolher. Ou lá ou cá. Não dá para fazer as duas coisas’. E aí foi o dia que eu falei: ‘Quer saber? Vou fechar as portas e vou embora’. Me condenaram muito por isso, mas eu falei: ‘Quero sair daqui no auge, não quando eu estiver enterrada. Eu não quero que aconteça comigo como aconteceu com várias meninas’. A partir do momento que o mercado decide que você está velha, você não serve mais e te jogam fora. Isso eu não queria que acontecesse comigo.
Escolhi vir pro Brasil e caí de cabeça na televisão. E junto com isso, dei continuidade a um outro projeto que era a minha marca, que eu comecei em 2002.
Por que você negou o convite do Jayme Monjardim para ser atriz em 2004?
AH: As propostas aconteceram na mesma semana, do mesmo jeito. Uma do Jayme [para a novela ‘América’], outra do Paulo. Por incrível que pareça, alguma coisa dentro de mim falou que eu me encontraria como apresentadora, e ainda bem que eu tomei essa decisão. Com quem eu ia contracenar, gente, com 1m85? A comunicação era algo que realmente era parte de mim. Como atriz, pode ser que tivesse dado certo, mas como comunicadora, sem sombra de dúvidas, estava escrito que era meu espaço, onde eu deveria estar.
Se você fosse chamada para atuar hoje, iria?
AH: Não, eu não iria porque… Ai, por tantos motivos! Eu acho que eu não teria a sabedoria e a capacidade para interpretar alguém que não seja eu mesma, me comunicar sendo um outro personagem. Eu amo televisão, eu amo assistir filmes, adoro séries, e acho incrível o trabalho dos atores. Mas eu, Ana, não teria essa capacidade, eu acho que eu não teria esse dom, esse talento. Eu sou muito mais de conversar, entrevistar, eu amo conhecer as pessoas. Eu adoro tirar das pessoas aquilo que elas ainda não contaram.
Então, se eu tivesse o convite para atuar, teria que ser algo muito pontual, e provavelmente, mesmo assim, ainda pensaria a respeito. Por exemplo, eu não teria capacidade de dar um beijo técnico.
Você se arrependeu de ter se casado aos 17 anos?
AH: Não, eu não me arrependi. Eu acho que eu queria ter a maturidade que eu tenho hoje para entender algumas coisas que aconteceram na minha vida. Eu posso dizer que eu faço parte de uma estatística. O que aconteceu com a minha mãe, infelizmente, também aconteceu comigo.
Às vezes eu paro para pensar e falo assim: ‘Por quê?’ Eu não vou ter essa resposta nunca. Mas acho que aquilo que eu vivi lá atrás, como menina, as decisões que eu tive que tomar, muito jovem, não foram erradas, porque eu queria dar continuidade à minha história também. Eu queria me libertar de algo. Não sabia que estava me prendendo em outra coisa, mas eu escolhi. E eu era uma menina apaixonada.
Por esse ponto de vista, eu não me condeno e nem digo que eu errei. Mas eu não me arrependo, não.
Você acredita que a relação conturbada de seus pais durante sua infância moldou sua forma de se relacionar?
AH: Eu não posso afirmar se moldou ou não. Uma coisa que eu sempre disse para mim mesma é que eu não ia passar pelo que minha mãe passou. Ironia, né? Algumas coisas são irônicas. Mas ao mesmo tempo que eu vi a minha mãe passar por muitas coisas, quando aconteceu comigo, eu consegui enfrentar de forma diferente.
E isso eu posso dizer que até ela mesma, com medo de muitas coisas, falou assim: ‘Minha filha, não faça isso’. E aí teve um dia que eu tive que olhar para ela e falar assim: ‘Mãe, eu não posso errar como a senhora errou. A gente fez algumas coisas iguais, mas tem coisas que se eu não mudar, eu só vou dar continuidade, eu não quero mais isso’. Algumas coisas foram iguais, mas outras eu posso dizer que o final da história foi diferente.
Como estão os preparativos para o casamento com Edu Guedes?
AH: Eu não pude nunca imaginar que o que está acontecendo hoje comigo seria possível. Hoje posso dizer que realmente eu sei o que significa a palavra amor. Amor de verdade. Amor que você encontra com uma pessoa que compartilha as coisas com você, é capaz de deixar de lado muitas coisas pessoais, mesmo com tão pouco tempo de relacionamento, para poder estar ali por você, e não você o tempo todo por todos.
Quando o Edu me pediu em casamento, a ideia, a vontade, era que acontecesse tudo muito rápido, e quase foi. Mas aí a gente parou para pensar um pouco e falou assim: ‘Por que a gente está correndo?’ Eu tenho essa vontade, eu tenho esse desejo, é a mesma coisa do lado dele, mas a gente não quer que isso aconteça de qualquer jeito. A gente não quer que aconteça atropelado. Então a gente quer se dar ao tempo de viver cada detalhe.
Nós tínhamos marcado uma data, mas acabamos alterando e não fixamos uma nova data. E aí eu explico o porquê. Ninguém está enrolando ninguém, mas o lugar onde o casamento vai acontecer ainda não está pronto. Nós estamos restaurando um lugar que escolhemos juntos, e vai acontecer para o ano que vem. Só ainda não sei exatamente a data, porque tudo depende de obra.
Mas está sendo uma delícia, a gente está curtindo cada detalhe, cada minuto. Eu falei para ele: ‘Eu quero ter tudo aquilo que eu sempre sonhei’. E é engraçado porque eu hoje eu estou vivendo um grande amor, e um amor com um grande amigo. Uma pessoa que jamais eu poderia ter imaginado que isso fosse possível acontecer.
Vocês pretendem ter mais filhos?
AH: Já falamos a respeito. Eu não sou mais uma menina, então não posso criar falsas expectativas. A mulher tem a questão do tempo biológico do corpo, então existem coisas que eu preciso entender se o meu corpo vai permitir ou não, se Papai do Céu vai me dar esse presente ou não. Se acontecer, a gente vai ficar muito feliz. Mas se também não acontecer, está tudo bem, porque eu tenho um menino maravilhoso. O Alezinho vai completar 11 anos e é meu melhor amigo, meu companheiro de viagem. É quem me dá força todos os dias para acordar cedo, fazer o que eu preciso fazer, enfrentar todos os obstáculos e dificuldades.
E o Edu também, por sua vez, é pai de uma menina mulher muito incrível. De uma inteligência, uma maturidade excepcional. Foi a primeira a perguntar para mim: ‘Tia Ana, você vai namorar com o meu pai?’ Ela foi muito fofa, me apoiou desde o princípio, e para a gente era muito importante saber que os nossos filhos estavam de acordo com a nossa relação e que a partir dali a gente realmente poderia começar uma nova família. E foi o que a gente fez, estamos construindo uma família. Mas se vier um presente a mais, não posso dizer que vai ser ruim.
Longe das câmeras, quem é a Ana Hickmann?
AH: Eu sou uma mulher como qualquer outra. Sou dona de casa, gosto de cuidar da minha casa. Amo os meus bichos, tenho vários. Eles estão sempre junto comigo, e quem estiver do meu lado tem que aceitar dessa forma. E sou uma pessoa muito simples de hábitos.
Você já se sentiu incomodada pela fama e desejou viver no anonimato?
AH: Eu tenho uma vida normal. A vida de todo mundo é normal, até porque a gente faz aquilo que a gente escolheu fazer. Tem ônus e bônus, com certeza, mas eu lido muito bem com isso. A abordagem das pessoas faz parte do pacote, e ainda bem que isso existe. Porque se não existisse, se eu não fosse abordada, se as pessoas não pedissem para tirar foto, se eu não virasse notícia, significaria que o meu trabalho está sendo feito de forma errada. A minha vida, a minha presença, enquanto apresentadora ou celebridade, seria irrelevante. Aí sim eu deveria ficar incomodada e mudar de profissão.
Sei que às vezes é complicado para quem está do nosso lado. Meu filho, minha enteada, minha família, nem sempre essas pessoas querem aparecer.
Como você lida com memes que são feitos sobre você, como o da sua sala de estar?
AH: Foi em 2017 essa história da sala da Ana Hickmann. Quando eu escutei a primeira vez, primeiro fiquei chocada. Falei: ‘Como assim, gente? Minha sala nem é tão… Não, ela é grande’. Aí eu parei e pensei.
Na minha sala eu já fiz um bocado de coisas. Já fiz festa de ano novo, batizado do meu filho, uma série de celebrações, então eu montei e desmontei aquilo de várias formas. Mas eu nunca tinha enxergado dessa forma. No começo foi um choque, mas depois eu estava me divertindo junto com todo mundo, tanto que eu entrei na brincadeira e fui usando como referência para outras coisas.
Existe algo sobre você que as pessoas não saibam?
AH: Eu nunca tive vergonha das coisas pelas quais eu tive que passar ou o que eu vivi. Faz parte da minha história. O que eu nunca quis, e sempre deixei claro para todo mundo, é usar o meu passado humilde como motivo para aparecer por alguma coisa. Pelo contrário, eu sempre quis mostrar isso como orgulho de onde eu venho.
Se pudesse, você faria algo diferente em sua vida?
AH: Essa não é a primeira vez que me fazem essa pergunta. Na maioria das vezes, eu respondia que não mudaria nada. Mas com a cabeça que eu tenho hoje, com a vivência e com o conhecimento do ser humano, alguns pontos eu mudaria sim. Prefiro não dizer quais são.
Eu mudaria sim algumas coisas, se eu pudesse. Se eu tivesse a possibilidade de voltar no tempo, alguns pontos eu mudaria, mas eu não mudaria muito. Se eu transformasse alguma coisa, Provavelmente eu não seria quem eu sou hoje, não teria a cabeça que eu tenho hoje, não teria o filho maravilhoso que eu tenho, e não teria uma nova história para contar.