27/11/2024 - 16:31
Montadora alemã está encerrando seu envolvimento em uma planta na província de Xinjiang, região que está no centro de acusações de violações dos direitos humanos da minoria uigur. Acionistas saúdam retirada da regiãoA montadora alemã Volkswagen está se retirando do seu controverso envolvimento em uma fábrica na província chinesa de Xinjiang, uma região que está no centro de acusações de violações dos direitos humanos cometidas pelo regime chinês contra a minoria uigur.
Nesta quarta-feira (27/11), o Grupo Volkswagen anunciou que está vendendo a fábrica na cidade de Urumqi, operada em parceria com a empresa estatal chinesa Saic Motor Corporation.
As instalações estão sendo compradas pela empresa estatal chinesa SMVIC, ativa na área de carros usados e que também vai empregar os funcionários da fábrica.
A Volks também vendeu pistas de teste em Turpan e Anting, também na China.
Empresa cita motivos econômicos para medida
A fabricante investigou as alegações de abuso, mas citou razões econômicas para a venda da fábrica. O futuro da fábrica foi negociado por meses.
A Volks vem perdendo terreno na China – seu mercado mais importante, onde faz cerca de um terço de suas vendas –, com os negócios no país em 2023 crescendo modestamente, mas a uma taxa mais lenta do que no ano anterior.
A fabricante alemã ficou para trás dos concorrentes domésticos na China, perdendo seu título de marca de automóveis mais vendida para a BYD.
A medida ocorre também no momento em que a Volks estuda fechar fábricas na própria Alemanha, assim como demitir funcionários, em uma tentativa de cortar custos.
As montadoras europeias também estão avaliando os impactos de uma potencial guerra comercial entre Pequim e Bruxelas depois que a UE impôs pesadas tarifas sobre veículos elétricos importados da China.
Investidores elogiam decisão
Vários acionistas da Volkswagen deram boas-vindas à decisão de se desfazer da controversa fábrica.
Janne Werning, da Union Investment, chamou a medida de "um passo há muito esperado que mostra que os direitos humanos não são negociáveis", mas acrescentou que a fraca governança corporativa na montadora continua sendo o "calcanhar de Aquiles da VW".
Ingo Speich, da Deka Investment, disse que com a mudança, "a VW está colocando um fim às discussões controversas".
O governo do estado da Baixa Saxônia, no oeste da Alemanha, que detém uma grande participação na Volks, expressou sua satisfação com a decisão em uma declaração "saudando" a decisão.
O governador do estado, Stephan Weil, e sua vice, Julia Willie Hamburg, ocupam assentos no conselho de supervisão do Grupo Volkswagen.
A VW não fabrica carros em Xinjiang desde 2019. No seu auge, entre 2015 e 2019, a fábrica empregava cerca de 650 pessoas, de acordo com a Volks.
Nos últimos anos, a fábrica foi utilizada para ajustes técnicos e testes em veículos.
A fábrica foi inaugurada em 2013, e o contrato inicial entre a Volkswagen e Saic deveria durar até 2029. De acordo com a montadora alemã, a Saic detinha o controle acionário no local, onde os veículos já eram montados para vendas no oeste da China.
No entanto, o projeto fracassou diante de um mercado mais fraco do que o esperado.
Ao mesmo tempo, a montadora alemã anunciou também nesta terça-feira que estendeu por mais 10 anos um acordo de cooperação com a Saic. O acordo agora será válido até 2040.
No entanto, a Volkswagen disse que não há conexão entre a retirada da fábrica de Xinjiang, que foi acertada há alguns dias, e a prorrogação do contrato.
Supostas violações de direitos humanos
O povo uigur é um grupo étnico predominantemente muçulmano e de língua turcomana que habita Xinjiang. A região também abriga uma minoria mais reduzida de cazaques e quirguizes étnicos.
Organizações de direitos humanos acusaram a China de manter mais de um milhão de pessoas, a maioria uigures, em "campos de reeducação" e fazer uso de trabalho forçado de detidos.
No ano passado, vários grupos ativistas entraram com uma queixa em Paris visando empresas francesas e americanas, acusando-as de serem cúmplices de crimes contra a humanidade em Xinjiang como resultado do uso de subcontratados na China.
md (DPA, Reuters, AFP)