As delegações de pequenos Estados insulares e países em desenvolvimento se retiraram, neste sábado (23), de uma reunião com a presidência azeri da COP29 em Baku, onde o tempo se esgota para determinar o financiamento que os países ricos devem fornecer para enfrentar o aquecimento global.

“Saímos (…). Consideramos que não fomos ouvidos”, declarou Cedric Schuster, enviado de Samoa em nome da aliança dos pequenos Estados insulares (Aosis).

A aliança destacou, em comunicado, que “continua comprometida” com o processo de negociação, embora tenha denunciado que os seus “pedidos principais foram ignorados” nesta conferência da ONU sobre o clima, que entrou oficialmente em prorrogação na sexta-feira.

O principal obstáculo reside no grau de compromisso que os países ricos, historicamente os mais poluentes e, portanto, os maiores responsáveis pela mudança climática, estão dispostos a assumir.

Por enquanto, todas as partes continuam negociando.

“Há muito trabalho a fazer, mas não podemos sair de Baku sem uma decisão”, declarou o negociador-chefe do Panamá, Juan Carlos Monterrey.

“O Panamá e outras nações latino-americanas progressistas tentam não apenas construir pontes, mas também pedir às pessoas que as atravessem para chegar a um acordo”, acrescentou.

A conferência estava prevista para terminar na tarde de sexta-feira. Porém, na ausência de consenso, as negociações prosseguiram no estádio da capital do Azerbaijão, onde os funcionários já começaram a retirar os móveis e as decorações.

A presidência do Azerbaijão finaliza uma proposta de acordo final que deve ser submetida para aprovação aos quase 200 países da COP.

As partes nas negociações tentam estabelecer como financiar a ajuda climática aos países em desenvolvimento para construir centrais solares, investir na irrigação e proteger as cidades contra inundações.

“Não é suficiente”

Os países mais pobres também exigem que 30% do financiamento climático lhes seja atribuído.

Isso também seria um ponto de discórdia: “há muita resistência por parte de outros países em desenvolvimento”, disse Kevin Conrad, da Coalition for Rainforest Nations.

Pela manhã, a União Europeia propôs aumentar a contribuição dos países ricos para 300 bilhões de dólares (1,7 trilhão de reais) anuais, depois de na véspera a presidência do Azerbaijão ter apresentado uma proposta de acordo que incluía uma contribuição de 250 bilhões de dólares (1,4 trilhão de reais) anuais, algo que os países do Sul Global consideraram “inaceitável.”

Na sexta-feira, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, já havia exigido esse valor.

Os países em desenvolvimento calculam que, com a inflação, o esforço financeiro real dos países que prestam esta ajuda (os europeus, os Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália, Nova Zelândia) seria muito menor, ainda mais com os esforços já previstos por bancos multilaterais de desenvolvimento.

“Há um grande problema com os 300 bilhões [de dólares] porque não são suficientes para cobrir todas as necessidades”, disse o panamenho Monterrey, indicando que “o mundo em desenvolvimento fez uma contraproposta: 500 bilhões (2,9 trilhões de reais) para 2030”.

A ministra colombiana do Meio Ambiente, Susana Muhamad, encorajou “o norte a redobrar” a sua proposta.

O projeto de acordo estabelece separadamente o ambicioso objetivo de obter um total de 1,3 trilhão de dólares (7,5 trilhões de reais) por ano até 2035 para os países em desenvolvimento, o que incluiria a contribuição dos países ricos e outras fontes de financiamento, tais como fundos privados ou novas taxas.

“Jogo de poder”

Paralelamente, os países ricos negociam medidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas enfrentam oposição dos produtores de petróleo, como a Arábia Saudita. O grupo de Estados árabes alertou que rejeitará qualquer texto “que aponte contra as energias fósseis”.

“Estamos em meio a um jogo de poder geopolítico entre alguns Estados produtores de combustíveis fósseis”, denunciou a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock.

Pela manhã, mais de 350 ONGs instaram os países em desenvolvimento e a China a abandonarem a conferência, considerando que é melhor não ter acordo do que ter um mau acordo.

“Aceitar um acordo fraco agora perpetuaria a desigualdade e os forçaria a cumprir compromissos sem receber apoio equivalente. A retirada envia uma mensagem clara de firmeza”, disse Óscar Soria, ativista ambiental argentino e diretor da Common Initiative.

No entanto, “a solução tem que sair agora, esta é uma questão que já está adiada há vários anos, este é o momento”, apelou o negociador-chefe da Bolívia, Diego Pacheco.