Os juros futuros, que já perdiam fôlego de baixa ao longo da tarde, zeraram a queda na reta final para fecharem com viés de alta a partir dos vértices intermediários, na esteira de declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, sinalizando não haver pressa para cortar juros. A fala pressionou a ponta curta dos Treasuries e acabou respingando por aqui, neutralizando o alívio vindo da perspectiva de um pacote de corte de gastos robusto sinalizada ontem pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Em boa parte do dia, a queda nos rendimentos dos Treasuries e das commodities estimularam correção parcial das altas das últimas sessões.

Na semana, a curva ganhou inclinação, com as taxas todas em alta, mas mais pronunciada nos vencimentos de médio e longo prazos, em relação aos níveis da última sexta-feira, mesmo com a ata do Copom sendo considerada “hawkish”.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 13,23%, de 13,24% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 subiu de 13,40% para 13,44%. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 13,25% (de 13,22%).

Apesar do ajuste desta quinta-feira, a grande maioria dos contratos segue rodando com taxas em níveis acima de 13%, com destaque para os vértices intermediários, que captam a percepção dos agentes para o atual ciclo de política monetária, que, por sua vez, está contaminada pelo pessimismo em relação ao cenário fiscal.

Há semanas o governo vem ensaiando divulgar as medidas de redução de despesa que possam estabilizar a trajetória da dívida pública o que, pela sinalização do ministro, deve ocorrer na próxima semana. O mercado acredita que será após as reuniões de líderes do G20, no Rio, que terminam na terça (19). O ministro viaja para a capital fluminense no sábado e acompanhará o presidente Lula.

Embora ontem o ministro não tenha explicitado as medidas, a leitura da entrevista é de que o pacote vai atender a demandas do mercado por medidas estruturais, como as alterações na regra de aumento do salário mínimo. Segundo a revista Veja, o ajuste total será de R$ 70 bilhões para os próximos dois anos, sendo R$ 30 bilhões em 2025 e R$ 40 bilhões em 2026. “Essa foi a cereja do bolo”, afirmou o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi. Os R$ 30 bilhões para 2025 já estavam no radar do mercado, mas o montante para o ano que vem, não.

Além da melhora de sentimento com relação às propostas, Borsoi afirmou que os DIs foram favorecidos no decorrer da sessão pelo alívio das curvas lá fora, com queda nos rendimentos dos papéis de 2 e 10 anos do Tesouro americano. “As commodities, com exceção do petróleo, estão negativas hoje e as agrícolas, em especial, estão caindo desde cedo. Estamos num ponto em que apostar em novas altas de juros está ficando custoso”, explicou.

No fim da tarde, porém, a curva americana estressou e ofuscou o movimento de ajuste nas taxas locais. “A economia não envia sinais de que precisamos ter pressa para cortar juros”, disse durante evento no Texas. Powell explicou que a força recente da atividade econômica permite ao Fed adotar uma abordagem cautelosa ao tomar decisões. Com isso, a aposta em torno de um corte de 25 pontos-base na reunião de dezembro diminuiu de 72,2% para 62,4%.