As eleições americanas foram realizadas no dia 5 de novembro e culminaram na vitória do republicano Donald Trump, com 312 votos do Colégio Eleitoral. Durante a campanha, o presidente eleito declarou que pretende realizar uma deportação em massa de imigrantes ilegais no seu segundo mandato.
De acordo com uma estimativa de 2022 do OHSS (Escritório de Estatísticas de Segurança Interna), associado ao Departamento de Segurança Interna dos EUA, existem 10,9 milhões de imigrantes ilegais no país.
Segundo informações do Conselho Americano de Imigração, uma deportação em massa geraria um custo de 88 bilhões de dólares (equivalente a R$ 508,5 bilhões) anualmente, algo que acarretaria em um gasto de 967,7 bilhões de dólares (R$ 5,5 trilhões) ao longo de uma década.
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O principal país de origem dos 10,9 milhões de imigrantes ilegais nos EUA é o México, com uma estimativa de 4,8 milhões de pessoas vivendo irregularmente. Apesar de representar quase a metade da quantidade total de imigrantes ilegais, o número de pessoas naturais do México diminuiu desde 2018.
Conforme a estimativa do OHSS, 230 mil brasileiros vivem ilegalmente nos EUA, o que coloca o Brasil como oitavo país de origem dos imigrantes que moram em território americano irregularmente. Entre 2020 e 2022, a quantidade de brasileiros residindo nos EUA subiu em 40 mil.
Sonho Americano
Assim como milhares de outros imigrantes, Rafaela* se mudou para os EUA em busca de melhores oportunidades em abril de 2018, ainda durante o primeiro mandato de Donald Trump.
“Eu já tinha vindo visitar minha família algumas vezes e eu sempre pensava como seria se um dia viesse morar aqui também”, contou a mulher, que está no país em situação irregular aguardando o processo de Green card – visto permanente dos Estados Unidos.
A brasileira está nos EUA há seis anos e trabalha no RH de uma rede de restaurantes. “Não está nos meus planos voltar ao Brasil. Só voltaria se algo muito grave acontecesse. Mas hoje, não tenho vontade de morar novamente no Brasil”, explica.
A mulher acrescenta que imigrou após passar por um divórcio e não se encontrar na área que cursou no ensino superior. “Tomei coragem e me mudei para cá em busca de algo melhor, de algo novo”, relata a brasileira.
Imigração na segunda gestão Trump
De acordo com Rodrigo Costa, CEO da Viva América, uma empresa especializada em imigração para os EUA, apenas imigrantes que vivem ilegalmente no país ou aqueles que mesmo regularizados tenham violado a lei devem se preocupar com o risco de deportação.
“O que muda é que, com a nova administração, pode haver uma intensificação nos esforços para remover esses estrangeiros do país, até mesmo como uma forma de Trump dar uma resposta ao seu eleitorado”, comenta Costa, citando medidas tomadas pelo republicano no primeiro governo como exemplo.
“A imigração legal não deve sofrer nenhum tipo de impacto, inclusive para brasileiros, que têm registrado sucessivos recordes na quantidade de Green cards recebidos”, aponta o especialista, explicando que a perspectiva para o futuro é boa para os que buscam a imigração por via legal.
Apesar disso, Costa alerta que a entrada no país de forma ilegal deve se tornar mais difícil.
Com as agressivas promessas de campanha relativas à imigração, a brasileira Rafaela comenta que está apreensiva com a eleição de Trump.
“Não tenho tanto medo de ser deportada ou algo assim, […] vim legalmente, com visto, e nunca tive nenhuma intercorrência com a polícia”, aponta a brasileira, pontuando que se preocupa mais com o aumento de preconceito contra imigrantes.
“É difícil pensar que você tem um presidente que, se pudesse, não iria governar nem para você e nem para sua família e amigos”, ressaltou Rafaela.
Deportação em massa: realidade ou promessa?
Ao longo de sua campanha, Donald Trump promoveu ideias de acabar com a cidadania por nascimento e reforçar a Guarda Nacional para retirar imigrantes ilegais. A continuação da construção do muro que elaborou durante seu primeiro mandato também está entre os objetivos de sua segunda gestão.
Durante as eleições o Partido Republicano conseguiu a maioria no Senado e na Câmara, o que deve facilitar as tentativas de endurecimento das políticas migratórias.
Natália Fingermann, professora de relações internacionais da ESPM, acredita que Trump não irá “medir esforços” para garantir suas promessas quanto à imigração. Para a especialista, estados governados por republicanos irão facilitar abordagens das autoridades em áreas com grande número de imigrantes.
Segundo a professora, além da estratégia direta, a administração dos EUA poderá firmar parcerias com embaixadas, fazendo com que os consulados “trabalhem com o governo norte-americano para facilitar o processo de deportação”.
“Os próprios consulados identificam aqueles que estão fora do país e estão nos Estados Unidos de maneira ilegal e passa essa informação para o governo, facilitando o processo de deportação desses imigrantes”, comenta Natália Fingermann, acrescentando que a construção do muro na fronteira com o México pode ocorrer como forma de prevenir a entrada de pessoas.
“Não vejo muitos impedimentos legais para que ele não consiga fazer cumprir suas promessas políticas”, contempla a professora, citando a maioria do Congresso e do Senado como um fator que facilita a aprovação de novas legislações. “O tempo de execução desse trabalho talvez leve mais do que aquele que ele promete.”
Orçamento e economia
Rodrigo Costa acredita que ainda é cedo para dizer exatamente o que o republicano fará nas políticas migratórias. “As medidas anunciadas por Trump exigem um orçamento que hoje não existe. Deportar imigrantes, construir muro, aumentar o efetivo da patrulha de fronteira, tudo isso envolve destinação de recursos”, diz o CEO da Viva América.
“Por mais que o Partido Republicano tenha a maioria do Congresso, é preciso de uma construção política para tirar dinheiro de outras áreas e destiná-lo para a imigração”, declara Costa.
Quanto ao orçamento, Natália Fingermann comenta que Trump fará o possível para realocar os recursos no intuito de coibir a imigração ilegal. “O que pode ter um impacto maior é que grande parte dessa mão de obra faz trabalhos que muitos norte-americanos não querem fazer pelo valor que eles cobram”, explica.
Segundo a professora de relações internacionais, a deportação poderia causar a falta de mão de obra em alguns setores. “Eu acho que no longo prazo temos esse risco. Mesmo com gasto de milhões para deportar, ele pode tentar minimizá-lo com a parceria entre estados.”
*O nome da imigrante brasileira foi alterado para “Rafaela” para que sua identidade fosse preservada
**Estagiário sob supervisão