O motorista e empresário Fabrício Ribeiro, que conduzia o ônibus de torcedores organizados do Cruzeiro que foi atacado pela Mancha Verde, em uma rodovia de Mairiporã (SP), no dia 27 de outubro, relatou que presenciou momentos de terror durante a emboscada que culminou na morte do motoboy José Victor Miranda, de 30 anos.

“[Me] Abaixei próximo ao volante, eles [membros da Mancha Verde] quebravam parabrisa, quebraram a janela, no ônibus, lateral ali”, contou o motorista ao programa “Fantástico”, da “TV Globo”, transmitido neste domingo, 3.

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Fabrício Ribeiro conduzia um ônibus alugado por torcedores da Máfia Azul, organizada do time mineiro, que saiu de Curitiba (PR) com destino a Sete Lagoas (MG) após partida do Cruzeiro contra o Athletico Paranaense. Outro coletivo que também levava integrantes da organizada tinha como motorista Lucas Souza de Paula.

“Eu vi em torno daqueles quatro ou cinco carros parados. Na hora que já vi, eu achei algo estranho”, contou Lucas. De acordo com o motorista, o fogo tomou uma grande proporção em segundos. “Na hora que eu vi, saíram do chão, debaixo do carro. Acho que eles estavam deitados ali”, explicou.

Segundo Lucas, havia “muita gente” no local e os criminosos se aproximaram já no ataque ao veículo. “Teve um torcedor que tomou uma barra de ferro na cabeça do meu lado”, relatou. O ônibus conduzido pelo motorista foi incendiado pelos membros da Mancha Verde.

Fabrício Ribeiro disse que sentiu “impotência” ao ver o veículo sendo atacado e não poder fazer nada. “A gente via pessoas vindo, correndo, a gente imaginava que poderia ser briga de torcida. Mas a gente queria sair com vida ali do local”, reiterou o homem, que é um dos sócios da empresa que alugou o ônibus para a Máfia Azul.

“Torcedores vieram em mim com barra de ferro [para] bater. Abri, mostrei meu uniforme, mandaram eu encostar e falaram: no motorista a gente não quer bater”, relembrou Lucas Souza de Paula.

Proibição da Mancha Verde

Após a morte do torcedor do Cruzeiro, a Federação Paulista de Futebol (FPF) decidiu proibir a entrada da Mancha Alvi Verde, principal torcida organizada do Palmeiras, em jogos realizados nos estádios e arenas do estado de São Paulo.

A proibição da entrada da torcida nos estádios paulistas havia sido recomendada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, que abriu investigação sobre o caso. Para o MP, o ocorrido demonstrou que as torcidas organizadas agem como “facções criminosas”. “O enfrentamento de grupos formados por pretensos torcedores da Sociedade Esportiva Palmeiras e do Cruzeiro Esporte Clube resultou, infelizmente, em um saldo trágico, deixando diversos feridos e um morto. Tal episódio é inaceitável e representa uma grave afronta à segurança pública e à convivência pacífica em nossa sociedade”, escreveu o procurador-geral de Justiça, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa.

Além disso, o Ministério Público de Minas Gerais também encaminhou uma recomendação à Federação Mineira de Futebol (FMF) e à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para que a Mancha Alvi Verde seja banida temporariamente dos estádios brasileiros por um período de dois anos. No documento, o promotor de Justiça da 14ª Promotoria de Defesa do Consumidor do Procon-MG, Fernando Abreu, pede que a medida cautelar seja adotada em âmbito nacional, já que, segundo o promotor, o risco não se restringe a Minas Gerais.

A medida recomenda que seja proibido o uso, porte e exibição de qualquer vestimenta, faixa, bandeira, instrumento musical ou qualquer objeto que possa caracterizar a presença da torcida nos estádios e no entorno em dias de jogo.

A Mancha Alvi Verde ainda não se manifestou sobre a operação, mas tem negado participação no ocorrido. “Lamentamos profundamente mais esse triste acontecimento e manifestamos nossa solidariedade e demonstramos nossa consternação aos familiares da vítima, repudiando com veemência tais atos de violência. Queremos, desde já, deixar claro que a Mancha Alvi Verde não organizou, participou ou incentivou qualquer ação relacionada a esse incidente. Com mais de 45 mil associados, nossa torcida não pode ser responsabilizada por ações isoladas de cerca de 50 torcedores, que desrespeitam os princípios de paz que promovemos e defendemos”, diz a nota.

*Com informações da Agência Brasil