01/11/2024 - 10:22
Os recentes bombardeios de Israel sobre o Irã deixaram poucas vítimas, mas ocasionaram significativos danos técnicos em instalações militares que enfraquecem a capacidade de contra-ataque e dissuasão da República Islâmica, analisam especialistas.
No último sábado, Israel lançou ataques aéreos em resposta aos mísseis lançados pelo Irã contra seu território em 1º de outubro. A ação de Teerã foi uma resposta ao assassinato dos líderes de seus aliados Hamas e Hezbollah.
Embora o Irã minimize suas consequências, este último episódio na escalada bilateral é significativo para os analistas ocidentais consultados pela AFP: os bombardeios atingiram tanto suas defesas aéreas como sua capacidade de ataque.
“Israel usou cerca de 100 aviões de combate e possivelmente sistemas de drones”, afirma o instituto americano Hudson. “Em três ataques, as Forças Armadas israelenses atacaram as capacidades de produção de mísseis e a arquitetura da defesa aérea” iraniana, continua.
Fabian Hinz, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), afirma que a ação israelense atingiu três dos quatro pontos de produção de combustível sólido utilizados pelo Irã em seus foguetes e mísseis.
Israel “deliberadamente visou uma etapa crucial do processo de fabricação que terá consequências significativas para a produção de mísseis”, disse à AFP.
Os ataques também destruíram sistemas antiaéreos russos S-300 e radares de longo alcance.
“Autoridades americanas e israelenses confirmaram que os ataques tornaram os S-300 inutilizáveis” e danificaram radares que Teerã afirma serem “capazes de detectar mísseis balísticos e aviões furtivos”, afirmou o American Enterprise Institute, em Washington.
Israel já havia atacado grupos pró-Irã no Iraque e na Síria, simultaneamente à ofensiva no Líbano contra o Hezbollah, outro aliado do Irã – que dispunha de mísseis de longo alcance que permitiam defender as instalações nucleares de seu aliado, mas suas capacidades diminuíram.
Desta forma, Israel pode agora atingir mais facilmente as instalações energéticas ou militares do Irã, seu inimigo com uma poderosa indústria de defesa.
“Há uma corrida contra o relógio entre o Irã, que deve produzir o maior número possível de mísseis balísticos suficientemente precisos e eficazes, e Israel, que deve produzir ou comprar o maior número possível de anti-mísseis”, resume Pierre Razoux, diretor acadêmico da Fundação Mediterrânica de Estudos Estratégicos.
“O primeiro a ficar sem munições estará em uma situação de vulnerabilidade muito grande”, acrescenta.
O Irã aguarda os caças Sukhoi Su-35 prometidos pela Rússia há 18 meses e deve se reabastecer com os S-300 ou a sua versão mais avançada, os S-400.
Se a Rússia não entregar estes caças e baterias antiaéreas, “Teerã realmente não dispõe de meios para defender corretamente o seu espaço aéreo”, diz Razoux.
Já Israel conta com o apoio dos Estados Unidos, que, no entanto, é reticente quanto a deixar que ambos entrem em confronto direto.
“O peso da administração (do presidente Joe) Biden na liderança política e militar israelense limitou a escala dos bombardeios”, defende.
Por exemplo, o programa nuclear do Irã saiu intacto. Mas, neste caso, Razoux e outros especialistas, duvidam da capacidade de Israel para destruir estas instalações situadas em bunkers subterrâneos profundos.
Em todo o caso, esta ação deixa Teerã encurralado por um Exército israelense que, desde o ataque do Hamas que desencadeou a guerra de Gaza, aumentou consideravelmente a sua “tolerância ao risco”, diz Fabian Hinz.
Caso o Irã volte a atacar, Israel estará em posição ideal para responder de forma ainda mais forte. Mas se a República Islâmica não agir, seu inimigo pode ver isso como um incitamento para continuar os ataques.
O Irã “terá que encontrar uma forma de restabelecer sua capacidade de dissuasão e não vejo muitas boas opções para isso neste momento”, acrescenta o analista.
dla/cf/dbh/zm/yr/aa