O 4º Tribunal do Júri da Capital, do Rio de Janeiro, retomou nesta quinta-feira, 31, o julgamento dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, acusados de assassinar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018.

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Durante a sustentação oral, os advogados de defesa de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz reconheceram que os réus participaram da execução da parlamentar, mas pediram para que o júri, composto por sete homens, não considerassem alguns dos quesitos levantados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, que pediu a condenação dos dois a 84 anos de prisão.

“Peço que o réu seja condenado na medida da sua culpabilidade”, pediu a advogada Ana Paula de Araújo Fonseca Cordeiro, que representa Élcio de Queiroz. A defensora ressaltou na sua argumentação que o réu nunca tinha ouvido falar sobre Marielle e que só soube que ela era a vítima do crime durante o caminho

O julgamento foi interrompido logo após a fala da defensora e retornou por volta das 14h40.

Antes de Ana Paula, o advogado Saulo Carvalho, da defesa de Ronnie Lessa, destacou que a delação do cliente foi fundamentar para a conclusão do caso. “Ele já tinha essa vontade de falar, mas ele não confiava nas autoridades do Rio de Janeiro, então quando a Polícia Federal faz esse contato, ele se sente mais à vontade”, diz Saulo.

O defensor também pediu para que o júri não acatasse todos os quesitos levantados pelo MP. “Ronnie foi denunciado pelo homicídio, por motivo torpe, e esse motivo torpe eu ouso discordar da acusação porque não há nos autos que foi um crime político, por ela ser de esquerda, e sim visando terras. Ele atirou com uma metralhadora no modo rajada e disse que tentou mirar somente na vereadora Marielle. Ele não voltou para checar quem tinha sido atingido”, sustentou.

Mais cedo, o promotor de Justiça Fábio Vieira chamou de “farsa” a alegação de arrependimento dos réus, que prestaram depoimento na quarta-feira, 30.

“O que vocês viram ontem foi uma farsa. Na verdade, eles não estão com sentimento de arrependimento, estão com uma tristeza de terem sido pegos. Porque ninguém foi lá bater na porta da Delegacia de Homicídios quando todo mundo queria saber (e disse) “olha só, fui eu, tá? Estou arrependido disso. Fui eu e fiz dessa forma. Isso só aconteceu quando as provas que existem no processo, através do trabalho árduo do Ministério Público, junto com seguimentos da polícia, e com Defensoria e tudo mais, chegou à conclusão absoluta de que os executores eram aqueles, não tinham como eles fugirem disso”, declarou.

Já o promotor Eduardo Moraes disse que a colaboração da dupla com as investigações foi motivada pelo desejo de reduzir suas penas. “Eles estão aqui para negociar”, destacou.

Lessa e Élcio são acusados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro de homicídio duplamente qualificado, uma tentativa de homicídio e pela receptação do Cobalt usado pelos executores no dia do atentado.

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Como será o julgamento hoje?

Nesta quinta-feira, a acusação e a defesa fazem a sustentação oral aos jurados. Pode haver réplica e tréplica. Após esta etapa, o conselho de jurados, formado por sete homens, vai se reunir antes de anunciar o veredito.

O julgamento foi iniciado na quarta-feira, 30. Nove testemunhas foram ouvidas, sendo sete indicadas pelo MPRJ e duas pela defesa de Ronnie Lessa. A perita criminal Carolina Rodrigues Linhares era uma das testemunhas arroladas e não compareceu, mas foi mostrado o seu depoimento anterior em vídeo.

Os réus foram interrogados no fim da noite. Ronnie Lessa foi o primeiro a ser ouvido e contou que, em 2016, recebeu uma proposta para executar o ex-deputado federal Marcelo Freixo, mas não concordou. No ano seguinte, voltou a ser procurado, mas, dessa vez, o “alvo” era Marielle Franco.

Ele afirmou que convidou Élcio de Queiroz para dirigir o veículo utilizado no crime e destacou que os mandantes só exigiram que a execução não ocorresse em frente à Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Já Queiroz voltou a afirmar que só descobriu que participaria de um homicídio quando o veículo estava estacionado próximo à Casa das Pretas, na Lapa, onde Marielle participava de um evento.

O ex-policial militar disse que convenceu Lessa de não assassinar a vereadora no local do evento e que, após o carro da parlamentar sair, conseguiu persegui-lo e emparelhá-lo, dando assim condições para que Ronnie atirasse.