29/10/2024 - 23:51
O relatório independente sobre direitos humanos preparado para a candidatura bem-sucedida da Arábia Saudita para a Copa do Mundo de 2034 é “falho” e “enganoso”, disseram entidades ligadas aos direitos humanos nesta terça-feira (29), informou a AFP.
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O documento, encomendado pela candidatura saudita junto ao escritório de advocacia AS&H Clifford Chance, sediado em Riad, ignora padrões fundamentais, como a Declaração Internacional de Direitos Humanos, disseram 11 grupos, incluindo a Human Rights Watch e a Anistia Internacional.
O relatório também faz uso “altamente seletivo” das avaliações das Nações Unidas e não consulta partes interessadas externas confiáveis, como especialistas sauditas em direitos humanos, disseram eles.
A avaliação foi elaborada enquanto a Arábia Saudita pressionava para sediar a Copa do Mundo de 2034. O maior exportador de petróleo do mundo emergiu rapidamente como o único proponente e será aprovado em dezembro.
Nenhum comentário foi imediatamente disponibilizado pelo escritório de advocacia ou pelas autoridades sauditas. Os outros signatários da declaração incluem FairSquare, Equidem, Football Supporters Europe e o Gulf Centre for Human Rights.
Relatório não discute abusos na Arábia Saudita, dizem entidades
O relatório “não contém nenhuma discussão substantiva sobre abusos extensos e relevantes na Arábia Saudita, documentados por várias organizações de direitos humanos e órgãos da ONU, e formou a base da estratégia de direitos humanos da Arábia Saudita para o torneio”, diz a declaração conjunta.
“A aparente falha em incluir a perspectiva de partes interessadas externas confiáveis está em desacordo com a orientação disponível sobre como avaliar os direitos humanos”, acrescentam os signatários.
“Combinado com a exclusão dos principais direitos humanos reconhecidos internacionalmente e o uso seletivo de avaliações feitas por órgãos da ONU, (isso) serve para criar uma perspectiva artificialmente limitada, enganosa e excessivamente positiva sobre os desafios dos direitos humanos na Arábia Saudita.”
Um porta-voz da Fifa disse à AFP que “todos os relatórios relevantes, incluindo as avaliações independentes do contexto dos direitos humanos e as estratégias de direitos humanos de todos os candidatos para as edições de 2030 e 2034, estão disponíveis em nosso site”.
pMas o único relatório pelo qual a Fifa se responsabiliza é o relatório de avaliação, que deverá ser publicado antes do congresso da Fifa de 11 de dezembro, confirmando os anfitriões da Copa do Mundo de 2030 – Espanha, Portugal e Marrocos – e da edição de 2034, a Arábia Saudita.
Os direitos humanos, uma fonte de profunda controvérsia na Copa do Mundo de 2022 no vizinho Catar, ameaçam se tornar um importante ponto de discussão mais uma vez na preparação para 2034.
Os grupos de direitos humanos destacam as execuções em massa na Arábia Saudita e as alegações de tortura, bem como as restrições às mulheres sob o sistema de tutela masculina do país conservador.
O sexo fora do casamento e as relações entre pessoas do mesmo sexo são crimes, e a “exploração generalizada” de trabalhadores migrantes continua, segundo a declaração.
A liberdade de expressão é severamente restringida, com algumas pessoas recebendo longas penas de prisão por publicações críticas nas mídias sociais.
A Arábia Saudita, que está sediando vários eventos de alto nível, incluindo a Fórmula 1 e o WTA Finals de tênis desta semana, é frequentemente acusada de “lavagem esportiva”, usando o esporte para desviar a atenção de seu histórico de direitos.