29/10/2024 - 13:50
Alerta gatilho: Este texto trará informações como lidar com o luto, podendo gerar gatilho em quem estiver passando por situação semelhante. Caso você se identifique e não se sinta à vontade ao ler, procure ajuda de um médico, psicólogo, familiar, ou ligue para o CVV – Centro de Valorização da Vida (ligue 188).
Há cinco anos, em 2019, a família de Jorge Fernando (1955-2019) sofreu com a perda do diretor da Globo, que morreu durante processo de recuperação de um AVC sofrido dois anos antes. Ele faleceu no dia 27 de outubro daquele ano.
Dois meses depois, Hilda Rebello (1924-2019), mãe do diretor, que fazia novelas na emissora carioca, não resistiu às complicações de uma infecção urinária e morreu também, deixando parentes em um estado de luto ainda mais doloroso.
Ainda lidando com a dor de duas perdas significativas, filhos, netos e sobrinhos dessas duas figuras se viram em um pesadelo há menos de uma semana, quando foi confirmada a morte de João Rebello, neto de Hilda e sobrinho de Jorge Fernando. O ex-ator mirim, que participou de novelas da Globo, como “Vamp” (1991), foi assassinado a tiros em Trancoso, litoral sul da Bahia, aos 45 anos de idade.
A polícia acredita que a morte tenha sido por engano e que o DJ e produtor não estava envolvido em nenhum esquema de tráfico, descartando a possibilidade noticiada primeiramente.
Coincidentemente, João foi sepultado no dia 27 de outubro, mesmo dia da morte de seu tio, o que tornou a data ainda mais sofrida para os familiares.
A sucessão de fatalidades na família destes três artistas levanta o questionamento: como lidar com lutos consecutivos?
A psicóloga *Cristiane Pertusi, doutora em Psicologia do Desenvolvimento Humano pela USP, pontuou quais as consequência para a família que sofre tantas perdas em um curto espaço de tempo, e fez um alerta sobre os sinais de quando algo não está bem.
“O choque provocado por uma sequência de acontecimentos fatais na família pode gerar uma complicação psicológica, traumas e lutos complicado. Diversos sintomas surgem nesse processo, como depressão e ansiedade, ainda mais atenuante para uma pessoa, por conta da pressão emocional de sentir que a qualquer momento pode perder mais um ente querido”, ressaltou.
“Já o luto isolado gera uma comoção ligada ao laço entre quem está passando por isso e quem se foi – nesse processo, o baque continua enorme, mas se desenvolve de uma forma menos agressiva, já que a chance de virar uma paranóia, como no primeiro caso, é menor”, explicou.
Como lidar com a dor de tantas perdas?
“Atualmente, a técnica americana Emdr, criada para tratar traumas é uma abordagem útil para lutos complicados. É importante que a pessoa saiba administrar o impacto de forma natural, sem se pressionar a sentir menos para manter o controle. Além disso, a melhor forma de lidar com o processo do luto é com acompanhamento psicológico – o amparo profissional traz conforto para os traumas emocionais que o luto gera”, argumentou a profissional.
Ao ser questionada sobre como não fazer com que datas e coincidências, como a do dia 27 de outubro, neste caso, se tornem um ‘mártir’ para a família, Cristiane adiantou que é inevitável.
“Principalmente pelo trauma emocional que foi desenvolvido por tantos acontecimentos relacionados a apenas um dia”, afirmou ela, dando dicas de como ressignificar a data.
“Uma das maneiras é procurar formas de superar, como realizar rituais que busque homenagear as pessoas que se foram no dia. Por exemplo, cozinhar comidas que elas gostavam ou realizar alguma atividade que partilhavam juntos. É crucial que o luto seja sentido de uma forma reconhecendo emoções, não evitando sentir emoções, porque conforme o tempo passar, isso será determinante para a assertividade do tratamento psicológico”, complementa.
A “chave” de todo o processo de recuperação do luto é, segundo a especialista, não cobrar por uma melhora rápida.
“O luto é um processo natural de qualquer pessoa. O luto é uma fase passageira, porém cada pessoa pode vivenciar de maneira diferente, dependendo da história de vida, traumas anteriores e como lida com perdas na sua vida. Importante procurar sentir suas emoções, aprender a lidar sem medo o que está passando, pedir ajuda e conforto para pessoas próximas, e tentar retomar a rotina de forma natural e sem pressa”, encerrou.
*Cristiane Pertusi (CRP 06/54382), doutora em Psicologia do Desenvolvimento Humano, pela USP, docente em Psicologia, Psicóloga Clínica, Psicologia Organizacional e Consultora de T&D há 28 anos. Atua como psicoterapeuta, pesquisadora e professora nas disciplinas da Psicologia como Abordagem Sistêmica, Psicodrama, Psicologia dos Grupos, Traumas, neurociências entre outras.