Uma sabatina improvável e arriscada entre Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB) surpreendeu até os mais incrédulos com a aceitação do psolista para a entrevista ‘cascata’ — isto é, um formato mais próximo de uma live, sem a presença de um jornalista como entrevistador tampouco de um protocolo formal de regras. A expectativa era de fortes embates, como no primeiro turno, mas o encontro acabou sendo morno, com algumas alfinetadas e indiretas direcionadas a Ricardo Nunes (MDB).

Derrotado no primeiro turno, Marçal desafiou Boulos e Nunes para uma sabatina. O candidato do PSOL prontamente aceitou, enquanto o atual prefeito recusou.

O motivo do aceite é claro: Guilherme Boulos quer conquistar parte dos votos de Marçal, especialmente nas áreas periféricas. Como candidato pelo PRTB, o coach obteve ampla votação na Zona Leste, uma das regiões mais desafiadoras para o psolista no primeiro turno.

Nas regras da sabatina, Marçal comprometeu-se a evitar ataques diretos, mas permitiu algumas alfinetadas — o que ocorreu de ambos os lados.

Logo no início, Boulos afirmou que “não foge do diálogo” e mencionou que só aceitou o convite como um ato de respeito, apesar dos ataques sofridos durante o primeiro turno. Marçal não ficou de fora e, logo na primeira pergunta, questionou o que Boulos pensaria caso perdesse a eleição no próximo domingo, 27. Em seguida, provocou o psolista, afirmando que ele foi quem mais gastou na campanha e usou uma pergunta de um apoiador para chamá-lo de “Boules”.

Durante a sabatina, Marçal e Boulos mantiveram uma conversa morna. O candidato do PSOL conseguiu responder bem a questões sensíveis levantadas pelo coach, como a importância das empresas e a inclusão da educação financeira nas escolas.

Nunes acabou se tornando o foco em vários momentos. Marçal e Boulos reservaram um tempo para criticar o atual prefeito. Enquanto o coach condenou a ausência de Nunes na sabatina, o deputado federal criticou ações da Prefeitura e a atuação da Enel.

No final da sabatina, Boulos “driblou” Marçal ao ser questionado sobre em quem votaria, se nele ou em Nunes. O psolista respondeu que votaria no “50”, em referência ao número de seu partido, e o coach tentou provocá-lo, mencionando uma anulação de voto.

Nesse momento, Boulos devolveu a pergunta, questionando em quem Marçal votaria no segundo turno. O empresário hesitou e admitiu que também anularia seu voto.

Após a sabatina, Marçal ainda ligou para Ricardo Nunes para tentar agendar uma entrevista, mas o emedebista não atendeu.

Leia o resumo da sabatina

Novamente questionado sobre a “rachadinha” do deputado André Janones (Avante-MG), da qual foi relator, Boulos repetiu que parlamentares não devem ser punidos por ações anteriores ao mandato atual, baseando-se em decisão do Supremo.

Como tem feito na campanha de segundo turno, Boulos voltou a acenar para empreendedores e trabalhadores informais e listou propostas para esses segmentos. “A Prefeitura não pode aparecer só para dificultar a vida dos empreendedores, só para cobrar boleto. Precisa aparecer para ajudar”, afirmou.

Boulos declarou que apenas ele, Marçal e Tabata defendiam, na campanha, propostas para gerar empregos na periferia. O principal mote da campanha do ex-coach era a criação de um “cinturão de empregos” nas regiões mais afastadas do centro da cidade. “Uma das minhas propostas é levar o emprego para perto das pessoas. Por meio de isenção de impostos, vou incentivar as empresas a levarem suas operações para a periferia. Vai ser bom para o empresário e para o trabalhador”, disse.

Marçal fez provocações a Nunes, que não aceitou o convite para a sabatina — estratégia que Boulos explorou ao aceitar ser entrevistado pelo ex-coach — e convocou seus seguidores para “convocarem” o prefeito a participar da entrevista.

Nos comentários da transmissão no YouTube, era possível observar uma divisão: apoiadores de Boulos manifestavam-se a favor do candidato, enquanto seguidores de Marçal o criticaram por “ajudar a extrema-esquerda”.

Boulos elogiou a proposta das “escolas olímpicas”, apresentada por Marçal na campanha, e afirmou não ver problema em adotar ideias de adversários políticos.

Mesmo prometendo manter o nível e evitando o apelido jocoso “Boules”, Marçal classificou Boulos como um candidato de “extrema-esquerda” ao fazer perguntas.

Questionado repetidamente, Boulos comprometeu-se a implementar a educação financeira, outro tema defendido por Marçal, no ensino público municipal de São Paulo.

No fim da entrevista, Marçal pediu novamente que os seguidores convocassem Nunes para uma sabatina e criticou a recusa do prefeito.

Marçal ainda afirmou que prevê futuros embates com Boulos nas urnas. “Você já pensou que vai concorrer a governador ou presidente e enfrentar um cara de direita que vai te atormentar o tempo inteiro?”, perguntou o ex-coach. Boulos respondeu que não escolhe adversários e que sua carreira política é uma “missão”, e não um objetivo pessoal.

No “bate-bola”, Boulos criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), elogiou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), disse ter sido oposição ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e declarou admiração por Jesus Cristo.

Quando Boulos afirmou que Tarcísio pretende “largar o governo para ser candidato a presidente [em 2026]”, Marçal completou: “Pode ficar tranquilo que eu vou estar lá [como candidato]”.

Boulos declarou que, se o segundo turno fosse entre Nunes e Marçal, anularia seu voto. O ex-coach evitou declarar voto, mas disse que a tecla 5 “não funciona” na urna em que vota — tanto Boulos quanto Nunes têm esse número em suas siglas.

Após ser elogiado por Boulos pela condução “respeitosa” da sabatina, Marçal comprometeu-se a não repetir a conduta quando ambos se enfrentarem novamente como candidatos.