O ex-pugilista José Adilson Rodrigues dos Santos, o Maguila, morreu nesta quinta-feira, 25, aos 66 anos. Ele estava internado em uma casa de repouso há 18 anos e sofria há 15 de Encefalopatia Traumática Crônica (ETC), uma doença similar ao mal de Alzheimer, causada por repetitivos golpes na cabeça e que afeta, principalmente, ex-atletas de boxe.

A informação foi confirmada por Irani Pinheiro, esposa do campeão mundial pela Federação Mundial de Boxe (WBO), em um programa de televisão, mas sem revelar as causas da morte.

O site IstoÉ conversou com o médico neurologista *Dr. Diogo Haddad, mestre em Ciências da Saúde pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, para entender a ETC, suas causas e como o tratamento é realizado.

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“É relativamente comum que ex-lutadores, quando não bem orientados das precauções,  especialmente aqueles que praticaram esportes de contato como o boxe, desenvolvam a Encefalopatia Traumática Crônica (ETC). A ETC é uma condição neurodegenerativa associada a repetidos traumas cranianos, comuns em esportes de contato. Esses traumas podem causar danos cumulativos ao cérebro, levando ao desenvolvimento da doença”, diz o especialista sobre a doença que acomete ex-atletas de boxe.

O médico explica que, para prevenir doenças neurológicas em atletas, é fundamental implementar medidas de segurança rigorosas, “como o uso de equipamentos de proteção adequados, a limitação do número de combates e a implementação de protocolos de avaliação e recuperação após concussões. Além disso, a educação dos atletas e treinadores sobre os riscos e sinais de lesões cerebrais é essencial para a prevenção.”

Maguila começou a lutar boxe aos 17 anos e faleceu aos 66 anos, mas já tratava a doença desde os seus 55 anos. Para o especialista, não se pode dizer que o ex-atleta desenvolveu a doença precocemente.

“O caso de Maguila, que começou a tratar a ETC aos 55 anos, não é necessariamente precoce, pois a doença pode se manifestar em diferentes idades, dependendo da frequência e gravidade dos traumas sofridos ao longo da carreira. Não existe uma idade média específica para o início dos sintomas da ETC, pois a progressão da doença pode variar amplamente entre os indivíduos. Alguns podem apresentar sintomas logo após o término da carreira esportiva, enquanto outros podem demorar décadas para manifestá-los”, observa ele.

A doença não tem cura e o tratamento pode garantir melhor expectativa de vida.

“Atualmente, não há cura para a ETC, e o tratamento é focado no manejo dos sintomas. Isso pode incluir o uso de medicamentos para tratar sintomas como depressão, ansiedade, e distúrbios do sono, além de terapia ocupacional e cognitiva para ajudar a manter a função diária. A reversão completa da doença é considerada improvável, mas intervenções podem ajudar a melhorar a qualidade de vida”, pontua o médico.

“A expectativa de vida de um paciente com ETC pode variar e depende de muitos fatores, incluindo a presença de outras condições de saúde. A qualidade de vida pode ser significativamente impactada, com sintomas como problemas de memória, alterações de humor, e dificuldades motoras, afetando a capacidade de realizar atividades diárias”, complementa ele.

A família de Maguila não esclareceu a causa da morte do ex-atleta, mas o médico explica que pacientes com ETC desenvolvem doenças que podem levar à morte.

“O óbito em pacientes com ETC geralmente não ocorre diretamente devido à doença, mas sim por complicações associadas. A ETC pode aumentar o risco de desenvolver outras condições, como depressão severa, demência, e doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer ou Parkinson, que podem contribuir para a mortalidade. Além disso, a deterioração física e cognitiva pode levar a um aumento no risco de acidentes e outras complicações de saúde”, esclarece ele.

O Dr. Diogo Haddad destaca, ainda, que há a necessidade de mais pesquisas para entender melhor a ETC e desenvolver estratégias de prevenção e tratamento mais eficazes. 

“A conscientização sobre os riscos associados aos esportes de contato é crucial para proteger os atletas atuais e futuros. Além disso, o apoio psicológico e social para os atletas que estão lidando com os efeitos da ETC é fundamental para melhorar sua qualidade de vida. A colaboração entre profissionais de saúde, organizações esportivas e pesquisadores é essencial para abordar essa complexa questão de saúde pública”, finaliza ele.

*Dr. Diogo Haddad CRM 156717/SP é médico neurologista com especialização em Neuroimunologia pelo Centro de Atendimento e Tratamento de Esclerose Múltipla da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (CATEM) e Residência Médica em Neurologia pelo Hospital do Servidor Público Estadual / IAMSPE.