Os gorilas-ocidentais de República Centro-Africana se deslocam em grupo, mas apenas após a “votação” de indivíduos suficientes, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira (23) em uma revista da Royal Society britânica.

A espécie também chamada “Gorilla gorilla” se vê obrigada, devido a uma dieta em grande parte baseada em frutas, a deslocamentos constantes e um conhecimento detalhado de sua área de habitat.

Eles vivem em pequenos grupos formados por algumas fêmeas e alguns filhotes, sob a proteção de um único macho, cuja pelagem grisalha lhe dá o apelido de “dorso prateado”.

Com seus 160 quilos, o dobro do peso da fêmea, e seu status dominante, teoricamente era ele quem decidia os movimentos do grupo. Porém, um estudo de Lara Nellissen, doutorando na Universidade Suíça de Neuchâtel, publicado na revista Proceedings B, contraria este cenário.

“Para os gorilas é crucial manter a coesão do grupo”, explica ela, citada em um comunicado. “Observamos que os gorilas vocalizam antes de se movimentar para garantir que todos estejam de acordo”, detalha.

Até agora, esse comportamento foi documentado em suricatos, cães selvagens e até mesmo em macacas tonkeanas.

O estudo, supervisionado por Shelly Masi, primatologista do Museu Nacional de História Natural, levou Nellissen à reserva protegida Dzanga Sangha, no sudoeste da República Centro-Africana.

Durante 11 meses, ela acompanhou três pequenos grupos de gorilas-ocidentais, concentrando-se nos “dorsos prateados”, fêmeas adultas e machos jovens, registrando seus movimentos e vocalizações, compostas principalmente por grunhidos.

– “Votos” sobre um projeto comum –

A equipe de pesquisadores observou um aumento significativo nas vocalizações do grupo nos cinco minutos anteriores aos deslocamentos. “É plausível que os grunhidos funcionem como ‘votos’ em um projeto comum”, segundo o estudo.

Todos os adultos iniciaram pelo menos um deslocamento, afastando-se consideravelmente do grupo, sendo seguidos pelos demais dois terços dos casos.

Esta iniciativa foi observada com mais frequência em gorilas de alto escalão, especialmente “dorsos prateados”. O comportamento coincide com o papel atribuído aos “mais velhos”, que supostamente conhecem melhor as fontes de recursos do que os outros.

Além disso, os pesquisadores notaram uma relação entre o número de indivíduos vocalizando e a probabilidade de essa troca levar a um movimento.

“Observamos que os gorilas eram mais propensos a se mudar se um grande número de membros do grupo tivesse vocalizado”, explica Nellissen.

“O que sugere que os gorilas poderiam responder a um quórum. Quando um número limite de indivíduos se manifesta a favor de um comportamento, todo o grupo o adota”, destaca.

O próximo desafio é tentar compreender o conteúdo das trocas prévias aos deslocamentos, com a ajuda indispensável dos indígenas ba’Aka, que ajudaram os pesquisadores a atribuir os grunhidos a indivíduos específicos do grupo.

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