O escritor francês Édouard Louis, que veio ao Brasil para participar da Flip 2024, foi entrevistado no Roda Viva, da TV Cultura. No programa, que foi ao ar na segunda-feira, 21, falou sobre sua homossexualidade, e como o machismo presente no ambiente em que cresceu impediu que tivesse uma boa relação com o pai – temática frequente em seus livros, publicados no País pelas editoras Tusquets e Todavia.
“Posso dizer que, assim que nasci, quando aprendi a falar, a me movimentar, a andar, eu estilhacei os sonhos do meu pai”, começou o autor, em resposta a uma pergunta do advogado e influenciador literário Pedro Pacífico. “Meu pai sonhava em ter um filho másculo, durão, que jogasse futebol, que gostasse de mulher. Eu era um rapazinho gay, efeminado, que desejava outros rapazes, que tinha horror a esportes”, continuou.
Ele afirma que isso foi uma forma de traição para o pai. “Eu traí a masculinidade dele porque, para que ele mesmo produzisse essa masculinidade, ele precisava ter um filho macho. Eu nunca consegui ser a pessoa que esperavam e sofri muito com as violências que conto nos meus livros, desde que vim ao mundo. Me chamavam de bicha, biba, maricas, veado. Mas no fim, o que tento entender é o modo como essa violência me salvou, porque ela não me deixou outra escolha senão ir embora”, refletiu.
Em seu romance de estreia O Fim de Eddy (Ed. Tusquets), por exemplo, o autor faz um retrato autobiográfico a partir da casa miserável, no centro da vila operária falida no norte da França, onde, até a adolescência, enfrentou as piores violências e humilhações.
Para ele, seus livros são uma forma de “guerra” contra a literatura que insiste em retratar histórias de pessoas que fugiram desses ambientes como se fossem mais inteligentes, livres e sensíveis do que outros. “Eu não era mais sensível. Era simplesmente excluído”, argumentou no Roda Viva.