Entre as maiores capitais que elegerão novos prefeitos no segundo turno, em 27 de outubro, não há disputa tão acirrada quanto Fortaleza, como demonstram as pesquisas de intenção de voto e os movimentos de campanha na capital do Ceará.

Na reta final da campanha, institutos que adotam metodologias diferentes para conhecer a opinião dos eleitores registraram cenários de empates técnicos e numéricos entre André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT). No primeiro turno, André teve 40,20%, e Evandro, 34,33% dos votos válidos.

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Na quinta-feira, 17, o Datafolha mostrou o deputado do PL com 45% das intenções de voto, e o petista com 43%, com margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos. Em pesquisa Atlas divulgada na mesma data, 50% a 47,9% a favor do bolsonarista, e margem de erro de dois pontos. A Quaest colocou a dupla em empate numérico — ambos com 43%.

Neste texto, o site IstoÉ mostra quais fatores pesam a favor de cada um dos postulantes ao Palácio do Bispo na última semana que eles têm para buscar votos.

André e o caminho até a moderação

Esperança de um bolsonarismo nacionalmente abalado pela inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL), André tem uma atuação política marcada pela defesa de pautas radicais da direita desde que se tornou deputado estadual, em 2019, e manteve a linha na Câmara dos Deputados.

No período, compartilhou notícias falsas a respeito da pandemia de covid-19, fez discursos vorazes contra o STF (Supremo Tribunal Federal) e virou investigado pela corte por suspeita de incitar os atos criminosos de 8 de janeiro. A trajetória assegurou ao candidato o voto bolsonarista no primeiro turno, em “vitória prévia” contra Capitão Wagner (União Brasil), que teve 11,40% dos votos, na disputa pelo campo.

Para o confronto direto com Evandro, o deputado do PL inverteu a rota. Em debates, entrevistas e na propaganda eleitoral, tem apostado na moderação e em falar das questões do município. Além do discurso, as agendas concentradas na periferia da cidade e a ampliação do arco de alianças têm sido trunfos para André amealhar um eleitorado que não está na direita — e sem o qual não seria possível vencer a eleição.

Capitão Wagner (União), à esquerda, e Roberto Cláudio (PDT), à direita: apoios relevantes para André Fernandes (PL), no centro | Reprodução/Redes sociais
Capitão Wagner (União), à esquerda, e Roberto Cláudio (PDT), à direita: apoios relevantes para André Fernandes (PL), no centro | Reprodução/Redes sociais

Depois de ganhar o apoio de Capitão Wagner, André cedeu um palanque inusitado a Roberto Cláudio (PDT), que governou a cidade de 2013 a 2020 e encerrou o mandato com um alto índice de aprovação. O pedetista não apenas publicizou o voto, como apareceu na propaganda de TV e foi a uma agenda de rua do postulante, à revelia da direção nacional de sua sigla. Além do ex-prefeito, seis dos oito vereadores do PDT na capital anunciaram apoio ao bolsonarista, que ganhou ainda o endosso de representantes de União Brasil, PSDB, Mobiliza, Podemos, PRD e Avante — sua chapa não tem partidos além do próprio PL.

Embora o prefeito José Sarto (PDT) — principal alvo de André no primeiro turno — tenha ficado neutro, a exoneração de secretários que anunciaram voto em Evandro, revelada pelo jornal O Povo, e o engajamento do padrinho Roberto Cláudio bastaram para que o concorrente do PL saltasse de 23% para 38% em intenção de voto daqueles que votaram no incumbente no primeiro turno (11,75%), de acordo com o Datafolha. O petista, por sua vez, caiu de 66% para 51% no grupo, que é restrito, mas pode pesar em uma corrida tão parelha.

Evandro e o esforço pela nacionalização

Evandro tem reforçado a aposta na nacionalização da campanha, a exemplo do que faz Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo, com base no desempenho registrado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas de Fortaleza em 2022 — no segundo turno em questão, o petista teve 58,18% dos votos para presidente na cidade –, já que enfrenta um bolsonarista. Em comícios, o postulante e seus cabos eleitorais falam em “combate ao fascismo” e “defesa da democracia”, discursos que protagonizaram aquele pleito federal.

Depois de uma participação tímida no primeiro turno, Lula foi a um comício do aliado cearense já em 11 de outubro e mostrou “conhecimento de causa”, chamando André de “negacionista”. Além do presidente, Evandro investe na associação com Camilo Santana, ministro da Educação e ex-governador do Ceará, e Elmano de Freitas, atual governador do estado, para basear a campanha na alcunha “Fortaleza quatro vezes mais forte” — em alusão aos quatro petistas que trabalhariam pelo município na sua gestão.

Evandro Leitão (PT) e João Campos (PSB): candidato em Fortaleza ganhou apoio de prefeito do Recife | Reprodução/Redes sociais
Evandro Leitão (PT) e João Campos (PSB): candidato em Fortaleza ganhou apoio de prefeito do Recife | Reprodução/Redes sociais

Ampliando a estratégia de expandir as fronteiras do embate, Evandro dividiu palanque com o prefeito do Recife, João Campos (PSB), na quarta-feira, 16, e com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), na quinta, 17.

Mas quem pode atribuir peso à busca por votos é uma personagem local: a deputada Luizianne Lins. Colega de partido de Evandro, ela não pisou em seu palanque no primeiro turno depois de ser preterida por ele na disputa interna pela candidatura. Prefeita da cidade de 2005 a 2012, Luizianne — sua ausência, no caso — foi apontada como um dos entraves para que o petista não tenha conquistado mais votos nas regiões periféricas da cidade. No mesmo ato de que Lula participou, a ex-prefeita enfim pediu votos ao correligionário.

A nível municipal, Evandro ainda tem mais apoios de vereadores — são 23, contra 20 do oponente –, mas a maior parte já estava com ele no primeiro turno em razão da ampla chapa que o sustenta (além de PT e dos federados PCdoB e PV, estão nela PSD, PSB, PP, Republicanos e MDB). No PDT do prefeito, nacionalmente favorável ao petista no segundo turno, apenas Dr. Luciano Girão e Adail Jr. bandearam para esse palanque.

Os efeitos

Para entender os impactos que os movimentos dos dois candidatos podem ter nas urnas de Fortaleza em, o site IstoÉ entrevistou Monalisa Torres, professora de teoria política da UECE (Universidade Estadual do Ceará).

“É pouco producente que o Evandro reforce a associação a Lula”. Ainda que a presença do presidente na campanha tenha simbolismo, o candidato já era reconhecido pelo apoio do líder petista na votação de 6 de outubro.

“Figuras externas à cidade têm um teto de influência mais baixo”. Não à toa, a participação de João Campos se deu em uma agenda — na Gentilândia, bairro do Benfica — voltada ao público mais progressista.

“Lideranças locais, como Luizianne e Roberto Cláudio, são influências mais relevantes”. A ex-prefeita tem capilaridade em determinados segmentos, como o eleitorado de periferia, que foi beneficiado por suas gestões. Mas a campanha do Evandro não a utilizou em nenhuma peça publicitária, e o PT perde a oportunidade de tê-la mais perto neste momento. Já o ex-prefeito, que carrega a memória recente de uma gestão muito popular, embarcou de cabeça na campanha do André.

“O André sinalizou a um eleitor que está além da direita”. Embora o Capitão Wagner fosse esperado — os dois foram aliados anteriormente e têm um alinhamento ideológico –, a adesão de lideranças do PDT representa uma ampliação. É o grande fato político dessa reta final.