Nos bastidores do PT, têm sido cada vez mais recorrentes as queixas sobre um suposto corpo mole que parte dos petistas de São Paulo estaria fazendo na disputa pela prefeitura da cidade. Os principais alvos das reclamações são vereadores petistas que, a despeito do apoio oficial da sigla a Guilherme Boulos, estariam pouco engajados na tentativa de eleger o aliado, do PSOL. A falta de empenho, dizem os críticos, esconde uma espécie de apoio velado desses mesmos petistas a Ricardo Nunes, do MDB, candidato à reeleição.

Embora sejam feitas à boca miúda, as queixas carregam nome e sobrenome. São dirigidas, principalmente, a cinco dos atuais oito vereadores do partido: Alessandro Guedes, Arselino Tatto, Jair Tatto, Manoel Del Rio e Senival Moura. Desse grupo, apenas Arselino não foi reeleito na última eleição municipal.

Junto com a desconfiança acerca do tal corpo mole na campanha são apontados outros sinais de alinhamento dos mesmos vereadores com Nunes. Em junho, o quinteto votou favoravelmente à revisão do Plano Diretor do município, proposta pelo emedebista – eles se defendem, no entanto, com o argumento de que a executiva municipal do PT recomendou voto favorável.

Os vereadores se uniram também em outros momentos em votações nas quais acompanharam a bancada que apoia o prefeito na Câmara. Para petistas que os acusam, os cinco fazem uma espécie de “oposição consentida” a Nunes.

Um político aliado da família Tatto – que tem ainda os deputados federais Jilmar Tatto e Nilto Tatto e o deputado estadual Enio Tatto – disse, sob reserva, acreditar que Nunes dificilmente perderá a eleição em São Paulo. E elogiou o prefeito. “É um homem que dialoga com todo o mundo”, afirmou.

Ao PlatôBR, outro dirigente do PT em São Paulo que pediu para não ter o nome revelado ponderou que os cinco vereadores fizeram, sim, campanha por Guilherme Boulos, mas pouparam Nunes. Segundo esse dirigente, eles elogiavam Boulos para os eleitores, “mas sem atacar o prefeito” ou criticar a sua atuação em temas importantes.

Em nenhum momento, emendou esse dirigente, os cinco vereadores deixaram de colocar o nome de Boulos em materiais de campanha, pois isso seria “inadmissível e impensável” – e qualquer militante poderia encaminhar, internamente, denúncias contra eles.

Um outro petista disse que, agora na disputa do segundo turno, o partido liberou a contratação de cabos eleitorais para atuar na campanha e que, para isso, foi definida uma cota para cada vereador convidar as pessoas de seu interesse para fazer o serviço. Parte dos vereadores reeleitos, porém, nem sequer requisitaram a cota a que têm direito, de acordo com essa fonte.

Aliança em projeto de Nunes

A aproximação do vereador Manoel Del Rio com a bancada pró-Nunes na Câmara Municipal teria ocorrido, segundo correligionários, em virtude de ele ser advogado da Frente de Luta por Moradia em São Paulo, que negocia com a prefeitura a cessão de prédios ocupados na cidade.

A gestão de Ricardo Nunes, por meio de um de seus programas de moradia, tem reformado prédios ocupados e repassado para movimentos sociais. Para conseguir mais imóveis, Del Rio e a Frente de Moradia teriam se aproximado do prefeito.

Tatto: “É pura futrica”

O deputado federal Jilmar Tatto, irmão de Arselino e Jair e secretário nacional de Comunicação do PT, reagiu duramente às críticas feitas ao grupo de vereadores. “Não é isso o que eu tenho ouvido do Boulos. Não é isso o que eu tenho ouvido da Marta Suplicy (candidata do PT a vice-prefeita) nem da direção do PT. Quem fala isso não tem o que fazer da vida. É pura futrica”, afirmou.

Para Jilmar Tatto, “basta olhar as redes sociais, as plenárias, as falas dos vereadores e suas reuniões, para ver que isso não procede e não condiz com a verdade”. “Hoje tudo é público. É futrica de gente pequena, de gente que quer fazer balanço antes de ter o resultado da eleição”, disse.

Jilmar Tatto afirmou ainda que seu irmão Arselino fez no último dia 10 de outubro uma reunião com todo o seu grupo de apoiadores para organizar atividades pró-Boulos. “E no dia anterior esteve em atividade com Boulos no Largo 13 (em Santo Amaro, zona sul de São Paulo).”

O vereador Alessandro Guedes disse que as críticas não procedem. “Essa informação não condiz com a verdade. Estamos empenhados nesse segundo turno em prol da vitória de Guilherme Boulos para a prefeitura de São Paulo, inclusive para reverter a votação dele em algumas zonas eleitorais onde ele não foi vitorioso no primeiro turno”, afirmou o vereador, em nota.

A assessoria do vereador Manoel Del Rio seguiu a mesma linha. Negou que ele não estaria se empenhando na campanha e disse “ser normal, em um partido como o PT, que haja vozes discordantes e conflitantes” sobre determinados temas.

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