A Suprema Corte do Texas, sul dos Estados Unidos, aceitou um pedido de última hora para suspender a execução de Robert Roberson na quinta-feira (17), em meio aos esforços do homems diagnosticado com autismo para demonstrar sua inocência na morte da filha de dois anos.

Na decisão, um juiz do principal tribunal do estado aceitou o pedido dos legisladores locais democratas e republicanos para que Roberson compareça a uma comissão da Câmara de Representantes do Congresso do Texas que avalia o caso, o que suspendeu a execução, embora a condenação permaneça válida.

“Se a sentença for executada, a testemunha obviamente não poderá comparecer”, afirmou o juiz Evan Young.

Roberson, 57 anos, foi condenado por provocar a morte da filha Nikki em 2002, que ele levou ao hospital em estado grave. Mas ele nega as acusações e até um dos seus acusadores fez uma retratação e pediu perdão.

“A grande equipe que luta por Robert Roberson está eufórica porque um grupo de legisladores do Texas decidiu investigar de maneira profunda o caso, que nenhum tribunal havia considerado até agora, e reconheceu que valia a pena lutar por sua vida”, disse a advogada de Roberson, Gretchen Sween.

“Robert vive para lutar mais um dia”, acrescentou.

“Depois de ser comunicado sobre a suspensão, Roberson louvou a Deus e agradeceu aos que o apoiaram”, disse uma porta-voz do Departamento de Justiça Criminal do Texas.

A causa da morte da menina, que sofria de uma doença crônica, foi diagnosticada no hospital como ‘síndrome do bebê sacudido’, ou seja, ela apresentava lesões em consequência de supostamente ter sido sacudida de maneira brusca e repetida pelo pai.

A advogada de defesa afirma que o diagnóstico foi errado porque a criança faleceu vítima de uma pneumonia que se agravou quando os médicos prescreveram um tratamento inadequado.

“Há novas evidências científicas e médicas esmagadoras que demonstram que a menina morreu de causas naturais e acidentais, não por abuso”, declarou Sween recentemente.

– Batalha –

Na última semana, o Comitê de Indultos do Texas negou por unanimidade um pedido dos advogados para recomendar que o governador, o conservador Greg Abbott, concedesse clemência a Roberson.

Abbott não poderia conceder clemência sem o consentimento do comitê, mas ele poderia adiar a execução por 30 dias, mas não se pronunciou sobre o caso.

A Suprema Corte dos Estados Unidos, de maioria conservadora, também negou um pedido para suspender a execução.

“A ideia de que a morte de Nikki foi causada por abuso – na forma de sacudidas violentas e talvez um golpe contundente – foi presumida com base nas crenças médicas em vigor na época, mas desde então foi demonstrado que carecem de respaldo científico”, explicou Sween na sua petição à Suprema Corte.

Como último recurso, um comitê de deputados estaduais republicanos e democratas do Texas pediu à Justiça que permitisse uma entrevista com Roberson antes da execução. O pedido foi inicialmente aceito por um juiz distrital do Texas, depois rejeitado por um tribunal de apelações e finalmente aceito por um juiz da Suprema Corte estadual.

Também na quinta-feira, Derrick Dearman, 36 anos, condenado pelo homicídio confesso de cinco pessoas que eram parentes de sua namorada, recebeu a injeção letal no estado do Alabama.

– Acusador arrependido –

O caso de Roberson chamou a atenção do ‘Innocence Project’ (Projeto Inocência), que trabalha para anular condenações injustas, assim como do escritor americano John Grisham, de legisladores do Texas e de especialistas médicos.

Entre os que tentam impedir a execução também está o homem que o colocou atrás das grades: Brian Wharton, o ex-detetive que comandou a investigação.

“Sabendo tudo o que sei agora, estou convencido de que Robert é um homem inocente”, disse Wharton em uma recente entrevista coletiva.

“Sempre serei atormentado pelo papel que desempenhei ao ajudar o Estado a colocar este homem inocente no corredor da morte (…). O caso de Robert será sempre um fardo em meui coração e na minha alma”, acrescentou.

“O surpreendente no caso de Robert é que não houve crime”, disse Grisham.

Kate Judson, do Centro para Integridade em Ciências Forenses, disse que mais de 30 pais e cuidadores em 18 estados americanos foram inocentados após serem injustamente condenados com a utilização do argumento “não científico” do bebê sacudido.

Desde o início do ano, 20 condenados foram executados nos Estados Unidos.