31/01/2011 - 17:06
O coelho está se tornando um animal onipresente na China, seja em ensopados, como animal de estimação ou enfeite de vitrines de lojas, à medida que milhões de chineses se preparam para comemorar a chegada do Ano Novo lunar, contando com tempos mais calmos, depois dos últimos rugidos do Tigre, que dominou o período que chega ao fim.
O 1,3 bilhão de chineses celebrará a chegada do Ano do Coelho na madrugada de 2 a 3 de fevereiro, em um importante evento familiar, marcado por festas e queimas de fogos de artifício. Ocupando a quarta posição do zodíaco chinês, o coelho é estreitamente ligado à lua e simboliza felicidade e sorte. Muitos, inclusive bancos e corretoras, contam com a calma e a sensibilidade do coelho, profetizando 12 meses de calmaria depois de o tigre levar uma série de desastres naturais fatais para a China, tais como terremotos e enxurradas.
A corretora e grupo de investimentos CLSA previu em seu último ‘Índice Feng Shui’ que o coelho terá um efeito positivo para o mercado de ações. "Um coelho branco renomadamente plácido, belo e previdente tomará os domínios do decididamente desagradável e errático tigre, que tem sacudido e revirado os mercados nos últimos 12 meses", destacou.
Os coelhos de um desenho animado que viraram febre na internet chinesa transmitem essa ideia de tranquilidade. Sua revolta contra os tigres, os brutais chefes supremos – uma referência velada aos gestores da China comunista – tornou-se um hit antes de o vídeo ser tirado do ar por censores. Mas, embora muitos atribuam qualidades tranquilizadoras ao coelho, este não deve ser um bom ano para o animal na China.
Restaurantes de todo o país oferecem no cardápio iguarias feitas com carne coelho como parte de seus banquetes de Ano Novo e o grupo de defesa dos direitos dos animais PETA (Pelo Tratamento Ético dos Animais), instou a atriz Gong Li a parar de vestir peles do animal. Os chineses também têm corrido para comprar coelhos para criar como animais de estimação, despertando a preocupação entre os ativistas de direitos dos animais de que os bichinhos fofinhos possam vir a sofrer maus tratos ou ser abandonados, assim que a novidade passar.
Mas para pessoas como Zhao Jizhang, que vende coelhinhos em gaiolas perto de um mercado ao ar livre de Pequim, este ano é uma bênção. "As pessoas os compram por causa do Ano do Coelho", explicou Zhao, que cobra 30 iuanes (US$ 4,60) por animal, uma pechincha em comparação com o preço médio de 150 iuanes cobrados em lojas de animais tradicionais para espécimes maiores.
Mas um coelho em especial custa ainda mais: o branco Hotot, que tem um círculo negro em volta dos olhos, o que lhe rendeu o apelido de ‘coelho panda’, um sonho de consumo em um país onde os pandas gigantes são um amado símbolo nacional. Seja como for, este ano os chineses juntarão as mãos seguindo um costume da véspera do Ano Novo para desejar aos entes queridos sucesso e felicidade. Mas desta vez, erguerão os polegares para imitar as orelhas dos coelhos.
O gesto é descrito como muito ‘geili’, expressão moderna que virou febre na web e que literalmente se traduz como ‘dar poder’, mas também se usa para designar algo que é ‘legal’. A internet é a ferramenta do frenezi de consumo do Ano Novo chinês, disponibilizando milhares de descontos online oferecidos para todo tipo de coisa, de comida a viagens. Um destino popular é o festival de esculturas na neve e no gelo da cidade de Harbin (nordeste), considerado o maior do mundo, onde os turistas poderão ver coelhos gigantes de gelo, esculpidos a uma temperatura de até 28 graus Celsius negativos.
O site iTunes, da Apple, disponibilizou uma variedade de aplicativos comemorativos para iPhone, como fogos de artifício virtuais que espocam quando o telefone é sacudido, um kit para customizar fotos com orelhas de coelho ou horóscopos para o ano novo lunar. Até mesmo o serviço postal chinês entrou na onda do coelho, com o lançamento de uma série de selos especiais no começo de janeiro que se esgotaram em questão de horas. Selos com ilustrações de coelhos, lançados em 1987 e 1999, os últimos dois anos do coelho, foram vendidos a preços até 125 vezes mais caros do que o valor original.