As duas capitais mais populosas em que o PT avançou ao segundo turno nas eleições municipais foram Fortaleza, com Evandro Leitão, Porto Alegre, com Maria do Rosário

Em comum, a terceira candidatura mais popular em ambas as cidades foi do PDT. Na capital cearense, o prefeito José Sarto recebeu 11,75% dos votos válidos e não conseguiu se reeleger, enquanto a deputada estadual Juliana Brizola teve 19,69% na disputa pela capital gaúcha.

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Reflexo nacional

O cenário em Fortaleza é palco principal da intempestiva relação nacional entre PDT e PT. Eterno presidenciável pedetista, Ciro Gomes tem o Ceará como seu berço político — foi prefeito da capital e governador do estado — e, por se opor ao petismo, protagonizou um conflito com o próprio irmão, o senador Cid Gomes (PSB-CE), que rompeu com Ciro e abandonou o PDT por defender uma aliança estadual entre as duas legendas.

André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) disputarão segundo turno em Fortaleza | Montagem/IstoÉ
André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) disputarão segundo turno em Fortaleza | Montagem/IstoÉ

Na cisão, também desembarcaram da sigla nomes como a ex-governadora Izolda Cela (hoje no PSB) e o deputado estadual Evandro Leitão, o mesmo que agora representa o PT no segundo turno fortalezense. O PDT se manteve na base do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do qual ocupa um ministério (da Previdência, com Carlos Lupi), mas o deputado André Figueiredo (PDT-CE) criticou o esforço de Lula pela candidatura petista na cidade, essencial para a legenda aliada — além de Fortaleza, os trabalhistas só comandam Aracaju entre as capitais.

No primeiro turno, Leitão e Sarto brigaram pelo eleitorado associado à esquerda, e o ex-correligionário do prefeito não o poupou de críticas por medidas impopulares adotadas na gestão — como a taxação do lixo. No único pronunciamento desde a apuração, o pedetista afirmou estar “discutindo com lideranças do partido” qual postura adotar no segundo turno. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo na quarta, 9, Leitão disse acreditar na possibilidade de se reaproximar do PDT para “enfrentar a extrema direita, o fascismo, o bolsonarismo” — seu adversário em 27 de outubro será o deputado André Fernandes (PL), e o eventual apoio de Sarto pode ser essencial para derrotá-lo.

Sebastião Melo (MDB), prefeito e candidato à reeleição em Porto Alegre, enfrenta Maria do Rosário (PT) no pleito | Montagem/IstoÉ
Sebastião Melo (MDB), prefeito e candidato à reeleição em Porto Alegre, enfrenta Maria do Rosário (PT) no pleito | Montagem/IstoÉ

Agruras de eleições passadas

Em Porto Alegre, as forças e heranças locais dão tom ao embate. A fratura no campo da esquerda quase deu a Sebastião Melo (MDB) uma reeleição em primeiro turno — o prefeito teve 49,72% dos votos válidos –, mas não foi novidade para o eleitorado da cidade.

Embora milite pelo trabalhismo desde que ingressou na política — herança do avô Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul –, Juliana Brizola se distanciou de parte das forças gaúchas de esquerda e chegou a ser candidata a vice-prefeita do próprio Melo, em 2016. Em 2020, levantou críticas ao petismo ao lançar candidatura contra Manuela D’Ávila (PCdoB), apoiada pelo PT e derrotada por Melo no segundo turno.

Diante do impasse colocado, a parlamentar trilhou um caminho alheio ao PT para se candidatar em 2024, atraindo o PSDB do governador Eduardo Leite para seu palanque, e associou Rosário ao “ranço ideológico”. A petista, por sua vez, mirou na gestão do atual prefeito e, após a apuração, classificou um eventual apoio de Juliana como “importantíssimo” — com 26,28%, ela teve somente 45.770 votos a mais do que a oponente. Em entrevista ao jornal Zero Hora, Juliana indicou que o PDT deve estar com Rosário no segundo turno, mas negou a possibilidade de um “apoio engajado” à deputada.