Seis migrantes foram mortos a tiros na noite de terça-feira por soldados mexicanos que os confundiram com supostos criminosos em uma estrada no estado de Chiapas, no sul do país, informou o Ministério da Defesa (Sedena) na quarta-feira (2).

Quatro dos migrantes morreram no local do incidente, outros dois morreram enquanto recebiam antedimento em um hospital da região, informou o Sedena.

Os fatos ocorreram no mesmo dia em que Claudia Sheinbaum tomou posse como primeira presidente da história do México e afirmou em discurso a milhares de apoiadores que é “falso” que haja militarização do país e que “não há violações dos direitos humanos”.

Na terça-feira, a porta-voz do gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ONU-DH) disse à nova presidente que o órgão está “preocupado com o papel cada vez mais importante que os militares têm assumido na segurança pública e outras funções de aplicação da lei”.

Nesta quinta-feira (3), Sheinbaum classificou o incidente como “lamentável” e declarou que “uma situação como esta não pode se repetir”.

“É um fato lamentável e deve ser investigado e punido”, disse a presidente em sua coletiva de imprensa matinal, especificando que as vítimas eram do Egito, El Salvador e Peru.

A chefe de Estado afirmou ainda que as autoridades mexicanas “estão em contato com as embaixadas para prestar apoio aos familiares das pessoas que morreram” e os soldados “já estão à disposição da Procuradoria-Geral da República”, responsável pela investigação.

O grupo de 33 migrantes viajava em um comboio de três caminhões. Havia cidadãos “de nacionalidade egípcia, nepalesa, cubana, hindu, paquistanesa”, acrescentou o Sedena, sem especificar a origem dos mortos.

O Ministério das Relações Exteriores do Peru informou que um de seus cidadãos também está entre as vítimas, segundo informações do seu homólogo mexicano, e condenou “veementemente” o incidente.

O comunicado do escritório da ONU-DH no México também expressou “preocupação” com a criminalidade e destacou os “grandes riscos” enfrentados pelos migrantes.

– Soldados denunciados –

Os fatos ocorreram por volta das 20h50, horário local, de terça-feira (23h50 em Brasília), em uma rodovia localizada a cerca de 80 quilômetros da fronteira entre o México e a Guatemala, onde os militares realizavam trabalhos de reconhecimento terrestre.

Um dos caminhões “seguia em alta velocidade” e “quando viu os militares fugiu”. Os outros dois eram “como os utilizados por grupos criminosos naquela região”, explicou a secretaria no comunicado.

“Os militares relataram ter ouvido explosões, então dois elementos acionaram suas armas” fazendo com que os veículos parassem, acrescentou.

Relatos da polícia local indicam que os militares perseguiram o comboio durante vários quilômetros e que um dos veículos saiu da estrada tentando enganar os soldados, sem sucesso.

O Sedena informou que outros 10 migrantes ficaram feridos, enquanto os demais 17 saíram ilesos e foram entregues ao Instituto Nacional de Migrações.

O ministério afirmou ainda que os dois soldados que dispararam “foram afastados de suas funções” e por se tratar de um incidente que afetou civis, foram denunciados à Procuradoria-Geral mexicana.

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