O jovem Miguel Rosa dos Santos, de apenas nove anos, possui TEA (Transtorno do Espectro Autista) e superdotação. O garoto, que reside em Presidente Prudente (SP) – a cerca de 560 quilômetros da capital paulista – já descobriu 250 exoplanetas, detectou 74 asteroides preliminares e venceu 69 medalhas em olimpíadas de exatas, sendo nove internacionais.

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Além das premiações e descobertas, Miguel foi aprovado em um vestibular da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) e convidado pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) a participar como aluno ouvinte de graduação em Física. O jovem também integra o Parlamento Jovem da Câmara Municipal de Presidente Prudente, por considerar que as leis relativas à inclusão e educação “precisavam de algumas mudanças”.

Diagnóstico

Conheça menino de nove anos com espectro autista aprovado em vestibular para engenhariaA mãe do jovem relata que percebeu os sinais do TEA no garoto quando ele ainda era um bebê (Crédito: Arquivo Pessoal)

A professora da rede pública de ensino Josiane dos Santos, mãe de Miguel, conta que percebeu os primeiros sinais de autismo quando o garoto ainda era bebê. “Ele não fixava olhar, não gostava de toque, tinha seletividade alimentar e andava na ponta dos pés, mas ele nunca teve atraso. Pelo contrário. A superdotação foi uma surpresa, achávamos que era do hiperfoco.”, explica a mulher, acrescentando que desde um ano de idade, o menino já conseguia fazer cálculos de adição e subtração, além de algumas de multiplicação.

Segundo a mãe, a família optou por conseguir um diagnóstico a Miguel apenas quando ele começasse a escola, entretanto, no que seria o primeiro ano do menino em uma instituição de ensino, ele sofreu uma parada cardíaca. “Ele ficou entre idas e vindas ao hospital. Nesse meio tempo, ele aprendeu a ler e escrever”.

Conforme Josiane, os dois anos depois de o jovem passar por problemas de saúde, houve a Pandemia de Covid-19, o que impediu o garoto de frequentar a escola. “O ano passado ele frequentou até meio do ano e depois ficou em ensino domiciliar. Esse ele está ‘indo bonitinho’”, relata a professora.

De acordo com a mulher, o professor da escola em que Miguel estudava sugeriu que seria necessário um diagnóstico ao menino após perceber a falta de socialização dele com outras crianças. “Resolvemos procurar um especialista em TEA, um neuropediatra, aí ele avaliou, olhou os exames, relatórios e diagnosticou.”

Posteriormente, o especialista apontou que Miguel possuía “no mínimo altas habilidades”, pelo fato de o garoto conseguir fazer frases completas desde quando ainda tinha um ano de idade. “Aí que nós fomos procurar avaliação para fazer o teste do QI”, afirma a mãe, acrescentando que, após o teste, foi confirmada a superdotação do menino.

Interesse em foguetes e espaço

Conheça menino de nove anos com espectro autista aprovado em vestibular para engenhariaMiguel ficou fascinado pelo espaço após descobrir que os dinossauros haviam sido extintos por um asteroide (Crédito: Arquivo Pessoal)

Até os quatro anos de idade, o interesse maior de Miguel era em dinossauros, o que mudou quando ele descobriu que os animais foram extintos há milhões de anos em decorrência da colisão de um asteroide com a Terra. “Ele ficou fascinado e voltou o foco todo para o espaço. Foi quando ele resolveu que seria engenheiro aeroespacial”, relata Josiane.

Depois de desenvolver um interesse pelo universo, Miguel se interessou pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e foi convidado por engenheiros da instituição para uma mentoria após ganhar um prêmio em 2022, sendo orientado pelos profissionais a entrar em programas de ciência cidadã da Nasa, agência espacial americana.

“Ele começou primeiro com Caça Asteroides e, no ano passado, conheceu o Detetives da Galáxia, que é para catalogar exoplanetas”. De acordo com a mãe, em algumas competições de medalhas, Miguel acaba por disputar com estudantes mais velhos.

“Desde o ano passado ele já frequenta a Unesp. Ele fez aulas de impressão 3D e programação. Ele cursa como aluno ouvinte de graduação em Física. Realiza as mesmas atividades dos outros”, explica Josiane.

De acordo com a mulher, o jovem demonstrou a intenção de fazer a prova do ITA, mas os pais não gostaram da ideia pelo fato de a prova deixar o menino com ansiedade. “Ele pediu para prestar uma aqui e nós deixamos, mas imaginávamos que ele não iria passar. Quando saiu o resultado ele tinha sido aprovado na Unoeste por Engenharia de Software.”

Apesar de não poder cursar na faculdade por conta da idade, Miguel visitou o campus da instituição de ensino e conversou com os professores.

O jovem também integra a Mensa, uma instituição que identifica pessoas com altas habilidades, e a IIS (Infinity International Society), que também inclui superdotados.

Vida na escola

Conheça menino de nove anos com espectro autista aprovado em vestibular para engenhariaDe acordo com Josiane Santos, Miguel já conquistou 69 medalhas em olimpíadas de exatas (Crédito: Arquivo Pessoal)

Por ter TEA e superdotação, Miguel sente dificuldade em se adaptar com os colegas de classe e já teve que mudar de escola por sofrer bullying e agressões físicas de outros alunos. “Ele não tem paciência com as crianças da idade dele, ele acha os assuntos chatos”, conta a mãe, acrescentando que, a instituição de ensino onde o jovem estuda atualmente, que é da rede pública, trabalha para melhorar a socialização do jovem.

Segundo Josiane, o menino não pode participar das atividades físicas por conta de seus problemas cardíacos. “Ele acaba se distanciando um pouco mais por conta disso”, comenta a mãe.

A professora também aponta que existe um esforço da família para que, além da vida acadêmica, Miguel tenha desenvolvimento de sua infância. “Para ele essas coisas são brincadeiras, ele se diverte. Competir na olimpíada ele fala que é como se fosse um jogo”, pontua a mãe.

Em decorrência de seus problemas de saúde, Miguel costuma se divertir com jogos de tabuleiro e de estratégia. “Ele mesmo cria os brinquedos dele. Monta carrinho, robô usando material reciclado, componentes eletrônicos e programação. Ele se diverte como criança mas ‘do jeitinho dele’.”

Para o futuro, Miguel espera que ele consiga passar no ITA até os 14 anos e ser um engenheiro aeroespacial formado pela instituição. “Ele diz que quer construir a Nasa brasileira”, relata a mãe.

**Estagiário sob supervisão