Ricardo Nunes (MDB) liderou a pesquisa Quaest pela prefeitura de São Paulo divulgada nesta terça-feira, 24, com 25% das intenções de voto.

Guilherme Boulos (PSOL) liderou o levantamento mais recente da AtlasIntel pelo cargo, com 28,3%. Na Real Time Big Data, teve 24%, atrás justamente de Nunes, que teve 27%. Os dois institutos divulgaram seus levantamentos na segunda, 23.

Desde que Boulos, Nunes e Pablo Marçal (PRTB) passaram a travar uma disputa acirrada nas projeções eleitorais pelo cargo, suas intenções de voto têm alternado além da margem de erro em mapeamentos diferentes. Diferenças metodológicas ajudam a explicar o que acontece.

Linha do tempo

Em 18 de setembro, a Quaest mostrou Ricardo Nunes com 24% das intenções de voto, seguido por Boulos, 24%, e Marçal, 20%. Pela margem de erro do levantamento, de três pontos percentuais para mais ou para menos, houve um empate triplo.

No dia 19o Datafolha mostrou o prefeito novamente à frente, com 27%, em empate técnico com o psolista, 26%. Fora da equiparação, o empresário registrou 19%.

Em 20 de setembro, o Paraná Pesquisas mapeou nova vantagem de Nunes, que teve 26,8%, fora da zona de empate com Boulos, que registrou 23,7% das intenções de voto. Com 21%, o candidato do PRTB ficou em terceiro.

Na segunda, 23, foi a vez de Atlas e Real Time divulgarem seus levantamentos. Já nesta terça, 24, a Quaest abriu uma nova rodada de mapeamentos.

Tem método

Embora todos os institutos estejam mapeando cenários para um único cargo e na mesma cidade,  as metodologias empregadas são distintas.

Datafolha, Paraná Pesquisas e Quaest foram a campo para promover pesquisas presenciais, em que os pesquisadores abordam eleitores em pontos de alto fluxo das cidades — caso de Datafolha — ou em suas casas — feito pela Quaest –, e a escolha de responder ou não é voluntária.

Real Time Big Data, por sua vez, optou pela abordagem telefônica não robotizada, em que seres humanos entram em contato com eleitores por ligação e apresentam o questionário.

Já a AtlasIntel adotou o recrutamento voluntário digital, em que eleitores clicam em um anúncio durante seu acesso à internet e se voluntariam a responder às perguntas. Um sistema de segurança impede que o anúncio seja exibido mais de uma vez para cada pessoa.

Em comum

Todos os institutos buscam produzir, em um contingente de entrevistados, uma amostra do eleitorado que vota na eleição em questão. Numa cidade em que 50% dos votantes completaram o ensino fundamental, por exemplo, as pesquisas vão reproduzir essa proporção na seleção de respostas.

Além disso, a obrigatoriedade de registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) faz com que, no máximo cinco dias antes de serem divulgadas, todas as pesquisas eleitorais tenham contas prestadas a respeito de sua contratação, custo para realização, metodologia, período de coleta e plano amostral (dados como gênero, idade e grau de instrução dos entrevistados).

Tem diferença

As discrepâncias encontradas nos mapeamentos de São Paulo se acentuam quando outras capitais são analisadas.

Em Belo Horizonte, Mauro Tramonte (Republicanos) tem liderado de forma sólida as pesquisas Quaest e Datafolha desde o início da campanha, mas marcou 15,3% e ficou a 9,9 pontos do líder Bruno Engler (PL) na edição mais recente da AtlasIntel.

No Rio de Janeiro, o bolsonarista Alexandre Ramagem (PL) registrou 32% no mesmo instituto e, mesmo distante do prefeito Eduardo Paes (PSD, 48,6%), vê outro cenário em relação às demais simulações — no Datafolha de 19 de setembro, teve 17%.

Cada detalhe conta

No guarda-chuva mais amplo, as pesquisas estão separadas entre aquelas que adotam os métodos “tradicionais”, com entrevistas presenciais ou por telefone, e os mapeamentos digitais.

Principal instituto brasileiro a seguir o segundo caminho, o AtlasIntel considera que a ausência de contato entre um pesquisador e o eleitor reduz o viés de interação humana nas respostas. Os participantes não ficam sujeitos ao receio de revelar suas opiniões a um terceiro, por exemplo, nessa concepção.

Fontes no setor das pesquisas qualitativas, no entanto, consideram que o recrutamento digital dá espaço a um eleitor mais engajado, subestimando aqueles que estão alheios às campanhas — mas deverão, obrigatoriamente, votar –, uma vez que depende da iniciativa própria do entrevistado em clicar e responder às questões.

No caso das presenciais, além da presença de pesquisadores em pontos de alto fluxo ou porta a porta das casas, os números podem ser afetados por definições ainda mais minuciosas.

No Rio de Janeiro, por exemplo, a Prefab Future ficou conhecida por enviar entrevistadores às comunidades e áreas consideradas de risco da cidade, onde os demais institutos não adentram. Os pesquisadores recebem treinamentos para chegar a essas áreas e, em alguns casos, são profissionais que moram nas comunidades.

Em 2022, a Prefab foi a mais precisa nas eleições para o governo do estado, ao projetar uma vitória do governador Cláudio Castro (PL) ainda no primeiro turno, com 58,7% — ele foi eleito com 58,67% dos votos. Para a prefeitura da capital, a simulação mais recente do instituto mostrou Paes com 55,2%, contra 14,4% de Ramagem.

O instituto também prioriza assegurar um número mínimo de entrevistados. Nas pesquisas, vale lembrar, há uma conta: quanto mais entrevistados, menor é a margem de erro.

O efeito prático disso é visto no caso da AtlasIntel, que ouviu 2.218 eleitores em seu último mapeamento para a prefeitura de São Paulo — margem de erro de 2,2 pontos percentuais — , superando as 1.500 entrevistas telefônicas da Real Time e presenciais da Paraná, as 1.204 presenciais da Datafolha e as 1.200 presenciais domiciliares da Quaest.

A razão é simples: o custo. Modelos presenciais demandam mais investimento para manter pesquisadores em campo, o que não é uma demanda do recrutamento digital.

Mas há, evidentemente, fenômenos que têm sido estudados pela ciência política, como o “voto envergonhado” e a desconfiança nos institutos. São os casos em que, embora tenha a garantia de anonimato ao responder a uma pesquisa, o eleitor manifesta preferência por outro candidato ou não admite sua legítima intenção de voto.