A rodada mais recente de pesquisas de intenção de voto para a prefeitura de Belo Horizonte consolidou Fuad Noman (PSD), candidato à reeleição, na segunda posição.

No levantamento da Quaest divulgado na quarta-feira, 18, o prefeito registrou 20%, atrás de Mauro Tramonte (Republicanos), 28%, e em empate técnico com Bruno Engler (PL, 16%). Já no Datafolha desta quinta, 19, Fuad teve 18%, empatado com o bolsonarista (16%) e atrás de Tramonte (28%).

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Na campanha de paraquedas

O quadro é diferente daquele que o pessedista enfrentava no início da campanha, quando tinha o trabalho avaliado positivamente por 24% dos eleitores e oscilava entre a quarta e a quinta posições nas principais pesquisas pelo cargo. Então atrás de Carlos Viana (Podemos) e Duda Salabert (PDT), hoje os encara pelo retrovisor.

No final de agosto, Fuad era desconhecido por 41% da população mineira, segundo a Quaest, número alto para um candidato incumbente e decorrente em especial do fato de que herdou a cadeira de Alexandre Kalil (hoje no Republicanos), de quem era vice na eleição passada, em março de 2022, quando o ex-prefeito renunciou para concorrer ao governo — foi derrotado por Romeu Zema (Novo). Desde então, não conseguiu deixar marcas tão visíveis na administração, de acordo com relatos de moradores da capital mineira ao site IstoÉ.

Alexandre Kalil (Republicanos) e Fuad Noman (PSD): antes prefeito e vice de BH, se afastaram na campanha de 2024 | PSD
Alexandre Kalil (Republicanos) e Fuad Noman (PSD): antes prefeito e vice de BH, se afastaram na campanha de 2024 | PSD

Para agravar o cenário, Kalil desembarcou do partido e da campanha do ex-companheiro de chapa e decidiu apoiar Mauro Tramonte, seu principal obstáculo na tentativa de reeleição. Em mais de uma ocasião, o ex-prefeito fez críticas ao sucessor e chegou a acusá-lo de “roubar” os louros de obras começadas por ele.

Na falta de cabos eleitorais — Zema também apoia Tramonte, enquanto o presidente Lula (PT) caminha com Rogério Correia (PL), e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pede votos para Engler —, Fuad regionalizou a disputa, apelando para o voto dos belo-horizontinos menos identificados ideologicamente e em consolidar uma “identidade própria” de sua gestão, nas palavras de Paulo Vasconcelos, seu marqueteiro, em entrevista ao site IstoÉ.

“Nós percebemos em pesquisas internas que, quanto mais conhecido o Fuad fica, mais votos ele ganha. O que precisamos [para reverter esse quadro] foi promover seus dois anos como prefeito e dar mais vigor à campanha”, disse Vasconcelos, que carrega na bagagem campanhas de Aécio Neves (PSDB) e do governador do Rio, Cláudio Castro (PL).

Canais de transmissão

Um dos caminhos citados por um integrante da campanha como “fundamental” para concretizar essa estratégia é a boa dose de tempo de rádio e TV de Fuad: são 2 minutos e 34 segundos a cada bloco (atrás apenas de Engler, que tem 2:43).

Nas propagandas, o incumbente efetivamente se apresenta — em uma delas, eleitores afirmam que ele “usa suspensório” e “tem um nome diferente”, sem identificá-lo claramente —, destaca a continuidade das obras iniciadas por Kalil e evita menções a adversários.

“Nós observamos que as campanhas mais agressivas, no estilo de Pablo Marçal (PRTB, candidato em São Paulo), começaram a derreter. Decidimos adotar a postura de não cair nesse espetáculo e reforçamos a leveza e a propositividade”, afirmou o marqueteiro do candidato, destacando uma peça em que o filme “Kung Fu Panda” foi satirizado para criar o personagem “Kung Fuad” em uma animação que reflete essa tônica.

Em outro programa, o prefeito reconheceu problemas no transporte público sob sua gestão e se comprometeu a adotar a política de “tolerância zero”, com um prazo para interromper contratos com as empresas operadoras de ônibus na cidade. “A ideia é mostrar um homem comum, que admite críticas. Quando ele reconhece que algo está ruim e pode melhorar, esvazia a crítica do outro lado. O eleitor, com toda a franqueza, sabe que o ótimo é inimigo do bom”, disse Vasconcelos.

Caminho pela centro-esquerda

Mas o crescimento nas pesquisas contou ainda com o aumento nas taxas de rejeição de Duda Salabert e Rogério Correia, que chegaram a 39% e 40%, respectivamente, de acordo com a Quaest, extrapolando as medidas da campanha. “A intenção de voto conquistada por Fuad é a mesma perdida por esses candidatos. O voto útil da esquerda no prefeito é um movimento que tende a se consolidar nas semanas finais da corrida”, disse ao site IstoÉ Rudá Ricci, cientista político e presidente do Instituto Cultiva.

“É quase impossível Tramonte não estar no segundo turno e, pelo movimento das últimas pesquisas, há uma tendência do eleitorado dos outros concorrentes a esvaziá-los em direção a Fuad e Engler [atuais postulantes à segunda vaga em intenção de voto]. Ocorre que Engler é muito radical, o que dificulta a adesão de eleitores dissidentes a sua candidatura”, afirmou o especialista.

Mauro Tramonte (Republicanos), líder nas pesquisas pela prefeitura de BH, é citado pelo marqueteiro de Fuad Noman (PSD) como seu "principal adversário" na disputa | Divulgação/Republicanos
Mauro Tramonte (Republicanos), líder nas pesquisas pela prefeitura de BH, é citado pelo marqueteiro de Fuad Noman (PSD) como seu “principal adversário” na disputa | Divulgação/Republicanos

O diagnóstico de Paulo Vasconcelos segue a mesma linha, admitindo que a campanha de Fuad espera receber eleitores que hoje estão com o líder das pesquisas. “Tramonte tem [intenção de] votos da centro-direita, que é o campo do Engler, e da centro-esquerda, que é o nosso campo. O voto do Engler é fundamentado no bolsonarismo, não vamos tirar esse voto de lá. As pessoas vão votar nele porque ele é 22 [número do PL na urna], é antipetista, esse voto não nos pertence. Miramos em votos de um candidato que é muito conhecido, é um Datena local, mas cujas propostas as pessoas ainda não conhecem”, afirmou.

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Na avaliação do estrategista, Fuad herda os votos dissidentes das candidaturas desidratadas porque esses adversários adotam uma postura agressiva. “Ao perder [intenção de] voto, eles apostam ainda mais no ataque, o que gera um aumento de rejeição, como se sabe no marketing político. Os ataques constantes geram uma fadiga de material. O eleitor olha para isso e fala ‘não dá, não aguento mais’, o que gera uma migração”, disse ao site IstoÉ.