Ao menos nove pessoas morreram e quase 2.800 ficaram feridas nesta terça-feira (17) no Líbano, quando os dispositivos de mensagem ‘pager’ de membros do Hezbollah em todo o país explodiram quase simultaneamente, em uma ação atribuída pelo movimento islamista a um ‘ataque cibernético israelense’.

Entre os mortos está o filho de um deputado do Hezbollah, Ali Ammar, disse à AFP uma fonte próxima ao movimento islamista.

Anteriormente, a fonte havia dito que o filho de Hassan Fadlallah, outro legislador do Hezbollah, também tinha morrido, mas em seguida informou que ele não morreu, apesar de ter ficado ferido.

No leste do Líbano, uma menina de 10 anos morreu quando o ‘pager’ de seu pai explodiu, segundo sua família e outra fonte próxima à poderosa organização apoiada pelo Irã.

O embaixador do Irã em Beirute, Mojtaba Amani, ficou ferido no incidente, informou a televisão estatal iraniana, acrescentando que o diplomata está fora de perigo.

Outras 14 pessoas ficaram feridas na Síria devido à explosão de ‘pagers’ utilizados pelo Hezbollah, informou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), uma organização com sede no Reino Unido.

Segundo o Ministério da Saúde, além dos nove mortos confirmados, cerca de 2.750 pessoas ficaram feridas.

O ministro da Saúde libanês, Firass Abiad, afirmou que a maioria das vítimas apresenta ferimentos “no rosto, nas mãos, no abdômen e até mesmo nos olhos”.

Os bips ou ‘pagers’ são aparelhos de comunicação que não precisam de cartão SIM nem de conexão à internet.

– Hezbollah e Hamas acusam Israel –

“O inimigo israelense é totalmente responsável por esta agressão criminosa” e “receberá sem dúvida a sua punição justa”, afirmou o Hezbollah em um comunicado.

O movimento islamista palestino Hamas, no poder na Faixa de Gaza, também denunciou uma “agressão terrorista sionista”, que não faz distinção “entre combatentes da resistência e civis”.

Os Estados Unidos, principal aliado de Israel, “não estiveram envolvidos”, nem “tinham conhecimento deste incidente”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, que apelou ao Irã para evitar ações que possam “aumentar ainda mais as tensões na região”.

“Centenas de membros do Hezbollah ficaram feridos pela explosão simultânea dos seus ‘pagers'” no sul de Beirute, no sul do Líbano e no Vale do Beca, áreas que são redutos do movimento islamista, disse à AFP uma fonte próxima ao grupo libanês.

Um jornalista da AFP no Vale do Beca informou que “dezenas de feridos” foram levados ao hospital. Um correspondente na cidade de Sidon indicou que dezenas de ambulâncias chegaram aos centros de saúde.

No subúrbio ao sul de Beirute, reduto do Hezbollah, os médicos tratavam os feridos no estacionamento de um hospital enquanto moradores doavam sangue.

“Nunca vi nada assim na minha vida”, disse Musa, que mora na região e pediu para ser identificado apenas pelo primeiro nome.

“Eu e minha esposa estávamos indo ao médico e de repente algo explodiu (…) Tinha gente caída no chão, ninguém sabia o que estava acontecendo”, disse.

– Frente libanesa –

As explosões ocorreram poucas horas depois que Israel anunciou que iria estender à sua fronteira com o Líbano os alvos da guerra, até então focada na luta contra o movimento islamista palestino Hamas na Faixa de Gaza.

Desde o início da guerra em Gaza, desencadeada em 7 de outubro de 2023 por uma incursão mortal de comandos do Hamas no sul de Israel, a fronteira com o Líbano tornou-se palco de confrontos de artilharia quase diários entre o Exército israelense e o Hezbollah, um aliado do movimento islamista palestino, que forçou dezenas de milhares de civis de ambos os países a se deslocaram.

Israel anunciou a sua decisão de estender os objetivos de guerra à fronteira com o Líbano para permitir o retorno das pessoas deslocadas.

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, viajará ao Egito na quarta-feira para discutir uma nova proposta de cessar-fogo em Gaza e a libertação de reféns, informou o Departamento de Estado.

Já o chefe da diplomacia europeia, Josep Borell, fez um apelo à “pressão” sobre Israel para alcançar uma trégua.

No ataque de 7 de outubro, os comandos islamistas mataram 1.205 pessoas, na maioria civis, no sul de Israel, segundo um balanço da AFP com base em números oficiais israelenses.

Dos 251 sequestrados durante a incursão islamista, 97 continuam em cativeiro no território palestino, dos quais 33 foram declarados mortos pelo Exército israelense.

Os bombardeios e combates israelenses destruíram grande parte da Faixa de Gaza, causando a morte de pelo menos 41.252 palestinos, majoritariamente mulheres, adolescentes e crianças, de acordo com o Ministério da Saúde desse território governado pelo Hamas.

– Debate na ONU –

A guerra em Gaza também levou a um aumento da violência na Cisjordânia, um território palestino ocupado por Israel desde 1967.

Os Estados-membros da ONU debateram, nesta terça-feira, um projeto de resolução palestino para “colocar fim sem demora à presença ilícita” de Israel nos territórios palestinos, em um “período máximo de doze meses”.

Em julho, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) considerou esta ocupação “ilegal” e instou Israel a “pôr fim a esta situação o mais rapidamente possível”.

A resolução, que possivelmente será votada na quarta-feira, foi recebida com firme rejeição por parte de Israel, que criticou “o circo dos palestinos na ONU”.

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