11/09/2024 - 9:44
Kamala Harris e Donald Trump discutiram sobre imigração, aborto, política externa e a sua visão para os Estados Unidos no seu primeiro debate televisivo para as eleições presidenciais de 5 de novembro.
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O primeiro encontro cara a cara foi mais animado do que o de dois meses atrás, em Atlanta, entre Trump e o presidente Joe Biden, que acabou motivando a desistência do democrata e a entrada de Kamala na disputa.
Veja, a seguir, cinco conclusões principais do debate de terça-feira à noite na Filadélfia.
Combativos apesar das restrições
As regras do debate na ABC News foram pensadas para manter um certo decoro, mas os candidatos entraram em confronto, interrompendo-se em diversas ocasiões e lançando ataques.
Harris atacou Trump sobre seu equilíbrio como presidente (2017-2021), seu estilo vistoso e as “muitas mentiras” que costuma contar.
Usando uma linguagem mordaz, Harris disse que ela e Biden trabalharam para “limpar a bagunça de Donald Trump”.
Acusou o candidato republicano de ter “grande dificuldade em processar” a sua derrota nas eleições de 2020 e, em comentários que enfureceram claramente o magnata, zombou do fato de alguns apoiadores abandonarem os seus comícios antes do fim.
Trump não ficou muito atrás. “Estou falando, se não se importa, por favor”, disse em uma ocasião em que a candidata democrata o interrompeu. Ele fez longas críticas sobre as “insanas” políticas econômicas e de imigração do governo Biden.
Trump frequentemente olhava para o chão e raramente para Harris quando ela falava. Ela virava a cabeça de vez em quando para olhar para ele com sarcasmo.
A batalha sobre o aborto
Os primeiros confrontos foram sobre direitos reprodutivos. Durante o seu mandato, Trump nomeou três juízes conservadores para a Suprema Corte, que enterraram o direito de acesso ao aborto ao anular o caso Roe vs. Wade.
Desde então, muitos estados governados por republicanos aceleraram regras para restringir o direito ao aborto ou proibi-lo.
Trump se parabenizou por ter conseguido devolver o assunto aos estados. “Agora é o voto do povo. Não está vinculado ao governo federal”, disse ele. “Fiz um grande favor ao fazer isso. Tive muita coragem e a Suprema Corte teve muita coragem”, acrescentou.
O republicano repetiu novamente a falsa afirmação de que alguns estados permitem o aborto “provavelmente após o nascimento”.
“É isso que as pessoas queriam? Mulheres grávidas (…) que têm atendimento nas emergências negado porque os profissionais de saúde temem ir para a cadeia?”, contra-atacou Harris, que acusou o seu rival de espalhar um “monte de mentiras” sobre o aborto que “insultam as mulheres”.
Boatos sobre imigração
As afirmações de Trump de que os imigrantes comem os animais de estimação dos americanos foram talvez o ápice de seus boatos.
“Em Springfield, eles comem os cachorros – as pessoas que entram – comem os gatos, comem os animais de estimação das pessoas que vivem lá. E é isso que está acontecendo em nosso país”, disse Trump, retomando um boato propagado desde segunda-feira pelos republicanos e desmentido pelas autoridades a respeito dos migrantes haitianos.
Quando os moderadores do debate afirmaram que as autoridades municipais não encontraram provas de tais crimes, Trump disse que “o pessoal da televisão” havia dito isso.
Duelo sobre política externa
A política externa ficou em grande parte em segundo plano, embora cada candidato tenha aproveitado o debate para atacar a visão do seu oponente e apresentar visões de mundo radicalmente diferentes.
Harris afirmou que Trump é motivo de chacota dos líderes mundiais e alertou que o republicano “entregaria” a Ucrânia ao presidente russo, Vladimir Putin, que por sua vez “comeria vivo” o magnata americano.
O candidato republicano afirmou que “Israel desaparecerá” sob a presidência de Harris. “Ela odeia Israel. Se ela se tornar presidente, não creio que Israel existirá em dois anos”, disse Trump.
A revanche de Biden
Alguns temiam que Kamala Harris vacilasse sob os ataques de Donald Trump. Mas a vice-presidente, claramente bem preparada, soube expor seus argumentos e encurralou Trump, segundo analistas.
“Trump foi terrível e Harris venceu com folga”, disse à AFP Larry Sabato, professor de Política da Universidade da Virgínia. “Ela se vingou da derrota de Biden no primeiro debate”, acrescentou.
“A vice-presidente executou sua estratégia com perfeição, esquivando-se das perguntas do moderador, lançando golpes a Trump e provocando ataques furiosos”, disse o estrategista republicano Liam Donovan.
O professor Julian Zelizer, da Universidade de Princeton, descreveu a “precisão e o planejamento de Harris diante do caos, da raiva e da desinformação de Trump”.