09/09/2024 - 13:26
O opositor Edmundo González Urrutia, rival de Nicolás Maduro nas contestadas eleições de 28 de julho, fez nesta segunda-feira (9) um chamado ao “diálogo” e disse que se exilou na Espanha para que “as coisas mudem”, em uma carta a seus compatriotas após chegar a Madri.
“Apenas a política do diálogo pode fazer com que nos reencontremos”, escreveu o político opositor na carta publicada na rede social X e assinada de Madri, afirmando que sua decisão de ir para o exílio foi para “mudar as coisas” e construir “uma nova etapa para a Venezuela”.
“É um gesto que estende a mão a todos e espero que seja correspondido como tal”, acrescentou o ex-diplomata de 75 anos, um dia após chegar à Espanha com a ajuda do governo de Pedro Sánchez.
“Essa decisão foi tomada pensando na Venezuela e em que nosso destino como país não pode, não deve ser, de um conflito de dor e sofrimento”, afirmou González Urrutia.
Horas antes da publicação da carta, sua equipe de imprensa divulgou uma mensagem de voz prometendo continuar a “luta pela liberdade e pela recuperação da democracia na Venezuela”.
O ministro de Assuntos Exteriores espanhol, José Manuel Albares, afirmou nesta segunda-feira, à rádio Onda Cero, que González Urrutia iria solicitar asilo e que este “será concedido, com certeza”.
“Ele está melhor na Espanha do que indefinidamente na residência do embaixador, em um regime quase de semiclandestinidade, ou nem falemos de uma prisão”, acrescentou Albares, defendendo a decisão do ex-diplomata de partir para o exílio.
Fontes próximas ao político venezuelano explicaram que ele não falará com a imprensa até ser recebido por Pedro Sánchez e Albares, atualmente em viagem oficial à China. O encontro pode ocorrer na próxima quinta-feira.
Albares insistiu que a recepção do político venezuelano não muda a posição de Madri nem foi o resultado de qualquer negociação. “Volto a dizer, de maneira muito clara: não houve nenhum tipo de negociação política entre o governo da Espanha e o governo da Venezuela”.
“Não vamos reconhecer a suposta vitória de Nicolás Maduro”, acrescentou.
A líder da oposição, María Corina Machado, afirmou que a saída da Venezuela do candidato, que assim como ela estava na clandestinidade há quase um mês, foi necessária para “preservar sua liberdade e sua vida” em meio a uma “brutal onda de repressão”.
Antony Blinken, secretário de Estado americano, afirmou no domingo à noite na rede social X que González Urrutia “continua sendo a melhor esperança para a democracia” na Venezuela.
“O governo colombiano lamenta a saída de Edmundo González da Venezuela. Destaca o acordo entre os governos da Espanha e da Venezuela para garantir o asilo político”, afirmou o Executivo do esquerdista Gustavo Petro.
A saída da Venezuela de González Urrutia é o episódio mais recente da crise iniciada com as eleições presidenciais nas quais Maduro foi oficialmente reeleito para um terceiro mandato de seis anos, apesar das denúncias de fraude apresentadas pela oposição.
González, que estava escondido desde 30 de julho, passou um período na embaixada da Holanda em Caracas antes de seguir para a embaixada da Espanha em 5 de setembro.
O candidato opositor reivindica a vitória nas eleições que, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), terminaram com a reeleição de Maduro.
O CNE não divulgou as atas de votação de cada seção eleitoral, como a lei exige, alegando que seu sistema foi alvo de um ataque de hackers.
O horizonte jurídico de González ficou muito complicado nos últimos dias. A Justiça venezuelana, acusada de servir ao chavismo, investiga o candidato pela divulgação de cópias das atas de votação em um site que atribui ao opositor a vitória na eleição presidencial.
Um tribunal com jurisdição para casos de terrorismo ordenou sua detenção em 2 de setembro, por investigações de crimes que incluem “desobediência às leis”, “conspiração”, “usurpação de funções” e “sabotagem”, depois que Urrutia não compareceu a três citações judiciais.
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, disse que a saída de González Urrutia representa o fim de “uma comédia”.
Estados Unidos, União Europeia e vários países da América Latina rejeitaram o resultado anunciado pelo CNE e pediram uma verificação dos votos.
A proclamação da vitória de Maduro, com 52% dos votos, desencadeou protestos em todo o país que deixaram 27 mortos, 192 feridos e 2.400 detidos.
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