Seis anos depois: caso de racismo na FGV é concluído com três condenações e indenização de R$ 100 mil

6 anos depois: caso de racismo na FGV é concluído com três condenações e indenização de R$ 100 mil
Gustavo Metropolo chamou João Gilberto Lima de 'escravo' Foto: Reprodução/Redes sociais

Tanto a Justiça criminal quanto a cível condenaram o ex-estudante da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Gustavo Metropolo por racismo após ele ter chamado o também ex-estudante João Gilberto Lima de “escravo” em um grupo no WhatsApp, em março de 2018.

Por meio de nota enviada ao site IstoÉ, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) informou que houve decisão monocrática em 18 de junho deste ano, com trânsito em julgado no dia 26 de junho.

Além das condenações criminal e cível de dois anos de reclusão e 10 dias-multa, Gustavo foi condenado a indenizar João Gilberto em R$ 100 mil. O caso agora tramita na SJC (Secretaria da Justiça e Cidadania). Ao portal, a secretaria informou que apura os atos discriminatórios e aplica as penalidades, conforme previstas na lei estadual 14.187/2010. “A defesa entrou com recurso, que atualmente está em análise, sob segredo de justiça”, completou a pasta.

O caso

No dia 6 de março de 2018, Gustavo Metropolo publicou em um grupo no WhatsApp uma foto de João Gilberto Lima ao lado de outras duas estudantes brancas e escreveu: “Achei esse escravo no fumódromo! Quem for o dono avisa!”.

Ao saberem desse episódio, professores da FGV interrogaram o então aluno que admitiu ter sido o autor da imagem e da legenda.
Assim que foi informado, João Gilberto, que cursava Administração Pública na mesma instituição, registrou um boletim de ocorrência por injúria racial no 4° Distrito Policial da Consolação.

Durante o interrogatório, Gustavo Metropolo negou a autoria do crime e afirmou que o seu celular havia sido roubado na época.

Mesmo assim, na primeira condenação, a juíza Paloma Assis Carvalho afirmou que a conduta do réu não atingiu apenas um indivíduo, mas sim toda a sociedade.

“Isso porque no contexto em que publicada (foto no grupo de amigos), dentro de uma instituição renomada e voltada a classes abastadas da sociedade, observa-se a intenção de segregar um aluno preto, que não ‘poderia pertencer’ àquele mundo. Além disso, ao dizer que encontrou um ‘escravo’, o acusado objetifica a vítima, dando a entender que ela só poderia estar naquele local acompanhada de seu ‘dono’. Nesse contexto, com a postagem, o autor diminuiu e ofendeu toda a coletividade de pessoas pretas, principalmente, as que frequentavam a faculdade à época dos fatos.”

Em entrevista ao G1, em 2020, João Gilberto disse que “a importância de um caso como esse é estimular as pessoas a irem atrás de fazer a denúncia. Como eu falo, é algo recorrente, que acontece bastante no Brasil, tanto que a mídia agora está trazendo à tona. É importante as pessoas não ficarem caladas e buscarem os seus direitos Eu não tenho pretensão de acabar com o racismo. Infelizmente, eu não tenho esse poder. Racismo não é mais brincadeira, racismo é um crime”.

Ele também ressaltou que permaneceu na instituição e recebeu apoio dos colegas, do diretório acadêmico e da coordenação do curso de Administração Pública.