27/08/2024 - 7:00
José Luiz Datena (PSDB), candidato à prefeitura de São Paulo, e Mauro Tramonte (Republicanos), que concorre ao cargo em Belo Horizonte, têm em comum uma trajetória pregressa de apresentação de programas policiais populares nas duas capitais, o que os faz mais conhecidos do que a atuação política. Mas são as relações com o poder que, até aqui, separam o caminho dos dois apresentadores nas eleições de 2024.
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Saída da TV ensaiada com passos em falso
Por mais de uma década até o dia 29 de junho, Datena, 67 anos, passava mais de três horas diárias no ar na Bandeirantes apresentando o Brasil Urgente, um dos programas de maior audiência da emissora. Ao narrar indignado crimes violentos e problemas no transporte público na capital paulista no horário de final de expediente, o apresentador vociferava temas caros ao eleitorado da cidade.
A trajetória na imprensa, contudo, é mais antiga. Datena começou no rádio, foi locutor esportivo, ganhou prêmios na reportagem e comandou programas policiais também em concorrentes, como a Record. Fidelizou um público no horário a ponto de ser substituído pelo próprio filho, o também jornalista Joel, quando se licencia do Brasil Urgente.
Na política, o caminho é errático. Filiado ao PT por mais de duas décadas, prometeu que seria candidato a prefeito de São Paulo em 2016, pelo PP de Paulo Maluf, mas desistiu com a justificativa de que integrantes do partido foram implicados em denúncias de corrupção pela Operação Lava Jato. Dois anos depois, não seguiu em frente com uma anunciada candidatura a senador pelo extinto Democratas (atual União Brasil).
Em 2020, no MDB, ficou perto de ser candidato a vice-prefeito na vitoriosa chapa de Bruno Covas (PSDB, morto em 2021) na capital paulista, da qual também declinou. Nas eleições de 2022, era pré-candidato ao Senado pelo PSC, até que indefinições quanto à composição da chapa minaram a empreitada.
Datena costuma dizer que foi “sacaneado” nos partidos pelos quais passou, ao contrário do que ocorre agora no PSDB. Mas mesmo a trajetória até esta candidatura teve percalços, já que ele se ofereceu para ser vice de Guilherme Boulos (PSOL), costurou uma aliança com Tabata Amaral (PSB) e, como pré-candidato, sugeriu que poderia desistir da disputa “como Joe Biden”, presidente dos Estados Unidos.
A candidatura acabou oficializada, mas com alguma descrença, oposição interna e sem coligação além da própria federação, que inclui também o Cidadania. Em crise na capital paulista, o PSDB perdeu todos os seus vereadores na janela partidária, em abril, e terá apenas 35 segundos para promover Datena nos blocos de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão.
Desde que ’embarcou’ na corrida, o apresentador reconheceu desempenho ruim nos debates, regrediu nas pesquisas de intenções de voto — registrou 10% no Datafolha divulgado na quinta-feira, 22 — e tem feito menos agendas de rua do que seus oponentes. Em entrevistas, segue sendo questionado sobre a possibilidade de não ter o nome nas urnas em 6 de outubro.
Migração passou por eleição estadual e palanque recheado
Mauro Tramonte, 63 anos, ostenta menos anos de popularidade na televisão mineira. Ele começou no jornalismo em Poços de Caldas, sua cidade natal, mas migrou para o funcionalismo público e só retornou às telas na década de 1990, ainda na cidade do interior do estado, que tem cerca de 168 mil habitantes, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e proporção de reconhecimento diferente de uma capital.
Foi só em 2008 que chegou à rede estadual, ao assumir a transmissão do Balanço Geral, programa policial assim como o Brasil Urgente, mas exibido na hora do almoço pela Record. Em suas versões em diferentes estados — incluindo a mineira –, é uma das maiores audiências da emissora ao repercutir, também de forma enfática, os problemas cotidianos da população, em especial a criminalidade.
Tramonte pediu licença da apresentação no final de maio, antes do prazo legal para se afastar das câmeras, com o objetivo de se dedicar à construção da candidatura à prefeitura de Belo Horizonte, sua primeira majoritária. Mas a trilha política antecede essa etapa.
Filiado ao Republicanos, seu terceiro partido (antes passou por MDB e PPS, atual Cidadania), tornou-se o deputado estadual mais votado da história do estado em 2018, com 516.390 votos. Reeleito em 2022, viu parte de seu eleitorado migrar para bolsonaristas — território político em que o discurso da segurança pública encontra grande ressonância — e perdeu votos, caindo para 110.741.
Em seis anos na Alemg (Assembleia Legislativa de Minas Gerais), alternou altos e baixos na relação com o governo de Romeu Zema (Novo), costurou uma relação com diferentes bancadas e se aproximou especialmente dos setores comercial, cultural e gastronômico do estado — em especial de Belo Horizonte.
Ao se lançar na corrida pela prefeitura da capital, assegurou amplo apoio do Republicanos e de dois adversários que disputaram o governo do estado em 2022: o governador Zema, que indicou a ex-secretária estadual Luísa Barreto (Novo) na vice, e o ex-prefeito Alexandre Kalil (Republicanos), que deixou o PSD do prefeito Fuad Noman e se associou a Tramonte com objetivos eleitorais para 2026.
O amplo palanque tem dado resultados. No último levantamento do Datafolha, registrou 27% das intenções de voto e vantagem robusta em relação a um empate técnico de cinco concorrentes que, dos 7% aos 12%, vieram em seguida.
Notadamente conhecidos da televisão, porém, tanto Datena quanto Tramonte encaram disputas em que as estratégias digitais têm cada vez mais peso. Com 226 mil seguidores no Instagram e quinto colocado no IPD (Índice de Popularidade Digital) entre os candidatos ao comando de BH, o mineiro tem investido na publicação de vídeos curtos. Já o tucano é apenas o quinto mais seguido no Instagram no pleito paulistano (tem 963 mil seguidores), foi quem menos publicou conteúdos na plataforma e já assumiu que não é afeito às redes sociais.