21/08/2024 - 19:32
“Em que mundo as famílias devem suplicar, gritar e chorar pelo retorno de seus familiares, vivos ou mortos? Tragam todos de volta!”, clama Esther Buchshtab diante do túmulo de seu filho, Yagev, sepultado no sul de Israel após o retorno de seu corpo de Gaza.
Na terça-feira (20), o Exército israelense anunciou que recuperou os corpos de seis reféns mortos em um túnel em Gaza.
Nesta quarta-feira, centenas de pessoas se reuniram no cemitério do kibutz Nirim, incluindo parentes de Yagev Buchshtab, de 34 anos, bem como de outros reféns ainda cativos, além de moradores de kibutzim vizinhos.
Em 7 de outubro, o ataque inédito do Hamas em Israel causou a morte de 1.199 pessoas, em sua maioria civis, segundo cálculos da AFP baseados em dados oficiais israelenses.
Nirim perdeu nove de seus habitantes e cinco foram tomados como reféns, dos quais dois foram mortos e sepultados nesta quarta-feira.
Rimon Kirscht, viúva de Yagev, libertada em troca de prisioneiros palestinos durante a trégua no final de novembro, falou com o marido diante de seu caixão coberto pela bandeira israelense, provocando lágrimas nos presentes.
“Querido, quero apenas te pedir desculpas. Você merecia algo muito melhor (…) obrigado por ter me ensinado o amor. Sou sua, estou aqui”, disse ela.
As pessoas se dispersaram rapidamente, pois outro funeral estava começando no kibutz vizinho de Nir Oz.
Nir Oz, cenário de um dos piores massacres de 7 de outubro, também possui o triste recorde do maior número de reféns, mais de 70.
Avraham Munder, de 79 anos, foi sequestrado com sua esposa Routy, sua filha Keren e seu único neto Ohad. Embora os três últimos tenham sido libertados no final de novembro, Munder permaneceu em cativeiro em Gaza.
Anunciado como morto na terça-feira, depois que o Exército encontrou seu corpo junto com outros cinco reféns, ele foi sepultado ao lado de seu filho Roi, morto em 7 de outubro e enterrado provisoriamente em outro kibutz.
Na entrada do cemitério, uma estela menciona os nomes de todas as vítimas de 7 de outubro originárias desse kibutz, onde quase todas as casas foram parcial ou totalmente destruídas.
Uma placa lembra que os corpos de alguns deles ainda estão em Gaza.
De um total de 251 pessoas sequestradas naquele dia, 105 ainda permanecem retidas em Gaza, das quais 34 foram declaradas mortas pelo Exército, incluindo nove habitantes de Nir Oz.
Tami Metzger, ex-refém cujo marido Yoram, de 80 anos, será sepultado na quinta-feira em um kibutz, confessa à AFP que não sabe “o que sente”.
“Me dizem que é um certo alívio, mas não tenho certeza”, diz ela.
Tami passou 53 dias em um túnel em Gaza com seu marido e quatro reféns, cujos corpos foram trazidos na terça.
As intervenções dos familiares de Avraham Munder foram interrompidas por músicas, pois “Munder”, como todos o chamavam, era melômano e cantor amador.
O ex-primeiro-ministro Naftali Bennett e pelo menos dois ministros também estavam presentes.
Entre as muitas pessoas que vieram homenagear os falecidos, várias se indignaram quando o Exército afirmou que estava investigando as circunstâncias da morte dos reféns em Khan Younis.
Nesta quarta-feira, os bombardeios e os tiros que ocorrem em Khan Younis podiam ser ouvidos até nos cemitérios dos kibutzim.
Após mais de dez meses de guerra em Gaza, que causou a morte de 40.223 pessoas, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas, as negociações para um cessar-fogo e a libertação dos reféns continuam travadas.
“Nos prometeram esforços para chegar a um acordo destinado a salvar os que ainda estão vivos e trazer os mortos para enterrá-los”, afirma à AFP Nissan Kalderon, de 56 anos, cujo irmão Ofer, franco-israelense, continua em cativeiro.
Mas “cada dia que passa, novos reféns morrem. Esta é a prova”, diz ele, apontando para o cemitério.
Adriana Adar, de Nir Oz, está “desesperada”: sua sogra foi libertada no final de novembro, mas o corpo de seu sobrinho Tamir Adar ainda está em Gaza.
As pessoas se dispersam, pois os funerais de “Munder” terminaram. Agora começam os de Nadav Popplewell.
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