20/08/2024 - 12:11
O Panamá deportou, nesta terça-feira (20), 29 colombianos com antecedentes criminais que ingressaram no país pela inóspita selva de Darién, ao aplicar pela primeira vez um acordo sobre migração assinado com os Estados Unidos em julho.
“Temos o primeiro voo do convênio financiado pelos Estados Unidos”, disse à imprensa o vice-ministro panamenho de Segurança, Luis Felipe Icaza, acompanhado por funcionários americanos, assim que decolou, ao amanhecer, o voo fretado com os 29 deportados rumo a Bogotá.
Antes de embarcar no avião Fokker 50, o grupo formou uma fila na lateral da pista e cada um foi verificado com detectores de metais. Os 29 deportados, que não transportavam bagagem, foram algemados nos pés e mãos, por isso subiram lentamente as escadas do avião.
Icaza disse que “na sexta-feira ou no sábado” o próximo voo poderá partir no âmbito do memorando que o Panamá assinou com os Estados Unidos em 1º de julho, dia em que José Raúl Mulino tomou posse como novo presidente.
Com o acordo, Washington comprometeu-se a financiar com 6 milhões de dólares (32,5 milhões de reais) a deportação e expulsão do país centro-americano dos migrantes que atravessam Darién, a selva inóspita localizada na fronteira entre a Colômbia e o Panamá.
“O memorando abrange qualquer pessoa, não apenas os criminosos”, disse a responsável de Segurança Interna dos Estados Unidos na América Central, Marlene Piñeiro, que testemunhou o processo de deportação juntamente com outras autoridades americanas e panamenhas.
“Além dos voos fretados, estamos apoiando com voos comerciais” para o retorno dos migrantes a seus países de origem, acrescentou.
O diretor do Serviço Nacional de Migração, Roger Mojica, indicou que “o processo de deportação inclui tanto as pessoas que tem antecedentes penais em seus países de origem como pessoas que entraram irregularmente no país”.
“A pessoa que entra pela fronteira com a Colômbia [o Darién] entra de forma irregular” no Panamá, destacou.
Um dos deportados “sabemos que é um assassino profissional do Clã do Golfo e tem vários casos de homicídio na Colômbia”, disse Mojica.
Segundo as autoridades colombianas, o Clã do Golfo exporta cerca de 700 toneladas de cocaína por ano e está vinculado à mineração ilegal e ao tráfico de migrantes no Darién, embora os seus líderes neguem.
Este é o primeiro grupo de migrantes deportados sob o acordo, embora o Panamá tenha enviado alguns voos fretados para a Colômbia no início deste ano, que transportavam cidadãos desse país com antecedentes criminais.
Durante a campanha eleitoral, Mulino prometeu “fechar” Darién à migração. “A fronteira dos Estados Unidos, em vez do Texas, mudou-se para o Panamá”, afirmou em 16 de abril.
Após assumir a função, Mulino disse que o convênio com Washington levaria a “processos de repatriação de toda esta gente que está aqui aglomerada” na selva panamenha, mas em 18 de julho amenizou suas declarações anteriores ao afirmar que não planejava “repatriá-los à força”, mas de maneira voluntária.
A selva de Darién, com 266 km de extensão e 575 mil hectares de superfície, tornou-se nos últimos anos um corredor para migrantes da América do Sul que tentam chegar aos Estados Unidos.
Mais de 520 mil pessoas atravessaram o local em 2023. Este ano, mais de 230 mil fizeram a travessia, segundo dados oficiais panamenhos.
“A frequência desses voos dependerá muito dos fluxos [de migrantes] e dos trâmites [contatos com os países de destino]”, disse Mojica.
O responsável esclareceu que por enquanto não é possível enviar deportados para a Venezuela, país de onde provém mais de 60% dos migrantes que atravessam o Darién, devido à crise diplomática entre Panamá e Caracas após a questionada reeleição do presidente Nicolás Maduro.
“Estamos impedidos de fazer qualquer movimento para a Venezuela”, disse Mojica, aludindo ao fato de Caracas ter fechado seu espaço aéreo aos aviões panamenhos.
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