O STF (Supremo Tribunal Federal) orquestra, nos últimos anos, uma série de anulações de sentenças da Lava Jato em reação às revelações de irregularidades e excessos nas investigações da operação. O efeito disso é a reabilitação de políticos outrora condenados, que reaparecem nas urnas na tentativa de reconquistar os eleitores.

Nas eleições de outubro, um personagem que não foi condenado, mas se tornou uma figura fundamental da força-tarefa, é candidato a vereador na cidade de Atibaia, a cerca de 60 quilômetros de São Paulo: Élcio Vieira, o “Maradona”.

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Caseiro do sítio

Élcio se tornou caseiro de um sítio na cidade em 2005. O funcionário da propriedade se viu no meio de uma investigação que atingiu o centro da República quando a Lava Jato apurou que ele enviava e-mails a um endereço do Instituto Lula. Nas correspondências, relatava ocorridos do dia a dia do sítio, como o estágio de obras e a morte de animais.

Em junho de 2018, prestou depoimento ao então juiz da força-tarefa e hoje senador, Sergio Moro (União Brasil-PR), em que afirmou que a ex-primeira-dama Marisa Letícia (morta em 2017) cuidava da horta e dos animais do local, que frequentava ao lado de Fernando Bittar — que comprou parte da propriedade por R$ 500 mil e era sócio de um filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). ‘Maradona’ ainda relatou que havia pertences do petista em um anexo construído no sítio.

A investigação sobre o sítio de Atibaia culminou na condenação de Lula, por decisão da juíza Gabriela Hardt — confirmada em 2ª instância –, a 12 anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Em março de 2021, essa e outras sentenças proferidas contra o petista foram anuladas pelo ministro Edson Fachin, do STF, em decisão que foi referendada pelo plenário da corte. Ele recuperou seus direitos políticos e teve o caminho aberto para disputar e vencer as eleições presidenciais de 2022.

Caminho para a política

O caseiro, por sua vez, decidiu se aventurar no caminho da política como candidato a vereador pelo PT, inspirado em Lula, com quem disse ter aprendido muito durante “10 anos de convívio” — período em que o presidente frequentou seu local de trabalho. Élcio segue trabalhando no sítio de Bittar.

“Sempre fui uma pessoa politizada, e vi de perto pessoas que não cometeram crimes sofrerem injustiças”, disse ao site IstoÉ. Questionado, ele afirmou ter concluído que havia uma injustiça em curso justamente quando depôs a Moro. “A Lava Jato foi uma onda política para criminalizar o presidente”, afirmou.

Mesmo tendo relatado à força-tarefa que Marisa Letícia frequentava a propriedade e pedia informações sobre os animais e a horta, Élcio discorda da sentença inicial, que associou o sítio a Lula. “A dona Marisa usava [o local] porque gostava de horta e animais, e o Fernando dava autonomia para ela cuidar disso. Eles eram muito amigos desde a criação do PT, na década de 1980”, disse.

“Meu foco agora é ajudar a construir em Atibaia uma cidade mais justa e inclusiva”, concluiu. ‘Élcio Maradona’, nome que constará nas urnas, declarou ter R$ 206.000 em bens ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), valor que consiste em um carro avaliado em R$ 40 mil, uma motocicleta avaliada em R$ 16 mil e um terreno de R$ 150 mil.