O avião da Voepass que caiu em Vinhedo (SP) na sexta-feira, 9, e matou 62 pessoas, sofreu um dano estrutural em 11 de março deste ano, durante o pouso de um voo de Recife para Salvador. O avião turboélice modelo ATR-72-500 da Voepass teve um choque da cauda do avião com a pista.

Segundo informações do Fantástico, da TV Globo, um relatório oficial também descreveu problemas no sistema hidráulico durante o voo.

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Após o incidente, a aeronave ficou estacionada na capital baiana por 17 dias até voar para Ribeirão Preto (SP), onde passou por consertos na oficina da Voepass.

No dia 9 de julho, o avião voltou a voar comercialmente, no entanto, houve despressurização em uma das viagens e no mesmo dia a aeronave voltou para Ribeirão Preto, onde ficou parado mais quatro dias para reparos.

As atividades comerciais do ATR foram retomadas novamente no dia 13 de julho, até cair em Vinhedo na sexta-feira, 9. Para os especialistas ouvidos pelo Fantástico, o dano estrutural é uma das hipóteses para explicar a queda da aeronave.

As condições climáticas também estão entre as hipóteses mais fortes para explicar a queda do avião. Imagens do acidente mostram a aeronave caindo em um giro vertical, posição chamada no meio da aviação de “parafuso chato”, o que é apontado como principal indicativo de que o acidente ocorreu em razão de uma perda de sustentação, o “estol”.

Segundo especialistas, a perda de sustentação pode estar associada à formação de gelo nas asas do avião. O voo não reportou emergência, de acordo com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

“Toda vez que cai assim é porque a asa perdeu a sustentação. Se os comandos não estivessem travados pelo gelo, ele poderia recuperar. Mas, mesmo assim, em uma queda nessa posição e dependendo do acúmulo de gelo, talvez até um piloto com muita experiência em acrobacia teria dificuldade em sair”, afirmou o diretor do Instituto Brasileiro de Segurança na Aviação, Laert Gouvêa.

Gouvêa disse ainda que o modelo ATR-72 voa em um nível intermediário de altura, o que facilita a formação de gelo sobretudo quando há frentes frias. De acordo com o especialista, a formação de gelo ocorre, em média, a uma altura entre 14 mil pés e 24 mil pés.

“Já houve outros acidentes por causa de gelo com esse modelo de avião. Esse tipo de avião voa num nível mais propenso à formação de gelo. São níveis intermediários (de altura). Nesse nível, tem grãos de gelo muito grandes, isso tanto pode danificar o avião como pode formar um gelo que gruda na aeronave”, afirmou Gouvêa.

De acordo com o especialista, quando o gelo “gruda” no perfil da asa, ela perde a sustentação. Também pode grudar na hélice e fazer com que ela perca rendimento. Conforme Gouvêa, o controle de voo estava alertando os pilotos ontem sobre a possibilidade. “(Sexta-feira) Era um dia atípico com muita formação de gelo em função dessa frente fria de inverno, que é pior”, disse.

Gouvêa destacou que os aviões têm um sistema para fazer um degelo quando há condições adversas, mas em alguns casos a formação é tão grande que o sistema pode não dar conta. Uma das opções é o piloto alterar o nível de altura em que trafega para evitar exposição a essas massas polares.

O diretor do Instituto Brasileiro de Segurança na Aviação afirmou que é preciso esperar a conclusão das investigações para que a causa da queda seja determinada. Caso a hipótese se confirme, as autoridades devem emitir algum tipo de recomendação a respeito.

Caixas-pretas

No domingo, 11, o chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), brigadeiro do ar Marcelo Moreno, afirmou que as caixas-pretas, principal elemento nessas investigações, tiveram 100% dos dados resgatados e preservados, apesar da queda, da explosão e do fogo. Ainda ontem, os destroços do ATR da Voepass começaram a ser retirados do Condomínio Recanto Florido.

“Conseguimos nesta manhã 100% de sucesso em obter as informações de voz e informações de dados que correspondem aos momentos que antecederam esse trágico evento”, afirmou o brigadeiro na frente do local da queda da aeronave.

Segundo o brigadeiro, essa é uma primeira fase da perícia nas caixas-pretas, mas os trabalhos vão continuar em laboratórios de análise e extração de dados de voos do Cenipa, em Brasília. ]

“Os dados foram obtidos, validados e agora aguardamos a continuação da investigação dos nossos técnicos que vão trabalhar na transformação desse número enorme de dados em informação para a sociedade”, disse. A expectativa é de que isso resulte em informações preliminares sobre o que ocorreu, em um prazo de 30 dias.

Segundo Moreno, equipes do escritório de Investigações e Análises para a Segurança da Aviação Civil (Bea), agência francesa que investiga acidentes aéreos, congênere do Cenipa naquele país, estão auxiliando a investigação do acidente. “Seguindo protocolos internacionais dos quais o Brasil é signatário temos o dever de convidar o país responsável pelo projeto e fabricação da aeronave para a investigação, o que trouxe para cá também os técnicos da ATR, empresa fabricante, que estão interagindo com nossa investigação”, afirmou. Também devem vir autoridades do Canadá, país da empresa fabricante de peças da aeronave.

A próxima fase da investigação pelo Cenipa, segundo o brigadeiro do ar, será a retirada dos dois motores que serão levados para o IV Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, no Campo de Marte, na capital paulista. Os motores serão analisados para se ter certeza se no momento do impacto equipamentos estavam desenvolvendo potência.

* Com informações do Estadão Conteúdo