07/08/2024 - 20:15
“Não há evidência” de que o sistema eleitoral da Venezuela foi alvo de um ataque cibernético durante as eleições de 28 de julho, disse à AFP Jennie Lincoln, chefe da missão de observação do Centro Carter, que coincidiu com as projeções de vitória da oposição.
O Centro Carter foi convidado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela para observar o questionado pleito em que o presidente Nicolás Maduro foi proclamado reeleito para um terceiro mandato de seis anos.
O CNE não publicou resultados detalhados e alega que o atraso se deve a um ataque hacker, enquanto Maduro denuncia um “golpe de Estado ciberfascista”.
“Empresas monitoram e sabem quando há negações de serviço [ataques cibernéticos] e não houve um naquela noite”, explicou Lincoln nesta quarta-feira (7), em entrevista em Atlanta, nos Estados Unidos. “A transmissão dos dados de votação é por linha telefônica e telefone satelital, e não por computador. Não perderam dados”, acrescentou.
Lincoln lembrou que o presidente do CNE, Elvis Amoroso, “disse que publicaria os resultados mesa por mesa no site e entregaria um CD aos partidos políticos” quando anunciou seu primeiro boletim.
“É uma promessa que nunca cumpriu”, indicou a assessora do Centro Carter para América Latina e Caribe.
“Apesar de o campo de jogo ter sido bastante desigual, o povo venezuelano foi votar”, acrescentou, em referência às eleições. “A grande irregularidade da jornada eleitoral foi a falta de transparência do CNE e a flagrante inobservância de suas próprias regras do jogo quanto a mostrar o verdadeiro voto do povo”.
O Centro Carter, explicou Lincoln, “analisou os números” disponíveis junto com outras organizações e universidades e “confirma Edmundo González Urrutia como o vencedor com mais de 60%” dos votos.
A oposição publicou em um site cópias de mais de 80% das atas de urna, que garante que comprovam o triunfo de González – representante da líder opositora María Corina Machado – com 67% dos votos. O CNE, por sua vez, deu 43% ao ex-diplomata, e 52% para Maduro.
O chavismo desconsidera a validade desses documentos e garante que foram forjados.
“É puro teatro”, assinalou Lincoln, que preferiu não comentar sobre contatos com as autoridades do CNE ou do governo desde que o Centro Carter estimou, em um pronunciamento público, que a eleição “não se adequou a parâmetros e padrões internacionais de integridade eleitoral” e não poderia “ser considerada como democrática”.
O comunicado só foi publicado quando a missão de observação já estava fora do país.
O chavista Maduro, no poder desde 2013, pediu ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) uma “auditoria” da eleição, e se disse disposto a entregar 100% das atas se for solicitado.
“O governo teve 11, 12 dias… um tempo muito grande para mostrar os dados reais das atas que receberam na noite da eleição”, indicou Lincoln.
O processo legal é considerado improcedente por especialistas e a oposição, que também não confia no TSJ e no CNE por considerar que ambos trabalham para o chavismo. Amoroso sustenta que submeteu ao tribunal as atas de apuração.
A eleição foi questionada por Estados Unidos, União Europeia (UE) e diversos países da América Latina.
Colômbia, Brasil e México, que impulsionam um acordo de convivência entre as partes, sugeriram uma “verificação imparcial dos resultados”.
Lincoln considera que é prematuro comentar sobre a disposição do Centro Carter para participar de uma auditoria desse nível. “Não acredito, sou cética sobre o que uma equipe de verificação internacional poderia fazer que já não tenha sido feito pelas testemunhas, que produziram as verdadeiras atas da noite.”
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