01/08/2024 - 20:46
A Rússia e países ocidentais fizeram nesta quinta-feira (1º) uma troca, com a colaboração da Turquia, de 26 cidadãos, incluindo o jornalista americano Evan Gershkovich, em um dos maiores intercâmbios de prisioneiros desde a Guerra Fria.
Os vinte e seis, incluindo dois menores, foram transferidos para Ancara vindos da Rússia, Estados Unidos, Alemanha, Polônia, Eslovênia, Noruega e Belarus, com base em um acordo que, segundo os serviços de inteligência turcos, levou semanas para ser alcançado.
Dez russos, incluindo dois menores, foram trocados por 16 ocidentais e russos detidos na Rússia, informou a Presidência turca em um comunicado.
Os serviços de segurança russos (FSB) confirmaram que “oito cidadãos russos detidos em vários países da Otan e dois menores” retornaram à Rússia no âmbito deste acordo.
“Quero felicitá-los pelo seu retorno à pátria”, declarou o presidente russo, Vladimir Putin, ao receber o grupo no aeroporto de Vnukovo, em Moscou.
Joe Biden, por sua vez, chamou o pacto de “façanha diplomática”. Familiares emocionados apareceram na Casa Branca junto ao presidente americano, que disse que eles puderam falar com seus entes queridos em uma ligação realizada a partir do Salão Oval.
“Algumas dessas mulheres e homens ficaram presos injustamente durante anos. Todos suportaram um sofrimento e uma incerteza inimagináveis. Hoje, sua agonia terminou”, disse Biden em um comunicado.
De acordo com a Turquia, Biden agradeceu ao seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, em uma conversa telefônica, por “garantir” que a troca “se concretizasse sem contratempos”.
O Kremlin expressou seu “agradecimento aos líderes de todos os países que ajudaram a preparar o intercâmbio”, sem entrar em detalhes, e indicou que Putin concedeu indulto aos prisioneiros liberados no âmbito do acordo.
Biden foi questionado por jornalistas se estaria disposto a conversar diretamente com o presidente russo após a troca. “Não necessito conversar com Putin”, respondeu.
Biden e a vice-presidente Kamala Harris têm previsto receber os prisioneiros libertados na base militar de Andrews, nos arredores de Washington.
Entre os libertados que devem retornar à Rússia está Vadim Krasikov, cidadão russo encarcerado na Alemanha pelo assassinato de um ex-líder separatista checheno.
O governo alemão admitiu que aceitar liberar Karsikov não foi uma “decisão fácil”.
Parte dos libertados na Rússia e Belarus foram enviados à Colônia, na Alemanha, entre eles Rico Krieger, um alemão sentenciado à morte por espionagem e indultado esta semana.
“Muitos temiam por sua saúde e até por suas vidas”, explicou o chefe do governo alemão, Olaf Scholz, que os recebeu no aeroporto.
A ONG Anistia Internacional destacou que o acordo é um sinal de que o presidente russo, Vladimir Putin, “está claramente instrumentalizando a lei para usar prisioneiros políticos como peões”.
Já o alto representante da diplomacia europeia, Josep Borrell, disse que o bloco “se sente aliviado pela libertação e pelo traslado” dos prisioneiros, enquanto o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, expressou “alívio” com a troca.
Havia especulações sobre a iminência de um acordo há vários dias, depois que vários reclusos na Rússia foram transferidos dos locais onde cumpriam prisão, um fato incomum.
Este foi o primeiro intercâmbio de prisioneiros entre Moscou e o Ocidente desde a libertação, em dezembro de 2022, da jogadora de basquete americana Brittney Griner, detida na Rússia por um caso de drogas e trocada pelo famoso traficante de armas russo Viktor Bout, encarcerado nos Estados Unidos.
Em 2010, em um intercâmbio anterior, 14 espiões foram libertados, incluindo a russa Anna Chapman, condenada nos Estados Unidos, e Sergei Skripal, um agente duplo que estava preso na Rússia.
Intercâmbios de prisioneiros de grande magnitude não ocorriam desde 1985 e 1986, último período da Guerra Fria.
Também retornará à Rússia graças ao acordo o repórter espanhol de origem russa Pablo González, que estava detido na Polônia há mais de dois anos por suspeita de espionagem para Moscou, anunciou seu advogado, Gonzalo Boye.
O jornalista, nascido na Rússia, trabalhava para o jornal on-line Público e para a emissora de televisão La Sexta. Ele foi detido pelos serviços de inteligência poloneses perto da fronteira com a Ucrânia, em 28 de fevereiro de 2022, quatro dias após o início da invasão russa.
González, de 42 anos, “volta agora à liberdade após um injusto período de reclusão”, indicou Boye em um comunicado enviado à AFP.
Também se beneficiaram do acordo o ex-fuzileiro naval americano Paul Whelan e os opositores russos Ilia Yashin e Vladimir Kara-Murza, encarcerados por criticar a invasão russa à Ucrânia.
“Estou esgotada. Não acreditávamos e não sabíamos de nada até o último momento”, disse à AFP a mãe de Yashin, Tatiana Yashina.
Outro nome de destaque entre os libertados, Evan Gershkovich, um jornalista de 32 anos, foi detido no final de março de 2023 enquanto trabalhava em Ecaterimburgo, nos Urais, e condenado em julho a 16 anos de prisão por acusações de espionagem, em um rápido julgamento criticado pelos Estados Unidos.
Tanto o repórter quanto seus familiares e a Casa Branca afirmam que as acusações russas não tinham fundamento.
Nesta quinta-feira, o jornal Wall Street Journal, para o qual Gershkovich trabalha, disse estar “muito aliviado” com a libertação.
O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, revelou que também havia sido um planejado um acordo para tentar libertar o opositor russo Alexei Navalny, mas ele “infelizmente morreu” em fevereiro deste ano na prisão.
A ONG Repórteres sem Fronteiras também se declarou “imensamente aliviada” pela libertação de Gershkovich e disse que “a política contínua do governo russo de fazer reféns é revoltante”.
“Os jornalistas não são espiões e nunca devem ser alvos de ataques com fins políticos”, afirmou a ONG em um comunicado.
Washington também trabalhou nos bastidores para conseguir a libertação do ex-fuzileiro naval Paul Whelan, de 54 anos, que também possui nacionalidades britânica, irlandesa e canadense. Ele também havia sido detido por espionagem.
As prisões de americanos na Rússia aumentaram nos últimos anos. Com essa tática, o Kremlin busca, segundo Washington, obter a libertação de russos condenados no exterior.
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