29/07/2024 - 2:30
O presidente esquerdista venezuelano, Nicolás Maduro, foi reeleito para um terceiro mandato consecutivo de seis anos, anunciou a autoridade eleitoral após eleições que, segundo a oposição, estiveram repletas de irregularidades.
Após 25 anos de chavismo na Venezuela, Maduro, de 61 anos e no poder desde 2013, recebeu 5,15 milhões de votos (51,2%), de acordo com o primeiro boletim oficial com 80% dos votos apurados. Ele venceu o opositor Edmundo González Urrutia, que obteve 4,45 milhões de votos (44,2%).
Com isso, Maduro se projeta para permanecer 18 anos no poder, até 2031. Apenas o ditador Juan Vicente Gómez terá governado mais que ele, com 27 anos (1908-1935).
Em um palco dentro do palácio presidencial de Miraflores, grupos musicais o receberam com canções em sua homenagem, diante de centenas de militantes. Todos vestiam jaquetas esportivas com a frase “Ganhou meu galo pinto”, em referência ao apelido com o qual o mandatário se identificou nos últimos meses: um galo forte, de briga, para se contrastar com González, a quem ele pintava como fraco.
“Vamos Nico, vamos Nico!”, gritavam.
Seu rival González, de 74 anos, era o representante da carismática e popular líder opositora María Corina Machado, impedida de se candidatar devido a uma inabilitação política.
O resultado foi divulgado seis horas após o encerramento da votação, em meio a denúncias da oposição de irregularidades na apuração. Primeiro porque seus observadores foram impedidos de acessar os centros de votação para presenciar o processo, e depois porque não puderam obter cópias das atas emitidas pela máquina de votação (o sistema é automatizado), às quais, por lei, os partidos têm direito e que servem para cotejar o resultado oficial.
A oposição também denunciou a prisão de cerca de 150 pessoas ligadas à campanha, 37 delas nos últimos dois dias.
A maioria das pesquisas favorecia a oposição, após anos de uma crise que contraiu o Produto Interno Bruto (PIB) em 80% e forçou ao êxodo mais de sete milhões de pessoas, segundo dados da ONU.
A coalizão Plataforma Unitária Democrática (PUD), que se uniu contra Maduro após se abster das eleições de 2018 por considerá-las fraudulentas, ainda não se pronunciou sobre o resultado.
Elvis Amoroso, o presidente do Conselho Nacional Eleitoral, alinhado ao governo, denunciou uma “agressão contra o sistema de transmissão de dados que retardou” a contagem.
Maduro também se referiu a um “hackeio” do sistema eleitoral automatizado, ao sair para celebrar com os apoiadores que o esperavam no palácio presidencial de Miraflores.
“Posso dizer diante do povo da Venezuela e do mundo: sou Nicolás Maduro Moros, presidente reeleito da República Bolivariana da Venezuela”, declarou desde o palco, onde estava acompanhado por sua esposa Cilia Flores e outros dirigentes chavistas.
“Haverá paz, estabilidade e justiça. Paz e respeito à lei”, enfatizou.
Foram chamados a votar cerca de 21 milhões de pessoas, em uma população de 30 milhões, mas os especialistas estimam que apenas cerca de 17 milhões que estão na Venezuela e não migraram poderiam votar. O voto não é obrigatório.
A participação foi de 59%, segundo Amoroso.
Maduro havia colocado esta eleição como uma encruzilhada entre “paz ou guerra” e advertiu que um triunfo da oposição poderia levar a um “banho de sangue”, o que lhe rendeu críticas dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do Chile, Gabriel Boric, entre outros.
Boric disse que o anúncio dos resultados deveria “ser transparente, oportuno e refletir integralmente a vontade popular expressa nas urnas”.
Os Estados Unidos, que impulsionaram a eleição com um alívio das sanções que impuseram em 2019 após desconsiderarem a reeleição de Maduro no ano anterior, pediram igualmente que o governo da Venezuela “garantisse a transparência do processo”.
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, exigiu nesta segunda-feira (29) uma recontagem “justa e transparente”.
“Chamamos as autoridades eleitorais a publicar a recontagem detalhada dos votos para garantir a transparência e a prestação de contas”, indicou Blinken em um comunicado.
Participam das eleições uma pequena delegação do Centro Carter, que indicou não ter capacidade de realizar uma “avaliação integral do processo de votação, contagem e tabulação”, como tinha previsto fazer a União Europeia, excluída como observadora no final de maio.
Um painel de quatro especialistas da ONU também acompanha a votação, embora seu relatório seja confidencial e só será compartilhado com o secretário-geral António Guterres.
bur-nn/jt/lbc/zm/fp/yr/ic/am