Gilmar manda soltar Eike por ‘constrangimento ilegal’

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu na noite de ontem pedido de liberdade apresentado pela defesa de Eike Batista. O empresĆ”rio estĆ” preso em Bangu, no Rio, desde janeiro, quando foi deflagrada a OperaĆ§Ć£o EficiĆŖncia, um desdobramento da Calicute, que levou Ć  prisĆ£o o ex-governador SĆ©rgio Cabral (PMDB). Eike Ć© acusado de corrupĆ§Ć£o e lavagem de dinheiro. Pela decisĆ£o de Gilmar, ele deverĆ” cumprir outras medidas restritivas em substituiĆ§Ć£o Ć  prisĆ£o.

A decisĆ£o liminar do ministro, que cita “constrangimento ilegal” ao empresĆ”rio, foi dada na mesma semana em que a Segunda Turma do STF decidiu revogar duas prisƵes da Lava Jato e libertar o pecuarista JosĆ© Carlos Bumlai e o ex-tesoureiro do PP JoĆ£o ClĆ”udio Genu, ambos condenados em primeira instĆ¢ncia pelo juiz SĆ©rgio Moro. Nos dois casos, o relator da OperaĆ§Ć£o Lava Jato no Supremo, ministro Edson Fachin, foi voto vencido na Segunda Turma, da qual Gilmar faz parte.

No inĆ­cio do ano, Gilmar afirmou que o Supremo tinha um “encontro marcado com as alongadas prisƵes que se determinam em Curitiba”, em referĆŖncia Ć s decisƵes Moro.

No caso de Eike, cujo mandado de prisĆ£o foi expedido pelo juiz Marcelo Bretas, responsĆ”vel pelos desdobramentos da no Rio, Gilmar citou no despacho a gravidade dos supostos crimes cometidos pelo empresĆ”rio e o “sofisticado esquema para ocultaĆ§Ć£o” da origem do dinheiro, apontado nas investigaƧƵes. Ele considerou, no entanto, que os fatos foram cometidos entre 2010 e 2011 e, portanto, “consideravelmente distantes no tempo da decretaĆ§Ć£o da prisĆ£o”.

Eike foi denunciado pelo MinistĆ©rio PĆŗblico Federal sob acusaĆ§Ć£o de pagar propina a Cabral. Segundo os investigadores, foram feitos repasses por meio de operaƧƵes financeiras no exterior que somam US$ 16,5 milhƵes, alĆ©m de simulaĆ§Ć£o de prestaĆ§Ć£o de serviƧos do escritĆ³rio de advocacia de Adriana Ancelmo, mulher do ex-governador.

“O fato de o paciente ter sido denunciado por crimes graves – corrupĆ§Ć£o e lavagem de dinheiro -, por si sĆ³, nĆ£o pode servir de fundamento Ćŗnico e exclusivo para manutenĆ§Ć£o de sua prisĆ£o preventiva”, escreveu Gilmar. Ele tambĆ©m destacou que a conduta supostamente criminosa de Eike estaria ligada Ć  atuaĆ§Ć£o de um grupo polĆ­tico “atualmente afastado da gestĆ£o pĆŗblica”.

O ministro do STF lembrou de decisĆ£o do Supremo que soltou o empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, e outros executivos da Lava Jato. “Muito embora graves, os crimes apurados na OperaĆ§Ć£o Lava Jato foram praticados sem violĆŖncia ou grave ameaƧa”, escreveu o ministro em sua decisĆ£o.

CombinaĆ§Ć£o

Eike tambĆ©m Ć© suspeito de tentar atrapalhar as investigaƧƵes ao realizar reuniĆ£o para “combinar versƵes” com seus defensores e com um assessor, FlĆ”vio Godinho, tambĆ©m preso na OperaĆ§Ć£o EficiĆŖncia. Os advogados do empresĆ”rio alegam, no entanto, que as reuniƵes serviam para “traƧar estratĆ©gia de defesa”.

Para Gilmar, o debate sobre a possibilidade de combinaĆ§Ć£o de versƵes Ć© recorrente no JudiciĆ”rio e uma resposta final sobre o assunto ainda serĆ” dada futuramente. No caso do empresĆ”rio, o ministro afirmou que se passou um ano entre a suposta reuniĆ£o e a prisĆ£o, sem indicativos de outras tentativas de obstruĆ§Ć£o das investigaƧƵes.

“Dessa forma, o perigo que a liberdade do paciente representa Ć  ordem pĆŗblica ou Ć  instruĆ§Ć£o criminal pode ser mitigado por medidas cautelares menos gravosas do que a prisĆ£o”, afirmou o ministro do Supremo, indicando que o juĆ­zo competente pelo caso deverĆ” analisar a possibilidade de medidas restritivas, como o uso de tornozeleira eletrĆ“nica e eventual recolhimento domiciliar.

SĆŗmula

Na decisĆ£o, Gilmar entendeu nĆ£o ser aplicĆ”vel uma sĆŗmula do STF invocada em muitas decisƵes relacionadas Ć  Lava Jato. Pelo entendimento da Corte, o Supremo nĆ£o pode julgar habeas corpus que jĆ” esteja em anĆ”lise por outro tribunal superior. Uma das hipĆ³teses para ignorar a sĆŗmula, segundo Gilmar, Ć© que hĆ” “constrangimento ilegal” com a manutenĆ§Ć£o da prisĆ£o.

Eike Batista jĆ” teve habeas corpus negado pelo Tribunal Regional Federal da 2.ĀŖ RegiĆ£o (TRF-2) e pela ministra Maria Thereza de Assis Moura, do Superior Tribunal de JustiƧa (STJ) – que nĆ£o esgotou a anĆ”lise do caso de forma definitiva.