O prazo para as convenções partidárias começou no último sábado, 20 de julho, e vai até 5 de agosto. Até agora, três candidaturas à Prefeitura de São Paulo foram oficializadas: Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Nunes (MDB) e Marina Helena (Novo). Cada um já definiu seus candidatos a vice: Marta Suplicy (PT) com Boulos, Mello Araújo (PL) com Nunes, e Coronel Priel (Novo) com Marina.

As estratégias das campanhas variam: enquanto Marina Helena optou por uma chapa puramente do Novo, Boulos e Nunes formaram coligações. Ricardo Nunes conta com o apoio de MDB, PL, PSD, Republicanos, PP, Podemos, Solidariedade, PRD, Agir, Mobiliza e Avante, com a possível adesão do União Brasil. Por sua vez, Boulos tem o respaldo de PSOL, PT, PDT, Rede, PCdoB, PV, PCB e PMB.

O psolista, que inicialmente liderava as primeiras pesquisas de opinião, agora encontra-se numericamente atrás de Nunes, embora ainda em um empate técnico. Na visão do cientista político Leandro Consentino, essa oscilação não implica necessariamente em uma perda de protagonismo. Por outro lado, em que pese o fato de que Boulos esteja adotando um tom mais moderado, seus principais concorrentes estão posicionados mais à direita. Este cenário, aliado ao contexto histórico e às alianças formadas, pode colocar Boulos em desvantagem em um possível segundo turno, avalia o especialista.

“O Pablo Marçal e até mesmo o Datena, que está mais ao centro, pontuam e podem sinalizar uma tendência do eleitorado de que, em um possível segundo turno, não vá para a esquerda mais extrema que o Boulos representa no PSOL. Acho que essa é a grande dificuldade de Boulos, que tem perdido terreno nas simulações de segundo turno”, explica. “Será necessária uma estratégia para ampliar o arco de alianças para partidos mais ao centro, e não sei se Guilherme Boulos conseguiria isso visto que ele representa muitas forças políticas ligadas à esquerda”.

Por meio de nota enviada ao site IstoÉ, a campanha de Guilherme Boulos afirmou que “Amor por São Paulo é a maior coligação de uma candidatura progressista que a cidade de São Paulo já viu”, visto que, além dos oito partidos, conta com movimentos sociais e da sociedade civil. “Somos muitos setores da sociedade e temos ao nosso lado pessoas de todas as religiões, trabalhadores, empresários, empreendedores, estudantes, professores, artistas e moradores do centro e das periferias. Todos juntos para impedir o avanço do bolsonarismo em São Paulo, em aliança do atual prefeito com a extrema-direita”, concluiu.

Ensaio para 2026

No intuito de conseguir o apoio de Guilherme Boulos nas eleições presidenciais de 2022, Lula abriu mão de ter um candidato do PT como cabeça de chapa na disputa pela administração da maior cidade do país, pela primeira vez na história do partido. Enquanto isso, o ex-presidente Bolsonaro, principal figura da oposição, aposta na reeleição de Nunes para ter o emedebista como cabo eleitoral da capital mais importante do país.

O embate entre representantes do petismo e do bolsonarimo, além rememorar 2022, sugere também que a eleição em São Paulo pode servir como um ensaio para 2026. Além disso, por sua importância histórica e sua grande influência no cenário político como um todo, as disputas na capital paulista dificilmente conseguem escapar da nacionalização, conforme explica o cientista político e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Eduardo Grin.

“Só a cidade de São Paulo tem mais habitantes que Portugal, é uma Bélgica inteira, quase duas Dinamarcas ou duas Noruegas. Por isso ela é chamada de ‘joia da coroa’, porque quem está na presidência não gostaria de ter, na principal cidade do país, um opositor e, por sua vez, quem está na oposição gostaria de ter condição de bater de frente com o principal governador do país, que é o do estado de São Paulo, ganhando a prefeitura”, explica Grin.

Já Leandro Consentino ressalta que é a partir das eleições municipais que os partidos conseguem traçar estratégias e construir alianças para o pleito nacional. Além disso, a vitória dos partidos em determinadas cidades faz com que tenham controle de máquinas públicas relevantes no cenário geral.

“Alguma legenda ou força política, por exemplo, que conseguir a administração da cidade de São Paulo terá sob seu comando dois ativos bem importantes: a publicidade e o poder econômico que essa prefeitura detém. E, assim, pode posicionar candidatos ao governo do estado e até mesmo para a Presidência da República”.