19/07/2024 - 16:48
Um ataque com drone reivindicado pelos rebeldes houthis do Iêmen, um movimento apoiado pelo Irã, contornou o sistema de defesa israelense e deixou uma pessoa morta nesta sexta-feira (19) em Tel Aviv, no contexto da guerra travada entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza.
O Exército israelense afirmou que um drone capaz de “percorrer grandes distâncias” foi utilizado no ataque. O dispositivo foi detectado, mas “um erro humano” fez com que os sistemas de interceptação e defesa não fossem ativados, explicou um oficial militar em coletiva de imprensa.
“De acordo com os primeiros elementos da investigação e conclusões preliminares, trata-se de um drone de fabricação iraniana” que “acreditamos ter sido lançado do Iêmen”, afirmou o contra-almirante israelense Daniel Hagari.
O Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, prometeu retaliar “de forma decisiva e surpreendente” os responsáveis pelo ato.
Os houthis, aliados do Hamas, reivindicaram o ataque e afirmaram que utilizaram “um novo drone chamado ‘Jafa’, capaz de driblar os sistemas de interceptação do inimigo e indetectável pelos radares”.
A explosão atingiu um prédio próximo a um anexo da embaixada dos Estados Unidos, conforme constatou um jornalista da AFP.
Um homem na faixa dos 50 anos foi “encontrado morto em seu apartamento”, informou a polícia, especificando que ele foi atingido por estilhaços.
“Eu acordei porque os tremores pareciam os de um Boeing 747 se aproximando”, relatou à AFP Kenanth Davis, um israelense que estava em um hotel em frente ao prédio atingido. “Tudo explodiu no quarto.”
Os houthis, que controlam parte do Iêmen, têm realizado ataques há meses contra navios no Mar Vermelho e no Golfo de Áden, alegando solidariedade aos palestinos em Gaza.
Anteriormente, eles reivindicaram ataques contra a cidade israelense de Eilat, às margens do Mar Vermelho, mas a ação desta sexta-feira foi a primeira confirmada contra a metrópole de Tel Aviv.
Os rebeldes do Iêmen ameaçaram tornar essa cidade um “alvo principal” de futuros ataques, e seu porta-voz militar, Yahya Saree, afirmou que “é uma zona não segura”.
O ataque em Tel Aviv ocorreu mais de nove meses após o início da guerra entre Israel e o movimento islamista Hamas na Faixa de Gaza, que tem inflamado a situação no Oriente Médio.
A União Europeia condenou “firmemente” o ataque “indiscriminado” dos houthis, e o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse estar “profundamente preocupado” com “o risco de uma nova escalada na região”.
Os houthis fazem parte do chamado “eixo da resistência”, hostil aos Estados Unidos e a Israel, juntamente com o Irã, o regime sírio, o movimento libanês Hezbollah, o Hamas e a Jihad Islâmica palestina, além das milícias xiitas do Iraque.
Desde o início da guerra em Gaza, Israel tem trocado tiros quase diariamente com o Hezbollah em sua fronteira norte.
O Exército israelense informou nesta sexta-feira que cerca de “65 projéteis” lançados do Líbano atravessaram o território de Israel, mas ninguém ficou ferido.
O atual conflito na Faixa Gaza eclodiu em 7 de outubro de 2023, quando milicianos do Hamas e outros grupos palestinos mataram 1.195 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo um levantamento baseado em dados oficiais israelenses.
O Exército israelense estima que 116 pessoas permaneçam em cativeiro em Gaza, incluindo 42 que estariam mortas.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva que já matou mais de 38.848 pessoas em Gaza, também civis em sua maioria, de acordo com o Ministério da Saúde do território palestino governado pelo Hamas.
As negociações de cessar-fogo estão paralisadas há vários meses, mas o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, afirmou nesta sexta-feira que as conversas estão próximas da “linha de chegada”, embora haja “questões a serem resolvidas”.
Em Gaza, várias testemunhas relataram confrontos entre combatentes palestinos e soldados israelenses.
Tiros de artilharia foram ouvidos em Tal al Hawa, um bairro da Cidade de Gaza, ao norte da Faixa, e vários corpos e feridos foram levados para um hospital de Deir al Balah após bombardeios no campo de refugiados de Nuseirat, no centro.
Quase todos os 2,4 milhões de habitantes de Gaza foram obrigados a se deslocar desde o início da guerra, segundo a ONU.
Em um contexto de crescente pressão internacional devido ao custo humano do conflito, a Corte Internacional de Justiça (CIJ), o principal órgão judicial da ONU, decidiu nesta sexta-feira que a ocupação israelense dos territórios palestinos é “ilegal” e deve terminar “o mais rapidamente possível”.
A Autoridade Palestina chamou essa decisão não vinculante de “histórica”, enquanto o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a considerou uma “mentira”. Já o Hamas instou a comunidade internacional a “tomar medidas imediatas para encerrar a ocupação”.
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