17/07/2024 - 5:00
Astro do Palmeiras no início dos anos 90, Zinho chegou à Copa do Mundo dos Estados Unidos embalado por títulos, jogando em alto estilo e com a missão de dividir a armação da seleção brasileira de Carlos Alberto Parreira com o camisa 10 Raí, depois com Mazinho, que ganhou a vaga. O então camisa 9 acabou com um duro apelido de “enceradeira” pelas apresentações nos campos dos Estados Unidos e não escondeu a mágoa por muitos anos. Hoje, 30 depois da conquista, revela que as cobranças e ofensas fazem parte do passado, revela que desempenhou uma função diferente naquela competição e se mostra um “privilegiado” pela “conquista de um grupo”.
Em papo descontraído com o Estadão para relembrar aquela conquista, Zinho garante que a conquista nos pênaltis (3 a 2), diante da Itália, após 0 a 0 no tempo normal e na prorrogação no Rose Bowl, na Califórnia, veio pela importância de todos. Em sua visão, a estrela do tetracampeonato foi a seleção brasileira.
“Quem foi o cara da final? Não foi o Romário, o Bebeto, o Taffarel que defendeu as bolas, o Aldair que salvou, eu que dei passe para o gol… E sim o adversário que chutou o pênalti para fora. Negativamente, acabou sendo o Baggio, mas positivamente o tetra foi do nosso grupo, do conjunto. A estrela foi a seleção brasileira. E isso marcou muito. Foi a vitória da união, de um coletivo, de todo mundo abrir mão de alguma coisa em prol para depois de 24 anos ser campeão do mundo.”
Aos 57 anos, atualmente comentarista nos canais ESPN, Zinho não esconde uma promessa/profecia de sua mãe, Moyseslita, quando ainda era uma jovem criança e desapareceu ao sair correndo atrás de um balão em Petrópolis (RJ). Ela se ajoelhou no meio da rua e, com as mãos aos céus, garantiu que seu pequeno menino defenderia a seleção caso aparecesse.
“Quem diria que uma promessa de mãe se tornaria realidade com alguém de apenas três anos?”, indaga o jogador, ao lembrar do episódio. “Não tem coisa mais importante que uma mãe. A minha acreditou, disse que eu ia aparecer, ‘vamos achá-lo e vê-lo jogando um dia na seleção’. A oração foi tão poderosa que terminou com o tetra. Não só joguei como fui campeão”, afirma, emocionado.
“Foi o maior título da minha carreira. E olha que eu ganhei 29 (oficiais). Sou privilegiado por ser um dos 94 campeões do mundo com o Brasil, sendo 65 vivos”, diz, mostrando-se bem informado sobre a história da seleção brasileira.
Apesar do orgulho e da satisfação, Zinho sempre tem de falar sobre o desempenho pessoal naquele Mundial. E explica por qual motivo não rendeu o mesmo do apresentado no Palmeiras, onde anotava gols e distribuía diversas assistências – apesar de atuar os sete jogos da Copa do Mundo, acabou passando em branco nos quesitos.
“Era uma seleção na qual o coletivo era o mais importante destaque. Eu não joguei na Copa na mesma função que fazia no Palmeiras. Tinha de ajudar bastante na marcação. Imagine em uma decisão, eu deixar Albertini e Baggio livres? Os caras acabariam com o jogo”, explica. “Joguei pelo grupo e sou um campeão orgulhoso.”
O ex-jogador garante que ainda mantém contato com a maioria dos companheiros do tetracampeonato. Mesmo com os que não vivem no Brasil, como por exemplo Taffarel, residente nos Estados Unidos. No Rio, se encontra sempre com Bebeto e Jorginho, as famílias visitam as casas dos jogadores. Todos usam o lema que adotaram durante a campanha do título no começo das conversas: “amigos para sempre”, adotado após um vídeo do técnico Carlos Alberto Parreira.
“É bom dia, boa noite amigos para sempre. Até hoje a gente fala isso. Não cito o nome de um, cito o nome do nosso lema. A gente não se fala todo dia, não se vê sempre, não dou beijo neles todo dia, mas somos amigos para sempre.” O clima festivo para o jogador nos Estados Unidos começou antes mesmo de a bola rolar, ao fazer aniversário concentrado.