Quando desembarcou nas telas, em 2014, “Guardiões da Galáxia” provou que super-heróis de segundo escalão também podiam alavancar bilheteria (no caso, US$ 773 milhões). Embora fossem conhecidos apenas pelo filão nerd, os guerreiros excêntricos do selo Marvel caíram nas graças do público, por seguirem na contramão dos heróis pomposos. Imprimindo humor, eles desafiaramo gênero, abrindo caminho para o autodepreciativo “Deadpool” (2016), o politicamente incorreto “Esquadrão Suicida” (2016) e outros.

“Quis dar à plateia algo novo e diferente do que eles estavam acostumados a ver nesse universo”, contou James Gunn, diretor do original e da continuação, “Guardiões da Galáxia Vol. 2”, em cartaz no Brasil desde quinta-feira, dia 27. Agora que a Marvel já não leva seus heróis tão a sério, graças justamente ao sucesso de “Guardiões”, o cineasta se sentiu ainda mais à vontade para quebrar as regras. “Assim como o espectador se surpreendeu com o primeiro filme, o mesmo acontecerá aqui”, disse Gunn, durante o lançamento da sequência, em Los Angeles.

O vilão da história foge da mesmice vista no mundo dos super-heróis, com o inimigo dos mocinhos quase sempre raso e mal-escrito. Ego, interpretado por Kurt Russell, é um avanço nesse sentido, mostrando-se mais complexo e, de quebra, muito divertido. Assim que ele se apresenta aos guardiões como o pai biológico de Peter Quill, o Senhor das Estrelas (Chris Pratt), impossível não se deixar seduzir por esse sujeito afetado (seu nome já diz tudo). O planeta suntuoso em que ele vive é uma manifestação de sua personalidade narcisista, algo que se revelará destrutiva ao longo da trama.

“Inicialmente você até pode prometer a si mesmo que não fará nada idiota ao conhecer um ícone, alguém que você admira muito antes de ele ouvir falar de você”, afirmou Chris Pratt, ao recordar o primeiro encontro com Russell no set de filmagem. “Mas não reconhecer o fato de eu ser seu fã, para tirar isso logo do caminho, teria sido pouco autêntico da minha parte. Então fiz isso imediatamente.”

Depois que Ego se infiltra no grupo, a trama segue com ênfase no desenvolvimento dos personagens e não apenas na ação, o que é mais comum no gênero. Enquanto Quill começa a desvendar os mistérios de seu passado, Gamora (Zoe Saldana) tenta restabelecer o vínculo com a irmã Nebulosa (Karen Gillan), Yondu (Michael Rooker) se mostrará ser mais que um pirata espacial e Drax (Dave Bautista) encontrará uma possível parceira. Rocket, o guaxinim de pavio curto dublado por Bradley Cooper, e o adorável bebê Groot (com voz de Vin Diesel) ganham mais espaço aqui, após conquistarem o público no original.

“O que fiz foi deixar os personagens serem eles mesmos, permitindo que eles tomassem o rumo que quisessem”, disse Gunn, que acumula a função de roteirista na franquia – com um terceiro filme já anunciado. “As continuações geralmente não dão certo por tentarem fazer a mesma coisa que o original fez. Em vez de seguir por aí, a ideia aqui é deixar os personagens crescerem e mudarem. Queremos vê-los se tornarem pessoas diferentes a cada filme”, completou o diretor.