09/07/2024 - 11:06
A atleta Kimia Yousofi garante que nos Jogos Olímpicos de Paris representará “os sonhos roubados e aspirações” de todas as mulheres afegãs após o retorno do Talibã ao poder em seu país em agosto de 2021.
A velocista, especialista nos 100 metros rasos, foi porta-bandeira da delegação afegã em Tóquio-2020, mas depois fugiu de seu país para escapar da perseguição dos talibãs no poder em Cabul.
Ela é uma das cinco atletas, ligadas ao movimento olímpico, que receberam autorização para viajar à Austrália, acompanhadas de suas famílias, um ano depois.
“É uma honra representar novamente as garotas do meu país. Meninas e mulheres que foram privadas de direitos básicos, incluindo a educação, que é o mais importante”, declarou a atleta de 28 anos através do Comitê Olímpico Australiano, país onde reside como refugiada.
“Represento os sonhos roubados e as aspirações destas mulheres. Aquelas que não têm autoridade para tomar decisões como seres humanos livres”, insistiu.
A delegação afegã em Paris-2024 será formada por três homens e três mulheres. Os homens competirão no atletismo, natação e judô, enquanto as mulheres participarão do atletismo e ciclismo.
Estes atletas foram selecionados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) em consulta com o Comitê Olímpico Afegão, cuja maioria dos membros está em exílio.
Apenas o judoca continua vivendo em seu país e a delegação participará com as cores (preto, vermelho e verde) da antiga república afegã, derrubada pelo Talibã. Também será reproduzido o hino original do país antes dos talibãs chegarem ao poder, em 2021.
O COI não credenciou qualquer representante do governo talibã. O regime reiterou na segunda-feira que não reconhece Yousofi e as outras duas atletas como representantes do país nos Jogos.
“Apenas três atletas representarão o Afeganistão”, declarou o porta-voz talibã, Atal Mashwani, referindo-se aos três atletas do sexo masculino.
Os talibãs têm uma interpretação muito rígida do Islã que priva as mulheres de direitos. Elas são excluídas não só dos esportes, mas de muitos espaços públicos, da educação e também de determinados empregos.
As Nações Unidas consideram estas restrições como “apartheid de gênero”.
O COI já excluiu o Afeganistão dos Jogos Olímpicos em 1999, durante o primeiro período do Talibã no poder (1996-2001), quando as mulheres já eram proibidas de praticar esportes.
O país asiático foi readmitido quando os talibãs foram afastados do poder após uma invasão liderada por tropas americanas na sequência dos ataques de 11 de setembro.
Paris-2024 são as primeiras Olimpíadas organizadas desde que o Talibã voltou ao poder. Nesta ocasião, o COI abordou a situação de forma diferente, dando luz verde a uma equipe afegã para garantir que todos os 206 países estarão representados, com atletas que não teriam se classificado de outra forma.
O australiano John Quinn será o treinador de Yousofi, anunciou o Comitê Olímpico Australiano.
Quinn elogiou a afegã que participará de seus terceiros Jogos Olímpicos, por considerá-la uma “inspiração para seus colegas de treino”.
“Desde que chegou aqui, ela melhorou muito tecnicamente na pista e tem uma grande equipe ao seu redor”, disse o treinador.
“Mas se você levar em conta também tudo o que ela teve que fazer, o treinamento, um novo idioma, trazer a família e tudo mais, é incrível. Sem dúvida, seus esforços inspiraram seus companheiros de equipe. Agora ela estará mais uma vez no cenário mundial em Paris”, concluiu.
O Afeganistão, que possui o terceiro maior contingente de exilados do mundo, também será representado por cinco atletas na equipe olímpica de refugiados (EOR), entre eles a ciclista Masomah Ali Zada, que será capitã da delegação.
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