A estudante de veterinária Carolina Arruda Leite, de 27 anos, que vive em Bambuí (MG) – cidade que fica a cerca de 265 quilômetros de Belo Horizonte (MG) – compartilha nas redes sociais a sua rotina com neuralgia do trigêmio bilateral, uma doença que gera uma dor descrita como uma das “piores que existem”, e abriu uma arrecadação no intuito de sair do País para realizar eutanásia, prática proibida no Brasil, em que se proporciona a morte indolor para aliviar sofrimento de doença incurável ou dolorosa de um paciente.

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Em sua página da vaquinha, Carolina contou que começou com os sintomas há 11 anos e, desde então, passou por diversos tratamentos e quatro cirurgias. “Tentei farmacológicos incluindo anticonvulsivantes, analgésicos opióides e antidepressivos. Infelizmente, nenhum desses procedimentos trouxe o alívio esperado e, atualmente, minha condição é considerada refratária”, relatou a mulher.

Antes de desenvolver a enfermidade debilitante, a paciente queria seguir uma carreira que permitisse a ela ajudar os animais. “Eu era uma pessoa cheia de energia e com muitos sonhos”, apontou Carolina, acrescentando que a dor tirou sua capacidade de cumprir sua rotina e transformou seus dias em uma “luta contínua”.

Neuralgia do Trigêmeo

De acordo com Vinícius Boaratti Ciarlariello, neurologista do Departamento de Pacientes Graves do Hospital Israelita Albert Einstein, a doença é caracterizada por dores excruciantes na região da face que seguem o trajeto de um nervo conhecido como trigêmeo, que vai da orelha ao meio do rosto e está presente nos dois lados da cabeça. “Ela (dor) definitivamente é uma das piores que existem e têm caráter de choque ou queimação, acontecendo diversas vezes ao longo do dia”, explica o médico.

No caso de Carolina, por ser bilateral, a enfermidade afeta os dois lados da face.

Segundo o especialista, as crises podem ser desencadeadas por movimentação da boca ao falar ou comer, presença de alimentos gelados, ato de escovar os dentes e até por um toque na face. “Não há uma causa única para esta condição, podendo ser secundária a uma série de outras doenças”, pontua Boaratti.

Segundo o médico, pode haver um conflito neurovascular em que um vaso sanguíneo entra em contato direto com o nervo e causam disparos similares a um curto-circuito. As causas também podem incluir lesões no trigêmeo ou em alguma parte do cérebro, doenças inflamatórias de meninges e nervos e doenças autoimunes como a Esclerose Múltipla.

Diagnóstico

“O diagnóstico da doença é clínico e deve ser feito através de consulta médica com neurologista, associado a investigação complementar de exames de imagem do cérebro e, em alguns casos, com coleta de líquido cefalorraquidiano [fluido que ocupa parte do encéfalo]”, explica Boaratti, acrescentando que qualquer neurologista pode realizar o diagnóstico, mas determinados pacientes podem necessitar de um especialista em dor.

Tratamento

De acordo com o neurologista, a doença não é curável na maioria dos casos, mas as dores do paciente podem ser controladas a partir de medicamentos ou cirurgias. Apesar disso, não é incomum pessoas com a condição voltarem a ter tais sensações intensas em algum momento futuro.

“De forma geral, o tratamento se baseia no uso de medicamentos contínuos que controlam o disparo inapropriado do nervo e as vias centrais da dor”, esclarece Boaratti, acrescentando que procedimentos cirúrgicos podem ser realizados para tentar controlar a enfermidade. “É importante salientar que os pacientes submetidos a cirurgias ainda podem continuar com dor, e que não os faria necessariamente deixar de usar medicamentos.

Realidade com a dor

Na sua página da arrecadação, Carolina relatou que, durante crises de dor, já tentou suicídio duas vezes, devido a intensidade da sensação. “Infelizmente, a depressão que eu enfrento é decorrente de anos vivendo com dores crônicas e, por isso, não pode ser curada”. Segundo a mulher, a doença é tão severa que se torna impossível realizar tarefas diárias simples ou manter relacionamentos.

Depois de todas as opções médicas se esgotarem, Carolina optou por realizar a eutanásia. Entretanto, o procedimento só poderia ser realizado na Suíça. “A estimativa é que o total necessário, incluindo os custos de viagem e médicos, ultrapasse os R$ 150 mil”, explicou a mulher.

Até o momento de publicação desta reportagem, Carolina havia angariado R$ 31 mil.

**Estagiário sob supervisão