Dissidentes da extinta guerrilha colombiana das Farc põem em xeque a realização em Cali da COP16 sobre a biodiversidade deste ano. O aumento dos atentados a bomba e ataques armados perto da cidade, realizados por insurgentes, acenderam os alertas das autoridades locais.

A cinco meses da conferência da ONU, prevista de 21 de outubro a 1º de novembro, vereadores de Cali advertiram que o evento está “em risco” pela escalada de violência dos insurgentes, que só na semana passada mataram quatro pessoas e feriram mais de uma dezena na região.

Os departamentos do Vale do Cauca, do qual Cali é a capital, e Cauca, ambos no sudoeste do país, se tornaram o centro operacional dos dissidentes das Farc que não aderiram ao acordo de paz de 2016.

O governo enviou cerca de 6.000 militares para a região desde a semana passada para tentar frear a onda de violência.

Um dos municípios afetados foi Jamundí, a cerca de 18 km de Cali, onde uma motocicleta carregada com explosivos foi detonada.

Em Morales, cerca de 80 km ao norte de Cali, um posto policial foi destruído com rajadas de tiros e explosivos, em uma cena similar aos ataques da antiga guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) na década de 1990 e começo deste século.

Apesar da ameaça latente, o governo do presidente esquerdista Gustavo Petro assegura que o grande encontro internacional para avançar na proteção da riqueza ambiental do mundo está mantido.

“Por enquanto, mantemos o propósito da COP, mas obviamente estamos avaliando muito de perto a situação e esperamos poder superar todas as situações, entendemos que o contexto não é fácil”, disse à AFP a ministra do Ambiente, Susana Muhamad.

– “Às portas se Cali” –

Após a investida, alguns vereadores de Cali manifestaram, durante uma sessão, que a sede da COP16 “está em risco” se continuarem “os atentados terroristas registrados na região”, onde há milhares de hectares de narcocultivos, o combustível do conflito.

Em 16 de abril, o governo informou que o indivíduo apelidado de ‘Iván Mordisco’, comandante da dissidência autodenominada Estado Mayor Central (EMC), havia se distanciado do processo do paz que começou no fim de 2023.

Dez dias antes, quando já corriam boatos de sua saída da mesa de negociações, seus homens detonaram explosivos perto do Quartel Militar Pichincha, em Cali, o mais importante do sudoeste do país.

A dissidência “estava anunciando que já estava às portas de Cali, que sua expansão é real” e “que estava buscando chegar a estes territórios urbanos”, assegura Mónica Castillo, coordenadora do escritório do Pacífico da Fundação Paz e Reconciliação (Pares).

O prefeito da cidade, Alejandro Eder, admite que se tratam de níveis de violência “não vistos há cerca de cinco ou dez anos”.

– Em definitivo? –

“Francamente, não posso acreditar que estamos neste ponto outra vez”, disse Eder à emissora La FM, em alusão à deterioração da segurança oito anos depois da assinatura do acordo que desarmou o grosso das Farc. A oposição culpa o governo por não ter firmeza com os dissidentes.

“O que está acontecendo no sudoeste da Colômbia é inaceitável (…) Estão revivendo fenômenos como o recrutamento de menores, é preciso buscar um agir contundente da força pública”, acrescentou o prefeito, que espera receber cerca de 12.000 visitantes de todo o mundo durante a COP entre diplomatas, expositores e turistas.

No Vale do Cauca e em Cauca estão semeados quase 29.000 hectares de folhas de coca, componente ativo da cocaína, segundo um balanço da ONU de 2022.

Para a analista Castillo, os atentados são uma demonstração da disputa pelo território, além do desafio ao Estado por parte de Iván Mordisco: “Foi dizer, ‘Bom, não estamos negociando, mas nos expandimos'”, afirmou.

Após a investida das dissidências, o comandante das Forças Militares, general Helder Giraldo, prometeu “não permitir” que “estes grupos terroristas encurralem” os colombianos.

O prefeito Eder antecipou que vai solicitar um reforço de 2.000 militares para a cidade e afirmou que não “se discutiu” a possibilidade de tirar de Cali a sede da COP16.

Questionada sobre essa eventualidade, a ministra Muhamad respondeu: “Não há nenhuma decisão a respeito”.

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