28/05/2024 - 11:02
Quando Adrián Pérez vai pescar, passa por sua antiga escola: um prédio destruído pelo mar, que engoliu a comunidade onde cresceu, no estado mexicano de Tabasco (sul).
El Bosque é considerada pelo Greenpeace a primeira região vítima do aquecimento global, em um país que apela ao vencedor das eleições presidenciais de domingo por medidas para amenizar a erosão costeira e a crise hídrica.
Diversas casas estão sob as águas do Golfo do México devido ao aquecimento dos oceanos e ao derretimento do gelo nas áreas marítimas e terrestres.
Muros e cisternas testemunham que havia uma comunidade pesqueira com cerca de 700 pessoas no local.
Com temperaturas de 40ºC, Tabasco é um dos estados mais atingidos pela onda de calor que afeta atualmente 80% do México, com 48 mortes desde março. Oito vítimas eram da região, onde dezenas de macacos também morreram.
Esta situação agrava a crise hídrica em diversas regiões, incluindo a metropolitana da capital, com 22 milhões de habitantes e temperaturas recordes.
A disponibilidade média anual de água per capita no México caiu 68% de 1960 até agora, segundo uma análise do Instituto Mexicano de Competitividade. Estima-se que até 2030 a queda seja de 70%.
O caso de El Bosque foi analisado em fevereiro em uma audiência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) sobre deslocados climáticos, enquanto o Congresso de Tabasco aprovou a relocalização da cidade.
Boa parte da escola onde Adrián estudou está soterrada. A poucos metros de distância, algumas famílias construíram casas feitas com lâminas de zinco.
Mas o jovem de 24 anos tem consciência de que o avanço do oceano é incontrolável. “O clima está nos destruindo, o mar está pedindo o que é seu”, diz em tom profético.
O presidente em final de mandato, o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, optou pelos combustíveis fósseis – responsáveis pelo aquecimento global – em detrimento da energias limpas para alcançar a “autossuficiência energética”.
A cerca de 80 km de El Bosque, em El Paraíso, seu governo construiu uma refinaria que processará 340 mil barris de petróleo bruto por dia.
Também comprou uma refinaria no Texas (Estados Unidos) e lançou a construção do Trem Maia, projeto turístico criticado por devastar florestas e contaminar rios subterrâneos na Península de Yucatán (sudeste).
São necessárias “medidas para fechar gradualmente algumas refinarias porque são muito obsoletas, altamente poluentes ou porque devem ser reformadas”, diz Boris Graizbord, pesquisador do Colégio de México.
Para mitigar os danos ambientais, o governo está plantando um milhão de hectares de árvores, o que considera o maior plano de reflorestamento do planeta.
Especialistas como Pablo Ramírez, coordenador do programa sobre clima e energia do Greenpeace México, estimam que o país “não possui uma política pública capaz de enfrentar os graves impactos provocados pela mudança climática que tendem a piorar”.
Doutora em engenharia ambiental, Claudia Sheinbaum, candidata do governo e favorita nas eleições do próximo domingo, promete manter o “resgate” da endividada petroleira estatal Pemex, mas também investir cerca de 13,6 bilhões de dólares (70,3 bilhões de reais na cotação atual) em energia limpa.
“Vamos promover a transição energética”, afirma Sheinbaum, que foi membro do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima da ONU(IPCC), que venceu o Prêmio Nobel da Paz em 2007.
Sua adversária de centro-direita e segunda nas pesquisas, Xóchitl Gálvez, propõe fechar as refinarias de Nuevo León e Tamaulipas (norte) e que a Pemex produza energia limpa.
“Precisamos acabar com nosso vício em combustíveis fósseis”, diz.
Porém, estas promessas não convencem Cristy Echeverría.
Sua casa começou a desabar em 2022. Teve tempo de pegar apenas alguns pertences antes de fugir.
“Não somos responsáveis por tudo o que está acontecendo, mas estamos pagando. Somos os primeiros e não seremos os únicos”, diz.
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