O ex-deputado federal e atual presidente da Embratur, Marcelo Freixo, comentou a delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa no caso da vereadora Marielle Franco. Em entrevista à ISTOÉ, Freixo afirmou confiar na Polícia Federal (PF) e se referiu ao executor da vereadora como “psicopata e homicida”.

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“O que causa estranheza é saber que um psicopata, homicida como ele, esteve tanto tempo na polícia, matou tanta gente e nunca respondeu por nenhum crime. O caso da Marielle é a primeira vez que ele [Ronnie Lessa] vira réu, isso é que surpreende. Eu confio bastante no trabalho da Polícia Federal. É evidente que delações premiadas têm de ser acompanhadas por provas, mas a história tem conexão com a realidade. A milícia realmente sempre teve incômodos com os trabalhos que nós fizemos ao longo dos anos, eu convivo com ameaças desde 2008. E é muito grave perceber essa catástrofe do Rio de Janeiro”, declarou.

“A Polícia Federal foi decisiva. Durante quase cinco anos a Polícia Civil esteve ‘não investigando’, tentando direcionar o inquérito, trocando delegados, era muita obstrução, muita destruição de provas. A PF, quando assume, consegue a delação e soluciona o caso”.

Em trechos da delação exibidos domingo pelo Fantástico, da TV Globo, o miliciano afirmou que os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, apontados como mandantes do crime, ofereceram a Lessa um loteamento em Jacarepaguá, zona oeste carioca, para a exploração de serviços em troca da morte de Marielle Franco. Segundo Lessa, o lucro estimado do ex-policial seria de US$ 20 milhões (cerca de R$ 100 milhões).

Em outro trecho, Lessa atribui aos irmãos Brazão a ordem para executar Marielle Franco. Segundo o miliciano, ela era “uma pedra no caminho” à expansão de negócios da milícia.

Os irmãos Brazão estão presos desde o final de março. Além deles, também cumpre pena o delegado Rivaldo Barbosa, nomeado chefe da Polícia Civil do Rio (PCERJ) em 13 de março de 2018, um dia antes do assassinato de Marielle e Anderson, e apontado como responsável pela obstrução das investigações.

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Na delação à PF, Lessa conta que os mandantes chegaram a citar o então deputado estadual Marcelo Freixo (PT) como possível alvo do grupo político. Outros nomes do PSOL também foram mencionados.

À ISTOÉ, Freixo disse receber ameaças desde que presidiu a CPI das Milícias em 2008, e ressaltou a importância da Marielle no grupo de parlamentares que combatiam o poder paralelo no Rio de Janeiro.

“A CPI levou à prisão mais de 200 líderes de milícias e moldou a opinião pública. Eu sempre enfrentei esse grupo, eu entrei na Justiça contra a indicação [de Domingos Brazão, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ)], enfrentamos os governos Cabral e Pezão como oposição, sempre houve enfrentamento. O que não pode é você fazer oposição e correr risco de morte por causa disso. Pensar diferente é um processo da democracia. Isso tudo é muito grave. A polícia deixa claro: a Marielle era uma figura importante nesse grupo [de combate às milícias], uma vereadora eleita que incomodava tanto pela sua atuação política quanto pelo o que ela representava.”

Cassação de Chiquinho Brazão

O deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) responde a um processo no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados que pode levar à sua cassação. A tendência é que o inquérito ainda leve alguns meses até a conclusão.

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Nesta segunda-feira, 27, a defesa do deputado pediu que ele seja transferido da Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, para a Penitenciária Federal de Brasília, mais conhecida como Papuda, para viabilizar a participação do parlamentar nas sessões da Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. 

Atual presidente da Embratur, Freixo não cumpre mais mandato como deputado federal, mas afirmou ter expectativa de que Brazão seja cassado pela Casa.

“Espero que os deputados tenham consciência de que um parlamentar que responde a esse crime não tem a menor condição de representar a sociedade brasileira no parlamento. Torço para que seja cassado”.