Jeniffer Nascimento, 30 anos, surpreendeu os seguidores no Instagram, no último final de semana, ao revelar ter sofrido uma forte reação alérgica após comer um prato com lagosta. A atriz e cantora gravou um vídeo direto do hospital no sábado, 11, em que mostrou o seu rosto inchado, e fez um alerta aos seguidores.

A artista destacou que nunca havia tido nenhuma reação a frutos do mar, mas que aquela havia sido a primeira vez que comia o crustáceo após o nascimento de sua filha, Lara, no dia 13 de dezembro último.

No vídeo, Jeniffer disse ter tido uma crise de espirros e que sentiu o olho inchar. Ela aproveitou para aconselhar a buscar ajuda ao primeiro sinal de que algo não está bem com o corpo. 

Para entender o que pode ter acontecido com a artista, a IstoÉ Gente conversou com a médica alergista, especialista em alergia alimentar, *Dra. Lucila Lopes de Camargo, coordenadora do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia – ASBAI

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A especialista explica que reações alérgicas provocadas por frutos do mar não são diferentes daquelas provocadas por outros alimentos, o que pode dificultar a identificação do alimento causador da alergia.

“As reações alérgicas a frutos do mar são muito parecidas com a de outros alimentos, então pode ter rapidamente inchaços pelo corpo, chamados de angioedema: inchaços no lábio, olho, pode ter tosse, falta de ar, placas vermelhas pelo corpo e, eventualmente, sintomas respiratórios, fechamento da glote. Pode ter também sintomas gastrointestinais, diarreia e vômitos”, alerta a alergista.

Os sintomas podem ocorrer logo após a ingestão, mas podem demorar um tempo para se manifestarem. 

“Algumas pessoas manifestam sintomas mais tardios, de menor gravidade, cursando mais com um quadro de diarreia horas depois, mas os sintomas mais graves são aqueles imediatos, que acontecem minutos, até duas horas após a ingestão do alimento, que foi como aconteceu com essa atriz”, observa a médica alergista.

Apesar do perigo das alergias provocadas por crustáceos, é preciso ter em mente que uma pessoa pode ter a determinados alimentos, e não sentir qualquer reação ao ingerir outros. Para saber os frutos do mar que se deve evitar, o recomendado é realizar exames.

“As reações são parecidas entre diferentes frutos do mar, mas o que a gente deve lembrar é que às vezes a pessoa que é alérgica a camarão, lagosta, pode ser que ela consiga tolerar polvo, lula. Portanto, a avaliação deve ser realizada pelo especialista em Alergia Imunologia, que fará um levantamento da história clínica, muito importante para o diagnóstico correto. Às vezes a avaliação precisa de testes auxiliares diagnósticos e, eventualmente, um chamado teste de provocação oral, que é quando a gente dá o alimento para o paciente e vê se ele tem reação”, explica a coordenadora, destacando que o processo deve ser realizado sempre sob supervisão médica em ambiente controlado para o caso de o paciente apresentar reação grave.

Sinais de alerta!

É preciso estar atento a tudo o que a gente come e verificar o comportamento do nosso corpo após a ingestão. Qualquer alteração pode exigir atenção especial e até mesmo demandar atendimento médico.

“Os principais sinais de alerta para uma reação alérgica grave é a dificuldade respiratória e a perda de consciência, colapso, atingindo a parte cardiovascular. Outra questão seria a presença de sistemas múltiplos acometidos ao mesmo tempo. Então, quando a pessoa tem vômitos e diarreia (sintoma gastrointestinal acometido), acompanhado de quadro de pele   como placas vermelhas pelo corpo e inchaços, isso também já configuraria uma gravidade maior à reação. Quando tem mais de um sistema acometido ou quando tem o respiratório, a falta de ar e o cardiovascular isolados, eles podem também indicar uma certa gravidade da reação”, orienta a médica alergista.

Tratamento

O principal tratamento contra reação alérgica alimentar é simples e sem mistério: evitar o contato com o alimento alergênico.

“Obviamente, se a pessoa já teve esse contato e desencadeou a reação, a primeira coisa que a gente faz, se possível, é tirar o contato. Todo paciente com alergia alimentar deve ter prescrito pelo seu médico um plano de ação para reações inadvertidas. Então, a depender do grau da reação, esse plano é estabelecido, podendo ser desde antialérgicos até dispositivo autoinjetável de adrenalina para os casos de reações alérgicas graves. Esses   pacientes devem carregar esse dispositivo para caso tenha algum sinal de gravidade, faz-se a aplicação da adrenalina e busca-se o serviço de emergência imediatamente.

Aos que esperam se verem livres da alergia com o passar do tempo, a Dra. Lucila Lopes joga um banho de água fria. Um detalhe é que as alergias a frutos do mar tendem a ser persistentes. É muito raro a pessoa adquirir tolerância naturalmente ao longo da vida. Apenas cerca de 20% evoluem com a aquisição de tolerância natural quando se passa um tempo, garante ela.

“Não é recomendado tomar antialérgico e ingerir o alimento para esses pacientes, pois   pode suscitar reações graves e o antialérgico mascarar os primeiros sinais de uma reação alérgica importante”, alerta.

Plano de ação

Quem tem alergia precisa estar sempre atento aos meios de buscar socorro e ficar prevenido caso ocorra uma urgência.

“Em caso de uma reação alérgica grave, se a pessoa tem um plano de ação, é preciso utilizar os medicamentos do plano de ação, aplicar adrenalina, que é o medicamento de escolha para reações alérgicas graves e buscar o serviço de emergência imediatamente. Caso a reação alérgica curse com uma perda da consciência, que pode acontecer, instruímos que o paciente explique para toda a família e amigos como aplicar o dispositivo   autoinjetável de adrenalina, porque às vezes é necessário que uma segunda pessoa o faça e não o próprio paciente.” 

Na reação alérgica grave também buscar o serviço de emergência, chamar o SAMU ou transportar o paciente para o serviço de emergência imediatamente. Como a pressão diminui, colocar a pessoa em uma posição que fique com as pernas mais elevadas e, se a respiração permitir, colocar a pessoa com a cabeça mais para baixo do que as pernas para aumentar o fluxo sanguíneo para a cabeça e o coração. Chame imediatamente o serviço de emergência”, orienta a médica especialista.

Alergia na fase adulta

Nem toda alergia se manifesta ainda na infância. Muitas delas somente começam a aparecer já na fase adulta, como é o caso dos dos frutos do mar, de acordo com a alergista.

“Com frutos do mar, é comum o surgimento de alergia mais na fase adulta. São indivíduos que consumiam o alimento anteriormente sem qualquer reação e passam a reagir a partir de um determinado ponto da vida. Isso acontece por uma quebra da tolerância, num processo que a gente chama de tolerância imunológica, que é um processo ativo que o sistema de defesa reconhece aquilo que é benéfico do que é maléfico e aí ele acaba reconhecendo erroneamente o alimento como um agressor e passa a reagir a esse alimento.”

“Vários fatores podem estar determinados na quebra desse processo de tolerância, desde modo de vida, predisposição genética e ingestão de ultraprocessados, mudanças que interferem no nosso microbioma, que são as bactérias saudáveis que nos habitam. Então várias questões podem estar associadas com essa quebra de barreira que separa o nosso intestino do meio externo e que é importante para esse reconhecimento do que é benéfico e do que não é maléfico. O uso de alguns medicamentos também pode favorecer reações alérgicas, como por exemplo o uso de antiácidos, que a proteína chega mais intacta para o sistema de defesa do organismo. Então vários fatores podem contribuir para o desenvolvimento de uma alergia alimentar, bem como a susceptibilidade genética dos indivíduos.’

Cerca de 20% de quem têm alergia a frutos do mar evoluem para um quadro de tolerância natural, com o passar do tempo.

“Evitando o alimento alergênico alérgico e passando em consulta com o médico alergista imunologista para reavaliação de teste de provocação oral para confirmar se o paciente está apto a ingerir o alimento novamente com segurança”, aconselha a especialista.

*Dra. Lucila Lopes de Camargo (CRM 109012 SP) é médica alergista, especialista em alergia alimentar, coordenadora do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia – ASBAI e professora adjunta da disciplina de Alergia, Imunologia Clínica e Reumatologia do Departamento de Pediatria da UNIFESP-EPM.