10/04/2017 - 16:38
A ideia de um “Museu da Merda” pode soar nojenta. Mas em Castelbosco, nos campos italianos, o projeto não tem nada de repugnante, visto que se trata de transformar as fezes em algo de muito valor.
Tudo nasceu em uma grande granja no sul de Milão (norte), a partir das suas centenas de vacas que produziam montanhas de bosta.
“Tínhamos que tirar proveito desses excrementos dos animais, e de forma ecológica. Ao final conseguimos transformá-los em algo útil”, conta à AFP o proprietário da fazenda, Gianantonio Locatelli, de 61 anos.
Seus 3.500 bovinos produzem diariamente 55 toneladas de leite para a fabricação do tradicional queijo Grana Padano, um dos mais apreciados da Itália.
Menos nobre, os animais produzem também 150 toneladas de esterco, uma verdadeira dor de cabeça.
Locatelli resolveu o desafio com um sistema engenhoso: as fezes são coletadas e introduzidas em biodigestores, enormes tanques onde as bactérias transformam tudo que é orgânico em gás metano. O cheiro do laboratório é realmente desagradável.
Este metano serve para alimentar motores e gerar eletricidade, que a granja aproveita para vender a particulares. Atualmente, produz o equivalente ao consumido por um povoado de entre 3.000 e 4.000 habitantes.
– “Merdacotta”, uma argila secreta –
A água utilizada para arrefecer os motores do tratamento, que sai a uma temperatura de 100 graus, permite garantir calefação a toda a fazenda no inverno e manter os 40 graus necessários para o funcionamento dos biodigestores.
Uma parte do estrume vai ser comercializada como fertilizante nos supermercados, adiantou Locatelli, que não quis revelar os custos de toda a operação.
Outra parte do esterco restante é utilizada para criar uma série de objetos, como louças e outras peças de uso cotidiano.
O “Merdacotta” (literalmente “merda cozida”) vem de uma mistura de esterco com argila da Toscana, com um toque “secreto”. Tijolos, telhas, vasos, pratos e jarras…. os objetos são rústicos e elegantes.
“Trata-se de um produto revolucionário, entre o plástico e a terracota”, aponta Locatelli, que utiliza como símbolo um besouro, inseto imprescindível para a natureza por adubar a terra e controlar os parasitas.
A coleção assinada Merdacotta foi premiada no ano passado pelo Salão do Design de Milão, por sua ideia louca de “transformar a merda em algo divertido”.
– Um museu original –
Fundado em 2005, o museu dedicado à merda exibe várias obras de arte que se inspiram no tema ou que foram realizadas com pinturas fabricadas com merda líquida.
O local presta homenagem, entre outros, ao filme “O fantasma da liberdade” de Luis Buñuel, onde a escala de valores entre alimentos e banheiros é invertida.
Projetado com o arquiteto Luca Cipelletti, o museu reflete a personalidade de Locatelli, que estudou agronomia no Canadá, conheceu Andy Warhol em Nova York e é um colecionador de arte conceitual.
“É a minha forma de agradecer à merda”, diz Locatelli.