Cientistas do Instituto Butantan, em São Paulo, descobriram que a cobra-cega produz “leite materno” e tem filhote que emite som, como se fosse um “choro”, para pedir alimento. O estudo sobre o caso foi publicado na Revista Science.

Os pesquisadores constataram que as espécies ovíparas (que se reproduzem e nascem por meio de ovos, assim como as cecílias vivíparas (cujo embrião se desenvolve no interior do corpo da mãe), desenvolvem glândulas nas paredes do oviduto (canal que permite a passagem dos ovos do ovário para fora do corpo do animal), que produzem uma substância viscosa e transparente, expelida pela cloaca, que alimenta os filhos fora do corpo da mãe.

A amamentação é frequentemente vista como um atributo exclusivo dos mamíferos. Porém isso no reino dos anfíbios ovíparos, como as cecílias, isso é considerado inexistente, tornando a descoberta mais notável.

A análise do “leite materno” mostrou que a substância é rica em carboidratos e ácidos graxos, uma composição semelhante à encontrada no leite dos mamíferos. A espécie de cobra-cega produz essa secreção diversas vezes ao dia para os filhotes ingerirem.

Durante esse processo, os filhotes disputam espaço ao redor do orifício cloacal para obter o alimento. Além disso, os pesquisadores notaram que os filhotes produzem sons para pedir o “leite materno”. Essa comunicação está relacionada à escuridão do ambiente em que esses animais vivem.

O estudo focou no cuidado das cecílias, especificamente da espécie Siphonops annulatus, que vive no sul da América do Sul. Os animais possuem olhos tão pequenos que são praticamente cegos e habitam, principalmente, no subsolo. Os cientistas acompanharam o período de gestação, nascimento e cuidados parentais do animal.